Sebastião da Gama, por meio do poema "Os que vinham da Dor", desvela a percepção peculiar daqueles que enfrentaram a dor em sua forma mais crua.
Os versos ecoam com uma profundidade que revela uma perspectiva distinta da realidade, onde a beleza é desvelada por meio de um olhar que conheceu o sofrimento.A visão poética retrata uma dicotomia intrigante: a beleza é enaltecida através da lente da dor.
A flor, por exemplo, é descrita como bela somente quando enraizada, enquanto o mar revela sua verdadeira beleza nos naufrágios. Essa abordagem desafia as percepções convencionais de beleza, destacando a essência por trás das aparências.Os versos também enfatizam a nobreza dos que experienciaram a dor, tornando-os incapazes de menosprezar a beleza tradicional, como a do mar azul ou das mãos delicadas.
No entanto, a profundidade de seus olhos revela uma verdade mais visceral: a compreensão das verdades humanas mais cruéis, fruto da jornada dolorosa que percorreram.
O poema ressoa como um convite à reflexão sobre a perspectiva singular daqueles que vivenciaram a dor. Revela uma beleza mais profunda e autêntica, que só pode ser verdadeiramente compreendida pelos olhos marcados pela experiência da adversidade.
Os que vinham da Dor
tinham nos olhos estampadas verdades crudelíssimas.
Tudo que era difícil era fácil
aos que vinham da Dor diretamente.
A flor só era bela na raiz,
o Mar só era belo nos naufrágios,
as mãos só eram belas se enrugadas,
aos olhos sabedores
e vividos dos que vinham da Dor diretamente.
Os que vinham da Dor
diretamente eram nobres
de mais pra desprezar-vos,
Mar azul!, mãos de lírio!, lírios puros!
Mas nos seus olhos graves
só cabiam as verdadeshumanas crudelíssimas
que traziam da Dor diretamente.