O Hóspede Noturno
“O Hóspede Noturno” chegou às minhas mãos por intermédio de uma amiga. A indicação acabou se mostrando uma leitura portentosa, imersiva, por desafiar o poder interpretativo do leitor, embora nos momentos finais acabe embarcando em certa previsibilidade, tornando-se até simples presumir o enredo e não se engabelar pelas arapucas inteligentemente plantadas por Heather Gudenkauf.
Com uma história alinear, mesclando passagens do presente e passado em três distintos núcleos, os personagens são devidamente traçados, a passos largos de se apresentarem como figuras volúveis. O livro ostenta um intrínseco poder de sedução, conseguindo fisgar leitores exigentes, fazendo-o devorar a obra com sofreguidão voluptuosa. Esse processo começa com Wylie Lark, uma escritora que possui uma distinção: a especialidade de penejar narrativas baseadas em crimes reais.
A autora está isolada em uma fazenda alugada, disposta a aproveitar tal condição para escrever sem interrupções, quando a região acaba atingida por uma incessante nevasca. Ainda mais insulada, Wylie ainda tinha um importante trunfo: a inspiração advinda da antiga morada que anos atrás servira como plano de fundo para a perpetração de um assassinato brutal. O intento corria como esperado, até a autora descobrir que já não estava sozinha, tendo a implacável tormenta lhe trazido um visitante deveras inesperado.
A ambientação, ideada por Heather Gudenkauf para compor a trama, é um dos principais artifícios. No melhor estilo golpe de mestre, aposta certeiramente em um cenário inóspito, com direito a intempéries para eclodir um clima de maior suspense, alvejando o leitor com a inconveniente (e muito apreciada) sensação de confinamento.
A trama de “O Hóspede Noturno” se desenrola com divisão em três núcleos: o principal, durante o presente, é centrado na escritora. No entanto, a narrativa constantemente retrocede para o ano de 2000, às vésperas do crime hediondo, além de explorar uma intrigante relação envolvendo três pessoas, mas não se sabe ao certo em que ano ou quem exatamente são elas.
Todos os núcleos da trama são alicerçados por mistérios envolventes, indagações diversas capazes de desafiar a imaginação e compreensão do espectador. A narrativa ainda é apinhada de tensão, momentos realmente angustiantes, como também há boa inserção de dramas que, seguramente, exigiram muita dedicação e servem como mostra da habilidade literata de Heather Gudenkauf.
“O Hóspede Noturno” é um livro escrito com boa dose de esmero, marcado por personagens carregados de conflitos, com seu desenvolvimento ocorrendo enquanto precisam lidar com eles. Um dado momento, indubitavelmente, quando as lacunas gradualmente vão sendo preenchidas, chega um ponto em que o desfecho parece cair na previsibilidade, mesmo com tantas armadilhas plantadas pelo enredo. Felizmente, esse aspecto não é o bastante para comprometer a qualidade da obra.