O poema "Pássaro Cativo" de Olavo Bilac aborda a temática da liberdade e da natureza selvagem, utilizando a metáfora de um pássaro capturado para expressar a ideia de aprisionamento e a busca inata pela liberdade.
O eu lírico representa o pássaro como uma criatura que, mesmo recebendo alimento e abrigo luxuosos, anseia pela sua liberdade e pelo ambiente natural de onde veio.Na primeira estrofe, o eu lírico descreve o ato de aprisionar o pássaro usando um alçapão. Após ser capturado, o pássaro é colocado em uma gaiola dourada e recebe todos os cuidados necessários, como alpiste, água fresca e ovos.
A segunda estrofe explora a contradição entre o aparente conforto da gaiola e a melancolia do pássaro, que se mostra arrepiado e triste, recusando-se a cantar. O eu lírico revela que os pássaros, mesmo tendo suas necessidades atendidas, expressam sua dor apenas através do canto, uma linguagem que os humanos não compreendem.
A terceira estrofe é uma dramatização imaginária da fala do pássaro se pudesse se expressar. Ele rejeita a gaiola e manifesta seu desejo de voar livremente na natureza. O pássaro critica a prisão imposta, preferindo um ninho simples na selva e desdenhando das riquezas oferecidas.A última estrofe sugere que se o pássaro pudesse falar, sua expressão de aflição tocaria profundamente a alma da criança que o mantém cativo.
O eu lírico personifica a mão da criança como tremendo ao abrir a porta da prisão, simbolizando um ato de compaixão e libertação.
O poema "Pássaro Cativo" é uma reflexão sobre a natureza intrínseca da liberdade e a necessidade de respeitar a essência selvagem e indomável dos seres vivos. Utiliza a figura do pássaro como um símbolo poderoso da busca incessante pela liberdade, mesmo diante de confortos materiais oferecidos em cativeiro.
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi…
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas…
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade…
Quero voar! voar!…”
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…