Imagem criada no computador por Valdemiro Mendonça.
UM CIDADÃO BRASILEIRO Final.
Arranjo
Valdemiro Mendonça
Nas férias escolares, sempre íamos para a roça onde moravam meus avós maternos e era uma festa para a velha senhora descendente de suíços, mas que viera ainda bebê para morar no Brasil, filha de camponeses, mas que recebeu uma educação rica dos conhecimentos dos pais europeus que por serem simples, não fizeram a América.
Meu avô era filho de franceses da grande família Berbeth e Perroud e nasceu no navio que trouxera seus pais, tios, irmãos e sobrinhos, não tinha a mesma educação da esposa, mas era alfabetizado e era quem dirigia os cultos na igreja presbiteriana da localidade.
Todos os seus filhos inclusive minha mãe recebeu a educação que os pais podiam dar. Como colonos era o bastante, para pessoas simples que se contentavam em sobreviver e saber que moravam num país livre dos horrores da guerra, esta era a sua maior riqueza, “a paz”.
Moravam numa velha casa, mas muito grande, foi sede da fazenda onde eles trabalhavam, os donos muito ricos, passaram a morar na cidade e eles ocuparam a morada. A casa foi construída na parte plana numa encosta do vale da Bicuíba município de Ipanema Minas Gerais onde sou registrado.
A parte maior da casa ficava no plano, mas com enorme bom gosto fora construído um apêndice que ficava numa ribanceira e era uma varanda que funcionava como mirante e cartão de visita da bela casa, mesmo velha. Era ali que minha avó alta, magra e bela... “Como era bela minha avó”!
Sentava-se nas noites frias e rodeadas dos netos e dos filhos, todos eles: “moços e moças, meu avô minha mãe e alguns primos e vizinhos” que sabendo que havíamos chegado, tinham certeza, todas as noites vovó contaria suas histórias e que não sabíamos se eram reais ou saídas de sua mente, mas histórias maravilhosas e quem ouvisse não esqueceria mais.
Sentava-se e recebia um cobertor que colocava sobre as pernas e dizia que era por que o frio fazia doer suas juntas, então nos contava histórias de índios, de colonos, de piratas, dos navios, das guerras e ajeitando mais o cobertor para lhe proteger os artelhos contou uma noite a história: “de um preto velho”, e que até hoje tenho saudade, do caso que se passou numa tal de fazenda da liberdade.
(Morde que foi lá: na fazenda da liberdade adonde o coroné vivia, seus colonos empregados gozavam de regalia, mas quar... tudo que é bão se acaba, morde que cada coisa tem o seu dia, pois foi numa tarde de maio o coroné falecia e só um pretinho veio foi que chorou na hora que o caixão saía, ele... ele era o peão mais antigo que ali naquela fazenda existia”.
Bom... cá morte do fazendeiro, seu fio foi que ficou o patrão, mas ele não herdou do seu pai aquele bão coração, mandou chamar o preto veio e falou assim sem compaixão: “vou mandar mercê embora não tenho aqui mais precisão, preciso aqui é de gente nova que é para cuidar da criação, morde que foi mais um golpe doído na vida daquele cristão. Ali no palanque da mangueira, o pretinho veio se encostou e assozim de cabeça baixa, seu passado se arrelembrou”.
Quantos bois cuiabanos aquele se veio laço segurou, quanto potro xucro e redomão aquela sua veia espora chilena quebrou, ele ainda se alembrava dos tempos que era moço e das coisa boas passada, o dia que Mariazinha gritou com ele lá da jinela da cozinha da fazenda, com sua voz esganiçada: “ceica nego, ceica nego tição, laigato passou em riba da ponte do curguim detravessou o terreiro da fazenda e ta dando caiacorvo de parmo lá embaixo em riba do monte de caivão.
Ele com suas pernas de guerreiro, forte e ligeiro, saiu na disparada pulou pro riba do curguim passou a galope pelo terreiro sartou em riba do monte de caivão e agarrou o teiú, torceu o seu pescoço, tirou o coro e limpou e para Mariazinha com um sorriso mostrando o branco do dente ele, pra ela entregou.
Mariazinha passou o dia todo cuidando daquele assado que os patrão quando viam viravam a cara pro lado, mas que ela no forno com braseiros, misturando seus temperos fazia que nem os pretos antigo usando coentro e pimenta do reino, alho e as folhas de louro, que sua mãe ensinou e disse que era tempero, lá das terras dos crioulos.
Quando a noite se fez escura, e a lua mostrou seu brilho, ela caminhou pelo terreiro assobiando um estribilho. Carregando junto com ela, o assado que cheirava junto de outras comidas dentro de uma gamela., ela se ria e os dentes com a luz da lua, também mostrou seu brilho, quando ela entrou pela porta do paiol onde ele sempre drumia em riba do monte de espiga de milho.
