O Crítico de Cinema e os Irmãos Coen

Godard afirmava que o crítico de cinema é uma figura triste, pois sua atividade não é artística; ele simplesmente escreve sobre os verdadeiros artistas, os cineastas. Apesar disso, reconhece que uma das maneiras de se tornar um cineasta é assistir a muitos filmes e resenhá-los. Grandes cineastas da história, como Godard e Truffaut, foram críticos na Cahiers du Cinéma, juntamente com André Bazin, um crítico que aproximou a crítica de cinema da arte.

Alguns cineastas criticados por essa revista a chamavam de intelectual e pedante, afirmando que era necessário um dicionário para lê-la devido à erudição e cultura dos artigos publicados.

Concordo com as críticas aos críticos, pois, em sua maioria, pecam pelo excesso de pedantismo. Um episódio que exemplifica isso ocorreu no MasterChef, quando críticos de cinema avaliaram pratos, fazendo críticas mais pesadas do que os próprios jurados do programa, sem possuir conhecimento técnico.

Apesar de eu ter alguns livros de André Bazin da série "O que é Cinema," com várias críticas de filmes clássicos feitas por ele, parei de consumir críticas sobre filmes. Acredito que uma boa crítica é sempre subjetiva, e a melhor maneira de conhecer um filme é assistindo a ele por conta própria.

Outro livro célebre é a entrevista de Truffaut com Hitchcock, na qual o francês avalia todos os filmes feitos pelo cineasta americano. Foi muito prazeroso acompanhar o livro enquanto assistia aos filmes.

Dito isso, pretendo fazer uma breve crítica sobre o cinema dos irmãos Coen, que estão entre os meus cineastas preferidos.

Eles têm uma filmografia plural, composta, em sua maioria, por dramas com doses de humor, como "Fargo" e "Barton Fink", ou até mesmo comédias, como "O Grande Lebowski".

Outra característica marcante são as estranhas personagens protagonistas de seus filmes, como o sociopata perseguidor de “Onde os Fracos não Tem Vez”, brilhantemente interpretado pelo excelente Javier Barden, ou mesmo personagens comuns que se veem em situações peculiares.

Os irmãos Coen também têm uma predileção pela música folk americana. "Inside Llewyn Davis" é praticamente um musical, contando a história de um artista comum que não busca apenas subsistir como seus pais. Em "A Balada de Buster Scruggs", também há momentos com canções folk. Além de outros melodramas emocionantes, como a triste estória de um “cotoco” contador de histórias ou a moça que tem que viajar numa diligência, depois de perder seu irmão, única família dela.

A filmografia dos irmãos Coen me atrai porque seus filmes não têm muitos paralelos com a realidade, não pretendendo criticá-la ou modificá-la, apenas produzem obras divertidas.

É claro que, às vezes, é enriquecedor assistir a filmes que são verdadeiros tapas morais na cara, como o cinema de Michael Haneke ou dos irmãos Dardenne.

No entanto, um cinema despretensioso e bem executado, como o dos irmãos Coen, ou leve como as verdadeiras fábulas visuais de Wes Anderson, é igualmente necessário e encontra-se entre os meus favoritos.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 02/12/2023
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