Tratado sobre os princípios do conhecimento humano - Berkeley
"Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano" é uma obra filosófica escrita por George Berkeley, publicada em 1710 e que traz as principais ideias de sua teoria acerca da natureza da percepção humana, conhecida como Imaterialismo.
Para fins didáticos, a historiografia do pensamento ocidental situa Berkeley dentro de um grupo de pensadores que fundamentaram suas ideias e pensamentos sob os métodos do Empirismo, o qual tem como principais expoentes, além de Berkeley, John Locke e David Hume. Esta corrente filosófica se caracteriza pela afirmação de que todo o conhecimento sobre o mundo advêm apenas de nossa experiência sensorial, isto é, que não nascemos com ideias inatas, mas que toda compreensão deste universo só pode ser por nós assimilada através das sensações captadas por nossos sentidos físicos. Famoso é o conceito de Locke da tábula rasa, tese que ilustra o processo do conhecer, do saber e do agir apreendido unicamente pela experiência humana e que serve de base para a teoria do conhecimento do Empirismo. Locke é considerado o fundador desta corrente filosófica.
Contudo, Berkeley foi um crítico das teorias deste filósofo que o precedeu em aproximadamente meio século. As objeções a Locke se devem ao fato de que as principais ideias deste pensador, contidas principalmente na obra “Ensaios Acerca do Entendimento Humano”, estariam alicerçadas, epistemologicamente, nos estudos de Isaac Newton sobre a realidade física e mecânica do mundo, cujas teorias das leis do movimento e da gravitação universal podem ser observadas no seu livro “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”. Porém, Berkeley rejeita a noção de que exista uma realidade material externa à mente humana, defendendo que as coisas só existem na medida em que são percebidas, negando a existência de qualquer substância fora do que ele chamou de eu, espírito, alma ou mente. Em torno do axioma SER É SER PERCEBIDO é que gira toda especulação filosófica de Berkeley a respeito da realidade do mundo, colocando o sujeito, ou seja, o espírito pensante no centro da investigação filosófica, diferentemente de Locke e Newton, os quais tinham os objetos do mundo físico como foco de seus respectivos estudos, fazendo-os filósofos materialistas. Por conta desta diferença é que as ideias de Berkeley deram início ao Imaterialismo Filosófico. O espaço absoluto foi contestado e foi então sugerido o espaço relativo, já que este próprio espaço no qual estamos inseridos é a interpretação do que é percebido pela percepção do sujeito. Não há como não percebermos a influência dessas ideias no pensamento de Albert Einstein para a elaboração de sua teoria da relatividade geral, na qual não só o espaço, mas também o tempo não são mais absolutos.
Berkeley é visto também como um dos precursores da filosofia da linguagem. Segundo o filósofo, a linguagem é nossa melhor “ferramenta” para expressarmos o que conseguimos assimilar do mundo, contudo, por conta das falhas e distorções de nossa cognição na interpretação dos fenômenos já por nós mal interpretados em razão dos nossos sentidos físicos também falhos, o que expressamos pela linguagem, então, só vem à tona por meio de abstrações falsas, concebidas pela inexatidão que a linguagem tem em dar realidade à matéria que forma o mundo a nossa volta.
Bom, mas afirmar que o mundo só existe apenas nos momentos nos quais têm uma mente pensante para percebê-lo traz algumas questões a serem resolvidas. O som de uma árvore caída no meio da floresta existiria caso não houvesse alguém para ouvi-lo? Minha escrivaninha existiria ainda no meu quarto caso eu saísse do aposento? Para Berkeley, sim, o som seria ouvido tanto como existiria a escrivaninha, porque a existência de objetos materiais é garantida pela percepção divina, pelo Supremo Agente.
Por conta dessa abordagem totalmente subjetiva da realidade, sua filosofia ficou conhecida como uma corrente idealista, onde o terreno fértil da metafísica está aberto para discussões, no mínimo, muito interessantes para compreendermos a realidade, que, de acordo com Berkeley, cada sujeito tem a sua.