Curso de Apologética Cristã de Devivier S.J.: as questões preliminares
CURSO DE APOLOGÉTICA CRISTÃ DE DEVIVIER SJ: AS QUESTÕES PRELIMINARES
Miguel Carqueija
No seu magnífico tratado doutrinal o Padre Devivier discute — antes de entrar nas provas da divindade do Cristianismo — três questões que ele considera preliminares: 1) Função que a razão desempenha em matérias de fé; 2) Meios que produzem a certeza preparatória para a fé e 3) Mistérios da religião.
Nesse último ponto é realmente estranha a maneira como atacam a religião católica por causa dos mistérios. Ora, o mundo material, que a ciência investiga, é quase que só mistério! Lembro de tewr ouvido no rádio, há muitos anos atrás, o pastor adventista Roberto Rabelo observar que, por mais que a ciência desvendasse novos fatos, nunca fechava qualquer conhecimento, pois tudo se passava, como ele disse, “numa série divergente e não convergente”.
Devivier assim coloca a questão: “Se houvessem de rejeitar os mistérios da religião, só porque não se tem deles um conhecimentos perfeito e adequado, porque se não lhes conhece o como nem o porque, também, em boa lógica, seríamos obrigados a rejeitar, por igualdade de razão, todos os mistérios da natureza”. Lembro de uma professora que nos ensinou esta frase: “O sábio sabe que não sabe”.
No primeiro ponto o autor mostra que a razão não está dissociada da fé. E citando Santo Agostinho: “Não permita Deus que a submissão, que todos devemos a quanto tem relação com as coisas da fé, nos impeça de indagar e perguntar a razão do que cremos, porque nem sequer poderíamos crer, se não fôssemos dotados de razão”.
Por aí se vê como é revoltante essa história que espalham por aí que nós crentes acreditamos cegamente, que a fé é cega. Isso simplesmente é mentira.
Quanto ao segundo ponto, da “certeza preparatória para a fé”, Devivier refere-se à experiência, à razão e aos testemunhos. Com muita propriedade o erudito autor, depois de referir a certas evidências (“E assim é que estou certo da existência do meu corpo, da realidade dos objetos que vejo e apalpo”) acrescenta: “Nem a minha certeza é menos inabalável em relação às expedições militares de César, à existência de Roma, e a um sem-número de fatos históricos, ou de conhecimentos geográficos e científicos”.
São reflexões assaz úteis para os dias atuais, onde a contra-cultura chega a negar a Ciência e os fatos documentados.
Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2024.