Cena emblemática: Yomi e Kagura, chamando seus ga-reis ou animais espirituais protetores, preparam-se para o duelo.

 

 

GA-REI ZERO episódio 12 (final): o duelo que não deveria ocorrer

 

GA-REI ZERO episódio 12 (final): o duelo que não deveria ocorrer

Miguel Carqueija

 

Não há dúvida que a série “Ga-Rei Zero”, em seus doze capítulos, é impactante. Um verdadeiro estudo da personalidade e do caráter do ser humano, principalmente das protagonistas Tsuchimiya Kagura e Isayama Yomi, com algum espaço para Noriyuki Izuna e alguns outros personagens — e isso, dentro de um cenário fantástico.

O episódio final é apoteótico e mostra a evolução de Kagura através da decisão radical de enfrentar Yomi num combate de vida ou morte — onde, evidentemente, uma delas terá de morrer.

O mini-seriado é especialmente triste, trágico, pungente, porque desde o princípio ou quase, mas já fica claro no segundo episódio e pelo logotipo, que toda a bondade e simpatia que Yomi demonstra quando a história interrompe no final do capítulo 2 e retorna ao passado no capítulo 3 — toda aquela bondade, aquela ternura para com Kagura, irá desaparecer e Yomi se tornará um monstro — como o Anakin Skywalker de “Star Wars”.

Como pôde acontecer aquela crueldade do destino? Por trás de tudo o misterioso Mitogawa, o manipulador, que buscava alguém que pudesse incorporar a pedra da morte ou “sesshosseki”.

Melancólico é o destino de Noriyuki, o jovem exorcista, colega de equipe e noivo de Yomi. Quando Kagura tem um confronto com Yomi, já usando o ga-rei Byakuei contra o Ranguren de Yomi, mais uma vez não consegue matá-la quando tem chance, a ponto de levar Yomi a dizer: “Você é mesmo uma piada”. A aparição de Noriyuki interrompe a briga. Noriyuki consegue distrair Yomi com seus pequenos ga-reis doninhas; ajuda Kagura a escapar, faz um curativo em seu ferimento e entrega à garota o dardo metálico que a própria Yomi lhe jogara.

Yomi pedira a Noriyuki que a matasse — e ele não tivera coragem de fazer. Pedindo desculpas, conformado com sua covardia, Noriyuki vai embora, como a dizer a Kagura para seguir em frente: a missão continuava a ser de Kagura.

 

Acima: Yomi já esperava Kagura no bosque. Embaixo: Kagura, tendo herdado o poder ancestral da família Tsuchimiya pela morte do pai, assume o dever e procura Iwahata, o chefe da equipe, e Nobuu, disposta a ir até o fim no trágico assunto. A equipe está desfalcada de um dos irmãos Nabuu e de Sakuraba Kazuki, mortos em combate, Noriyuki, derrotado pela covardia, e Yomi, agora inimiga de todos.

Resenha do seriado de animação “Ga-Rei Zero”, episódio 12 (FINAL), “Desejando uma bênção”. Estúdio A/C Spirits, Japão, 2008. Direção: Ei Aoki. Trilha sonora: Noriyasu Agematsu.

Elenco de dublagem original:

Kagura Tsuchimiya..............................Minori Chihara

Yomi Isayama......................................Kaoru Mizuhara

Noriyuki Izuna.....................................Shinya Takahashi

Kazuki Sakuraba..................................Minoru Shiraishi

Garaku Tsuchimiya..............................Tetsuo Komura

Naraku Isayama...................................Mugi Hito

Mei Isayama........................................Ryoko Tanaka

Irmãos Nabuu......................................Norio Wakamoto

Chizuru Yanase (Yacchi).......................Chika Horikawa

Kazuhiro Mitogawa............................. Megumi Matsumoto

Ayame Jinguji.......................................Mai Aizawa

Yuu Isayama.........................................Takko Ishimore

Miku Manabe.......................................Nozomi Masu

Kohara Michael....................................Hirozaku Hiramatsu

Masaki Shindo......................................Tetsuya Kakihara

Kiri Nikaidou (Kirito)..............................Tsuchiya Maki

Kouji Iwahata........................................Tetsu Inada

Kensuke Nimura....................................Minoru Shiraishi

 

Noriyuki explica a Kagura o perigo que Yomi agora representa para a humanidade. Mas embora ele tenha controle sobre os pequenos ga-reis doninhas, não se dispõe a lutar com aquela que era sua noiva. Assumindo que é um covarde, ele deixa a responsabilidade para Kagura, de 13 anos.

