O poema "Estátua Falsa" de Mário de Sá-Carneiro é uma exploração lírica e melancólica da perda de significado e do vazio existencial. O eu lírico descreve uma sensação de desencanto e desilusão em relação à vida, onde a tristeza, a falta de mistério e a passagem do tempo deixaram sua marca.

 

Na primeira estrofe, o eu lírico faz uma metáfora usando a ideia de "ouro falso" para descrever seus olhos que se douram. Isso sugere uma falsa riqueza ou brilho em sua visão, uma ilusão de algo precioso que, na realidade, é falso. Ele se compara a uma "esfinge sem mistério no poente", perdendo seu enigma e sua aura de enigma.

 

Na segunda estrofe, o poema aborda a tristeza que o envolve, afirmando que ela desceu em sua alma de forma velada, como uma sombra persistente. A dor que ele sente parece interromper sua paz interior, misturando "gomos de luz em treva". Isso pode ser interpretado como a interrupção da esperança e da clareza pela escuridão da tristeza.

 

A terceira estrofe sugere que a vida continua sua jornada implacável, sem causar mais o mesmo impacto no eu lírico. Ele não é mais assombrado por segredos e mistérios, e a vida não o inspira ou o amedronta como costumava fazer.

 

Na quarta estrofe, o poema retrata o eu lírico como uma "estrela ébria" que perdeu os céus e uma "sereia louca" que deixou o mar, simbolizando a sensação de desligamento da realidade e da fonte de sua inspiração. Ele se compara a um templo prestes a ruir, sem um deus que o mantenha de pé, sugerindo um estado de abandono espiritual.

 

A última estrofe reforça a ideia de que o eu lírico é uma "estátua falsa" erguida no ar, desprovida de significado e vazia de propósito. O poema expressa uma sensação de desolação e desencanto em relação à vida e à falta de um significado ou propósito claro. É uma reflexão melancólica sobre a passagem do tempo e a perda de inspiração e mistério na vida do eu lírico.

 

Só de oiro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como ontem, para mim, hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...