O poema "Vozes de Um Túmulo" de Augusto dos Anjos é uma reflexão profunda sobre a mortalidade e a futilidade da existência humana. O eu lírico, que aparentemente já faleceu, expressa seu sentimento de desolação e desilusão diante da vida e da morte.
Na primeira estrofe, o eu lírico começa declarando sua morte e como a Terra, personificada como "a mãe comum", apagou o brilho de seus olhos. A referência a Tântalo, um personagem da mitologia grega, que foi condenado a sofrer eternamente com a sede e a fome no Hades, é usada para transmitir o sofrimento do eu lírico ao longo da existência. A imagem de Tântalo servindo as carnes de seu próprio filho enfatiza a ideia da degradação e da tragédia.
Morri! E a Terra — a mãe comum — o brilho
Destes meus olhos apagou!… Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!
Por que para este cemitério vim?!
Por quê?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra, porque não tem fim!
No ardor do sonho que o fronema exalta
Construí de orgulho ênea pirâmide alta,
Hoje, porém, que se desmoronou
A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que apenas sou matéria e entulho
Tenho consciência de que nada sou!
O eu lírico questiona a razão de ter chegado a esse cemitério e por que enfrentou o angustiante caminho da vida. Ele se pergunta se teria sido melhor não ter nascido, em vez de experimentar a finitude da existência. O sentimento de desamparo e desespero é acentuado pela sugestão de que o caminho que palmilhou é assustadoramente infinito.
Na segunda estrofe, o poeta descreve sua jornada de construir uma "pirâmide alta" de orgulho no ardor de seus sonhos e aspirações. Essa pirâmide representa suas ambições e sua busca por significado na vida. No entanto, ele relata que essa construção desmoronou, deixando-o apenas com a consciência de sua própria insignificância e mortalidade.
"Vozes de Um Túmulo" é um poema que confronta o leitor com a efemeridade da vida e a sensação de que, apesar de todas as aspirações e ambições humanas, a morte é inevitável e, no final das contas, somos todos apenas matéria e entulho. É uma obra que mergulha nas profundezas da angústia existencial e na fragilidade da condição humana.