 

“Me levem com vocês... para Yomi.”

(Tsuchimiya Kagura para Kouji Iwahata e o gêmeo Nabuu sobrevivente)

 

“Só precisamos nos aproximar. A pedra dirá quando estivermos perto.”

(Tsuchimiya Kagura para Iwahata e Nabuu)

 

“Aquela não é mais a Yomi. É só um espírito controlado pela pedra da morte. Se não a matarmos ela destruirá tudo na face da Terra.”

(Noriyuki Izuna)

 

“Me desculpe, Kagura. Você pode me odiar.”

(Noriyuki Izuna)

 

“Eu a matarei. Exterminar o que corrompe o mundo humano com a morte... é nosso dever como exorcistas.”

(Tsuchimiya Kagura para Isayama Yomi)

 

“Você ficou forte, Kagura. Ficou mesmo forte. Estou orgulhosa de tê-la como irmã mais nova. Me desculpe, Kagura. Eu te amo.”

(Isayama Yomi, ao morrer)

 

Lutando com seus sentimentos, mais uma vez Kagura não consegue matar Yomi.

Embaixo: a decisão final. Kagura sabe que só ela pode derrotar sua irmã de criação. No fundo, Yomi quer ser morta por Kagura: o que resta de sua consciência deseja se libertar do domínio da pedra da morte.

 

 

Eis o grande dilema de Kagura: lutar com a pessoa a quem ela mais ama, sua irmã de criação, que a acolheu quando seu pai a rejeitou. E o próprio bordão desta série extraordinária é uma pergunta: “Você mataria uma pessoa a quem ama, por amor?”

E é também por isso que Iwahata e o Nabuu sobrevivente comentam que agora Kagura poderá matar qualquer pessoa, pois matou a pessoa mais importante para ela. E Nabuu ainda acrescenta que Kagura não poderá mais amar ninguém, “como nós”. Será? Kagura porém está em outro nível. A própria aparição final de Ken, personagem desenvolvido no mangá, parece desmentir a observação deprimente de Nabuu.

E é patética a cena em que Kagura pede humildemente perdão a Yomi por tê-la idealizado, quando poderia tê-la ajudado (deduz-se, a combater seu lado ruim). Yomi, que na verdade ainda conserva um lado bom, pergunta então se ela estava se desculpando porque ia matá-la — ou morrer. É sem rancor e com serenidade que Kagura responde: “Eu vou matá-la”.

Dois anos depois descobrimos que Ayame e Kirito não morreram mas esta, com os choques dos ferimentos que recebeu, tornou-se infantil, retardada; a visita de Ayame parece repetir uma cena da série “ROD – read or die”. E as antigas amigas de Kagura, Yachhi e Miku, a relembram... porque Kagura sumiu de suas vidas... e até repetem um gesto que Kagura e Yomi faziam.

Na verdade o final de “Ga-Rei Zero”, com a única aparição de Kenzuke Nimura (o Ken) como que mostra a primeira fase do mangá “Ga-Rei”, de Hajime Segawa, que parece nunca foi filmado. É um alívio afetivo, vemos Kagura dois anos mais velha, mais segura de si, alegre com a companhia de Ken, unido a ela nas missões de exorcismo: ela o descobriu e o trouxe para a equipe, como relatado no mangá. Ken trouxe a Kagura a alegria perdida com a deserção e morte de Yomi. Mas o manipulador, Mitogawa, não desistiu de seus intentos, pois ele mesmo disse cinicamente, que “ainda tem tempo”.

Consola saber que, mesmo ao morrer, Yomi abraçou e afagou Kagura, agradecendo a ela e disse se orgulhar de sua irmã mais nova.

 

Em cina: Yacchi e Miku repetem o costume de Yomi e Kagura, de dividirem bastões doces.

Embaixo: Kagura, alegremente, dois anos após a tragédia, explica a seu novo companheiro de missões, Kenzuke Nimura (Ken) porque faz questão de comer mesmo quando vai entrar em ação. Aparentemente, a garota heroína superou a perda de Yomi.

 

Embaixo: o carinho de Kagura para com Ken. O final do seriado traz um sinal de esperança. "Chan" é um sufixo carinhoso que os japoneses utilizam para pessoas especiais.

 

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2024.