SABER MARIONETTE volume 1: a história da Terra II

 

SABER MARIONETTE volume 1: a história da Terra II

Miguel Carqueija

 

Esta série é bem conhecida e tem até um certo interesse; resultou num animê de sucesso; porém o mangá original, convém frisar, ressente-se de problemas sérios: desenho gráfico tosco, chegando às vezes ao grotesco; e certo escracho erótico desnecessário, principalmente com a personagem Bloodberry, a “marionete” de “peitões” que em parte aparecem. Só não chega a ser realmente erótico porque o desenho é muito feio, como as servas de Fausto. Esses exageros são caricaturais e desagradáveis, embora eu já tenha compreendido que muita abordagem do sexo em mangás e animês é feita pelo ângulo cômico (não é o mesmo que piada suja de brasileiro na tv).

Em todo o caso este é o argumento desta ficção científica:

Em certo futuro a Terra espalhou naves de exploração pelo espaço além do Sistema Solar. Com a nave Mesopotâmia acontece um grave desastre, encalhando num planeta habitável, morrendo no desastre milhares de seres humanos em animação suspensa. Restaram seis homens e uma mulher, que continuou em animação suspensa: Loreley. Ela fica sendo a mulher lendária e permaneceria em órbita (isso não é explicado nesse volume).

Impossibilitados de sair do planeta e sem mulheres, os seus sobreviventes, com várias nacionalidades, vão se reproduzir por clonagem e com o tempo formam seis países diferentes.

Esse tema de ficção científica é espinhoso. Em “Blue drop” ocorre o inverso: a Terra é invadida pelas “harumes”, mulheres que vêm de outro sistema e cuja raça já não tem homens, não se sabe porque, e também se reproduzem por clonagem.

Os sobreviventes em Terra II criam então as marionetes, na verdade androides de forma feminina, ou robotas, para serem escravas e até soldados; e não possuem realmente consciência ou sentimentos, além disso não possuem sexo.

Otaru Mamiya, o protagonista, é um rapaz tímido e íntegro que vive só e se sente embaraçado com a presença das marionetes e gosta de ficar “namorando” uma pintura que representa Loreley. Ao mesmo tempo costuma ser assediado por certo Mitsurugi Hanagata, que tem loucura por ele.

Já se vê que Otaru é um heterossexual num mundo sem mulheres, onde se vê como normal — ou como única opção — homem gostar de homem.

A mensagem de “Saber marionette” (garotas marionetes) é pois ambígua. Tanto pode ser interpretada como exaltação do homossexualismo como exaltação do heterossexualismo, ou muito pelo contrário; embora não derive para a morbidez das histórias pornográficas.

 

Resenha do volume 1 do mangá “Saber marionette J”. Obra original: Satoru Akahori. Arte: Yumizuke Kotoyoshi. Roteiro: Jukki Hanada. Desenhista de caracteres: Tsukasa Kotobuki. Editora Fujimishobo Co., Ltd., 1997. Editora JBC, São Paulo-SP, 2011. Tradução: Arnaldo Massato Oka e Denis Kei Kimura. No volume 1: 5 capítulos e um capítulo extra.

"Saber marionette" vem com proibição para menores de 16 anos.

 

“Não sei direito como explicar... mas não consigo ver as marionetes como simples máquinas.”

(Otaru Mamiya)

 

A história tem um vilão chamado Fausto, ditador de Gartland (equivale à Alemanha) e que deseja dominar as demais nações, inclusive Japoness (Japão), onde mora Otaru.

É preciso entender que na ficção utiliza-se muito a “suspensão de incredulidade”. Porque em termos reais um clone teria de crescer normalmente, o que dificultaria completamente o povoamento de Terra II, por não haver quem amamentasse (mas quem lembra disso nessa série?).

Entra em cena Ieyasu, o Xógum de Japoness, que escolhe Otaru (por sua sensibilidade ao feminino) como tutor de três marionetes especiais, Lime, Cherry e Bloodberry, que possuem o chamado “circuito otome”, ou, como é explicado, elas possuem “coração” — não sei se literalmente, mas quer dizer que possuem sentimentos humanos, muito mais que as marionetes comuns, soldadas frias como as que servem Fausto. Além disso possuem poderes espaciais de combate.

Elas desde o início se apegam afetivamente a Otaru que, como explicado, é pudico e tímido; inocente, mas que fica gostando da companhia delas.

Mesmo com o circuito otome elas são seres assexuados em termos de anatomia, de fisiologia. Então, com tal barreira, na história, apesar do erotismo, não há cenas de sexo ou de libertinagem.

O que realmente prejudica a conveniência são os seios de Blodberry e o traço anarquizado dos desenhos.

 

Rio de Janeiro, 15 a 17 de fevereiro de 2024.