O poema "Dualismo " de Olavo Bilac mergulha nas profundezas da complexidade humana, transcendo as simplificações de bondade e maldade. Através da estrutura clássica do soneto, Bilac tece palavras que não apenas comunicam, mas evocam emoções intensas.

 

A imagem do coração em chamas, comparado a um "largo oceano", não apenas pinta um quadro vívido, mas também sugere uma intensidade emocional que transcende a compreensão superficial. O tumulto e clamor, presentes como elementos de um vasto oceano, encapsulam a busca humana incessante, ora em maldições, ora em preces.

 

O poeta descreve o humano como alguém que vive nas extremidades, oscilando entre crenças e desenganos, esperanças e desinteresses. Essa instabilidade emocional é apresentada como parte intrínseca da existência, uma jornada tumultuada que reflete a dualidade da condição humana.Padecendo tanto no bem quanto no mal, o ser humano é retratado como incapaz de encontrar plena satisfação nas virtudes ou no arrependimento dos crimes cometidos.

 

A capacidade de realizar horrores e ações sublimes coexistem, revelando uma complexidade que transcende avaliações morais simplistas.Na conclusão do poema, Bilac personifica essa dualidade, apresentando um "demônio que ruge" e um "deus que chora" residindo juntos no peito do indivíduo.

 

Essa imagem poética sugere que a luta interna é constante, uma batalha entre forças opostas que moldam a experiência humana.Assim, "Não és bom, nem és mau: és triste e humano..." é mais do que uma simples composição poética; é uma exploração profunda e sensível da natureza multifacetada da humanidade, convidando o leitor a contemplar as contradições que definem nossa existência.

 

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...

Vives ansiando, em maldições e preces,

Como se, a arder, no coração tivesses

O tumulto e o clamor de um largo oceano.

 

Pobre, no bem como no mal, padeces;

E, rolando num vórtice vesano,

Oscilas entre a crença e o desengano,

Entre esperanças e desinteresses.

 

Capaz de horrores e de ações sublimes,

Não ficas das virtudes satisfeito,

Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

 

E, no perpétuo ideal que te devora,

Residem juntamente no teu peito

Um demônio que ruge e um

deus que chora.