"O Vampiro" de Charles Baudelaire é uma obra marcante que explora a temática da dominação e submissão.
O poema descreve uma relação simbólica entre o eu lírico e uma entidade que o aprisiona de forma opressora. A metáfora utilizada pelo autor retrata um ser que penetra o coração do protagonista, transformando seu espírito em leito e possessão.
A expressão da impotência diante dessa situação é notável, evidenciando a busca por liberdade através do veneno e da espada, porém, ironicamente, ambos os elementos indicam a impossibilidade de se libertar desse vínculo destrutivo.Baudelaire mergulha profundamente na ideia da escravidão voluntária, onde o eu lírico parece estar preso a algo que o consome.
O poema transmite a sensação de impotência e desespero, revelando a dependência do protagonista em relação a essa força dominante. A metáfora do vampiro assume a figura do opressor, demonstrando como, mesmo desejando a libertação, o protagonista está intrinsecamente ligado àquilo que o aprisiona, tornando-se incapaz de se livrar desse ciclo vicioso.
Essa obra de Baudelaire convida à reflexão sobre as relações de poder e submissão, além de explorar a dualidade entre o desejo de libertação e a dependência emocional ou psicológica que frequentemente nos aprisiona.
A riqueza simbólica e a intensidade emocional presente no poema fazem de "O Vampiro" uma peça fundamental da poesia baudelairiana, convidando o leitor a adentrar nos complexos labirintos da mente humana.
O VAMPIRO
Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste,
Tu que, qual furiosa manada
De demônios, ardente, ousaste,
De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
- Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,
Como ao baralho o jogador,
Como à carniça ao parasita,
Como à garrafa ao bebedor
- Maldita sejas tu, maldita!
Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao veneno, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.
Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
"Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque a escravidão,
Imbecil! - se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"