O poema "Alvorada do Amor" de Olavo Bilac é uma exploração intensa do amor e do pecado, usando a história de Adão e Eva como pano de fundo. O eu lírico descreve um cenário sombrio, onde o mundo está amortalhado em silêncio profundo no "dia do Pecado". A atmosfera é carregada de horror e escuridão, simbolizando o momento da queda de Adão e Eva no Éden.O poema retrata Adão tentando persuadir Eva a se juntar a ele e a abraçar o amor, apesar de terem pecado.
A imagem de Eva hesitando, olhando o deserto e tremendo, representa a incerteza e a culpa. Adão encoraja Eva a se entregar ao amor e a renovar o pecado, abençoando o seu crime e acolhendo o seu desgosto.Bilac utiliza uma linguagem sensual e ousada para descrever a paixão entre Adão e Eva, destacando a união física e emocional entre eles. A referência ao corpo nu de Eva e à cabeleira solta simboliza a entrega total ao desejo e à paixão, desafiando as consequências do pecado original.
O poema enfatiza a natureza e a sua reação à paixão, descrevendo como a cólera de Deus afeta a terra e o céu. No entanto, o eu lírico acredita que o amor é mais poderoso que a ira divina e que tudo renascerá em nome desse amor.O poema culmina com uma celebração do amor e do pecado, retratando Adão como homem livre de Deus, redimido e sublime, graças ao amor de Eva.
A conclusão destaca a ideia de que o amor é capaz de redimir e elevar a humanidade, tornando o homem superior a Deus.Em resumo, "Alvorada do Amor" é um poema que explora a dualidade do amor e do pecado, usando a história de Adão e Eva como uma metáfora poderosa. Ele celebra a paixão e a entrega total, sugerindo que o amor pode transcender o pecado e elevar a humanidade a um estado superior.
Um horror grande e mudo, um silêncio profundo No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse: "Chega-te a mim! entra no meu amor,
E à minha carne entrega a tua carne em flor!
Preme contra o meu peito o teu seio agitado,
E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!
Abençôo o teu crime, acolho o teu desgosto,
Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!Vê! tudo nos repele! a toda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,
Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios; As estrelas estão cheias de calefrios;
Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...
Vamos! que importa Deus?
Desata, como um véu,
Sobre a tua nudez a cabeleira!
Vamos!Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;
Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos; Surjam feras a uivar de todos os caminhos;
E, vendo-te a sangrar das urzes através, Se emaranhem no chão as serpes aos teus pés...
Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto, Ilumina o degredo e perfuma o deserto!
Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,
Levo tudo, levando o teu corpo querido!
Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:Tudo renascerá cantando ao teu olhar,
Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,
Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas!Rosas te brotarão da boca, se cantares! Rios te correrão dos olhos, se chorares!
E se, em torno ao teu corpo encantador e nu,
Tudo morrer, que importa? A Natureza és tu,
Agora que és mulher, agora que pecaste!
Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime!
Porque, livre de Deus, redimido e sublime,
Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!"