Vou começar dizendo que não gostei do filme. Pronto, lá vem porrada! Sim, aclamado pela crítica, mas não gostei. Um filme extravagante, sem dúvida, bonito, atuações maravilhosas, mas chato. O filme poderia ter abordado melhor temas como feminismo, ciência, prostituição, exploração, desigualdade social, meio social da época e como era o destino de centenas de pessoas sem recursos. Pecou no ativismo quando lotou o filme com cenas de sexo. Poderia ter abordado muitos temas de maneira brilhante e inovadora. Mas virou uma Frankenstein hollywoodiana nesta produção contemporânea.

 

     Trata-se de uma adaptação do livro do já falecido escritor Alasdair Gray. Gostei mais do livro. Bem mais. Essa versão hollywoodiana sobre a formação do "eu" de Bella foi um tanto apelativa. O figurino é espetacular e rendeu um dos prêmios, merecido. Mas não vou aqui falar sobre os prêmios. Nem questioná-los. Podemos elogiar muita coisa sobre o filme. Mas, continuo preferindo o livro. Minha opinião é de que o filme perdeu a oportunidade de desenvolver melhor os temas propostos, apostou mais nas cenas de sexo e nudez. E isso, hoje em dia, está mais do que cansativo. É um filme cujo livro possui temas desafiadores mas o filme saiu do tom. Achei apelativo, superficial, um pouco óbvio. Visualmente belíssimo, efeitos bem bacanas, repito, mas arrastado e um tanto monótono.

 

     Quando alguém diz que não gostou de uma obra, ainda mais quando está em alta, filmes ou séries modinhas, alguns começam dizendo "você não gostou porque não etendeu!". Tudo bem, faz parte, é a opinião de alguns. Mas opinião, vale lembrar, não é fato.

 

     A maneira como o filme resumiu tudo acabou por render mais cenas com sexo e exploração sexual um tanto romantizada, que consumiu a maior parte das cenas. Um atalho muito usado hoje mas que cansa, bastante. Se um dos objetivos era causar repulsa, funcionou, talvez não da maneira esperada para alguns, porém, virou um "mais do mesmo". A jornada da Bella virou uma narrativa fraca, e, na minha opinião, passou bem longe do tema feminismo, apelou e só (não falo da maravilhosa atuação da atriz e nem dos demais, vamos separar as coisas!). Porém, acho que chocaria bem mais se mostrasse, por exemplo, a realidade de bordéis naquele século. Ficou um bordel meio classudo e resumido, livre e romantizado. Bella entrou e saiu quando quis, sem pegar qualquer doença, não abordou o tema da gravidez e parto na era vitoriana e como faziam para não engravidar, todos com dentes perfeitos, sem vícios, sem abordar o perigo físico e mental, perseguição policial, social, ignorou a situação das ruas na época que eram muito sujas, as toneladas de dejetos que eram despejados nos rios, enfim, muitas pessoas morriam de cólera, dentre outras doenças relacionadas com a higiene. Estamos falando de uma época em que condições sociais e de higiene eram muito precárias. Não estou nem falando sobre valores morais e motivos que forçaram mulheres a se prostituirem (como questões econômicas, sociais, sequestros, estupros, etc., incluindo crianças). Até a perda da virgindade na época, sendo de maneira forçada ou não, condenavam muitas mulheres para a prostituição. A mulher sempre foi marginalizada e explorada no decorrer da história. Muitas usaram da prostituição como um meio complementar para evitar a fome, e muitas eram privadas de sua liberdade e forçadas a se prostituirem por seus patrões ao trabalharem como domésticas para a classe alta da sociedade. Até hoje, em algumas culturas, a mulher é usada como propriedade de seus maridos que acabam se tornando verdadeiros cafetões (e há quem ainda defenda isso, e mulheres e crianças continuam sendo exploradas, oprimidas, tratadas como propriedades, casamentos arranjados). Em alguns lugares, inclusive, a mulher vítima de estupro, que deveria ser protegida e defendida, é ainda acusada e punida, surreal, não é?! Mas infelizmente, sempre atual. O tempo passa e as atrocidades continuam. A opção de dizer não ainda é uma catástrofe social. Mulheres e crianças continuam sendo alvo de predadores sexuais, sequestradas, usadas, estupradas, abusadas e mortas. Enfim, mas pavão enfeitado no filme. Claro que as cenas em preto e branco são espetaculares, as atuações também. Óbvio que ultrapassei do tema do livro, inclusive, mas como as demais obras giram em torno da miséria e riqueza e os que estão nessa limbo existencial abusando ou sendo explorados, fui um pouco além. Mulheres e crianças pobres na época, além de usadas, exploradas, eram também desacreditadas. Ainda hoje.

 

     O livro não desaponta e provoca muitas reflexões. Aborda sobre qual o lugar de cada um na sociedade, explorações, jornadas fortes são descritas neste romance vitoriano, existencialismo, suicídio, pressões sociais, questões cieníficas e morais, explorações, interligando vários assuntos em saltos temporais. Gosto bastante do livro. Tratou melhor inclusive, da jornada feminina de amadurecimento.

 

 

 

 

 

 

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Varanda Cultural
Enviado por Varanda Cultural em 14/03/2024
Reeditado em 14/03/2024
Código do texto: T8019787
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