ÍNDIOS
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(Re)Engenharia do Rock
Leonardo Daniel
ÍNDIOS
Legião Urbana – Renato Russo
Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha
Quem me dera, ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano de chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera, ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
Quem me dera, ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Quem me dera, ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade, então, deixar um Deus tão triste
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir
Nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Quem me dera, ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
Acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes
Quem me dera, ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos: Obrigado
Quem me dera, ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir
Nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui
Análise Pessoal:
Em “Índios” temos na tenacidade da letra uma história de amor. Um amor puro e agredido como o de Peri e Ceci. (Ela não fala necessariamente de indígenas, mas na pureza vinda deles para esse casal. O dharma das boas ações, o ouro, foi usado para curar o mal, com todos seus erros, que acumulam o karma. Não é só o ouro – metal, mas sim o ouro das virtudes e da pureza do espírito, eles o mal, sempre em dívida com a vida, e com as coisas da natureza, convenciam o casal (índios) que eles eram amigos. Deixando um grande vazio existencial (Se alguém levasse embora até o que eu não tinha – isso leva à loucura). Aqui o linho nobre dos veículos da alma, viram pano de chão reivindicado pelo mal. E dado como se fosse uma guerra de fliperama, uma brincadeira. Mas é real. Porque: “Que o que aconteceu ainda está por vir/E o futuro não é mais como era antigamente”. Algo em definitivo mudou, pois ainda está em mudança. E aqui vai uma crítica à ganância e ao materialismo, (que quem tem mais do que precisa ter/Quase sempre se convence que não tem o bastante) e quer mais e mais. O mal é feio, por isso:
Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente
O simples é o mais importante e sua verdade é refletida no espelho, já os ladrões de almas, não conseguem se olhar no mesmo espelho. O mundo doente. Se esconde nos dogmas e convicção, como por exemplo: um só Deus é três e fora assassinado por vocês... (É só maldade, então, deixar um Deus tão triste)
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do iní¬cio ao fim
Toda essa entrega para curar e dar tempo ao mal, já era sabida pelo eu lírico (Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda) e assim com esse gesto ele pode trazer o interlocutor caído para de volta à luz, pois ele, o interlocutor conhece a alma do eu lírico. E mesmo eles tendo cumprido a missão ainda está faltando alguma coisa, a saudade que ele sente, de tudo que ele ainda não viu. O mundo ainda não é perfeito porque as pessoas ainda não são felizes. Somos ingratos perante o Salvador. Pelo menos uma única vez o nome Dele que está em tudo, deveria ser o Amor incalculável de todos. Tentei chorar e não consegui.
À guisa de conclusão:
Para entender essa música, ao menos a letra dela, tem-se que ir além do óbvio e achar que ela fala especificamente de indígenas vilipendiados pelos europeus, não é só disso que ela fala, ela fala da queda de anjos para equilibrar a balança da justiça e da misericórdia, a balança entre o bem e o mal, por amor à humanidade, pois assim ele pôde trazer o casal de anjos caídos (índios) de volta pra ele e pro céu. Pois na verdade, ele descobriu que só seria feliz com eles - que os conhecem do início ao fim.
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Leonardo Daniel
17/07/2023