Um de nós está de volta
Segredos sempre vêm à tona, por mais que se tente escondê-los. Portanto: que tal embarcar em um novo jogo, ainda mais perigoso que os anteriores? Essa me parece a premissa incipiente para “Um de nós está de volta”, de Karen M. McManus, o esperado terceiro capítulo da envolvente trilogia “Um de nós”. A série foi inaugurada em 2017 com o bom “Um de nós está mentindo”, tendo como sequência o inconstante “Um de nós é o próximo”, que três anos depois invadiu as prateleiras das livrarias.
No terceiro livro da saga, o antigo “Quarteto de Bayview” ganha novos integrantes e passa a se denominar como “Galera de Bayview”. Antes de embarcarem na aventura derradeira, Addy, Nate, Bronwyn, Phoebe, e outros, buscam encontrar maneiras de lidar com as consequências dos eventos que embalaram o romance anterior. “Um de nós está de volta” não aposta em nenhuma espécie de frenesi para o enredo dar seus primeiros passos ou mesmo se estabelecer. Joga mais suas fichas em uma proposta de construção gradual, exitosa pela forma precisa como consegue dosar os mais recentes acontecimentos.
E apesar de, em momento algum tentar rechaçar a condição de romance comercial, daqueles característicos com história bem mastigada e sem espaço para complexidade, não abdica de atribuir certa inteligência e poder de inventabilidade à trama. A escrita de Karen McManus proporciona uma experiência aprazível, tornando-se mais envolvente à medida que a história decorre atulhada de lacunas.
Quase dois anos se passaram desde que o Simon perdeu a vida de forma trágica. De lá pra cá, Bronwyn, Addy, Nate e Cooper tiveram de arriscar a própria vida para provar que eram inocentes, enquanto Knox, Maeve e Phoebe encararam um medonho jogo, estilo “Verdade ou Consequência”. O terceiro capítulo inicia poucos meses após esses eventos. O grupo só queria curtir as tão esperadas férias de verão, quando um outdoor digital inesperadamente anuncia o surgimento de um novo jogo e o primeiro ato é marcado pelo desaparecimento de um deles.
“Um de nós está de volta” tem qualidade não somente equiparada ao primeiro livro da série, como não é exagero algum pensar que talvez estejamos diante do melhor momento da saga. Em algumas passagens a narrativa não consegue engabelar a previsibilidade, e isso acaba soando como uma falha de criação no enredo. Ainda assim, Karen McManus alcança redenção com notáveis reviravoltas, a maioria carregada de veracidade.
Os personagens, bem esboçados, além de cativantes se destacam por suas inter-relações, com contribuição incessante para a diversidade narrativa. Embora o capítulo final da trilogia pretendesse alcançar um desfecho para os mistérios pendentes de Bayview, algumas lacunas não foram devidamente preenchidas. O fato efetivamente não compromete a qualidade da obra e até abre margem para uma reflexão: a trajetória da “Galera de Bayview” realmente chegou ao fim? Quem sabe, no futuro a autora não resolva revisitá-los com um novo desafio, em mais um suspense leve e deveras aliciante.