A conversa era curta, morde que num pricisava de nenhum dos dois conversar ele sabia o que ela queria e o que tinha ido buscar, era só ter paciência que ele deixava levar. Comeram de lamber os beiços, e se limparam com a palha de milho naquela festança maluca, depois beberam da água guardada que ele mantinha esfriada dentro da sua cumbuca.
Os raios de luz do luar entrando pelo frestas das paredes de pau a pique alumiava o interior e ele via já embeiçado, o riso que deixava marcado a beleza daquela flor, antonces ele provoca, a brincadeira do faz de cosca, pra aumentar o riso sem maldade. Maria lhe dando trela cutuca na sua costela e mexe com a sua vontade.
De repente os dois se estranhando no meio do milho rolando parecia querendo brigar, ela no leito macio parecia um bicho no cio quando quer embuchar, e na luta da apertura em busca da gostosura ia aumentando o calor, e assim foi que Mariazinha aquela linda pretinha, se tornou sua primeira mulher, e foi na vida seu único amor).
Ali de cabeça baixa de tudo se alembrando, esqueceu inté da sua aperreação, e neste momento uma baruieira, acordou o velho daquela zonzeira que chamou sua atenção. Era um boi brabo furioso parecendo o cão tinhoso, que quebrando a tranqueira da cerca, pra dentro da mangueira pulou.
A filha do fazendeiro sua prendinha mais querida que sem saber nada da vida brincava ali entretida sem se dar conta do perigo, o preto velho deu uma corrida com suas pernas enfraquecidas sem nem se lembrar do seu castigo.
Nenhuma mágoa ele sentiu, quando parou na frente do boi e o bicho investiu, para salvar a vida da sinhazinha querida, naqueles chifres afiados suas forças sucumbiu.
O fazendeiro ressentido que a tudo tinha assistido, na hora se desesperou, e num esforço derradeiro foi pra riba do marrueiro e seu revolver disparou. Foram seis tiros certeiros que derrubaram o marrueiro, mas de nada adiantou, as balas mataram o bicho danado, mas a vida do preto, coitado ele mesmo querendo não salvou.
Se abraçando com o velho ferido já de tudo arrependido no estertor da morte escutou as derradeiras palavras que o velho balbuciava e morrendo ainda falou. (Mercê manda benzê a sinhazinha com a benças da sua madrinha, do susto que ela passou, e mercê num fica pensando, nas coisa que ocê falando quarquer mar cê me causou, morde que quarquer mar que acha que me fez eu já passei de outras vez e este preto perduou.
Agora mercê da licença que sem nenhuma mar querença, vou seguir o destino que um dia o Deus menino me concedeu com seu amor, vou simbora deste rincão, em busca da sarvação nos braços de nosso senhor.
E aquele homem negro, mas de alma tão cheia de luz como deve ser toda alma que um dia amou, se despediu deste mundo que não era seu, adonde ele tanto sofreu, e desta vida... descansou.
Trovador.
Abaixo segue a letra da moda de viola na íntegra e que como disse, gostaria que o autor ou o dono atual da musica mudasse, para outro nome, que fizesse da música tão significativa, uma moda que pudesse ser regravada e mostrada para as novas gerações de violeiros e que gostam deste tipo de moda, pois: “ O TEMA SEMPRE SERÁ ATUAL, OS IDOSOS AGRADECEM”
"O PRETO DA ALMA BRANCA"
Compositores: (Teddy Vieira/Mineirinho) Moda de viola.
(Um cidadão brasileiro)
"Fazenda da liberdade adonde o coroné vivia
seus colonos empregados gozavam de arregalia,
mas tudo que é bom se acaba cada coisa tem o seu dia
Foi numa tarde de maio o coroné falecia,
um preto veio chorou na hora que o caixão saia,
ele era o peão mais antigo, que na fazenda existia... ai.
Com a morte do fazendeiro seu filho ficou patrão
mas não herdou do seu pai aquele bom coração,
mandou chamar o preto velho e falou sem compaixão
vou mandar mercê embora não tenho mais precisão,
preciso aqui de gente nova pra cuidar da criação
foi mais um golpe doido na vida de um cristão... ai.
No palanque da mangueira o preto velho encostou
ali de cabeça baixa seu passado arrelembrou
quantos boi cuiabanos o seu veio laço segurou,
quantos potros redomão sua espora chilena quebrou,
um estalo no portão nesta hora ele escutou
um pantaneiro furioso, na mangueira penetrou...ai
A filha do fazendeiro sua prendinha querida
aquele anjo inocente brincava tão entretida
o preto saiu correndo com suas pernas enfraquecidas,
parou na frente do boi quando ele se deu na investida
nos chifres do pantaneiro suas forças foram vencidas
pra salvar a sinhazinha ele arriscou sua própria vida...ai.
O fazendeiro correndo seu revolver disparou,
derrubou o pantaneiro, mas nada disso adiantou.
Abraçando o preto velho, o coitado ainda falou,
mande benzer a sinhazinha do susto que ela levou
eu tenho que ir embora minha hora já chegou
e o (preto da alma branca) deste mundo descansou... ai".
Até sexta se... “Ele” permitir.
Trovador