O poema "Saudade" de Augusto dos Anjos é uma expressão intensa dos sentimentos do eu lírico em relação à dor, à descrença e à saudade. Nesta obra, o poeta mergulha profundamente em suas emoções, criando uma atmosfera de melancolia e reflexão.

O poema inicia com a imagem da mágoa que apunhala o peito do eu lírico, causando uma dor imensa. O eu lírico, no entanto, abraça essa mágoa, pois parece que ela é a única coisa que resta para ele em meio à descrença. Isso sugere que a mágoa se torna uma espécie de refúgio, um sentimento que o conecta à sua própria humanidade em um mundo descrente e cético.

 

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

 

À noute quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

 

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

 

À noite, quando a alma do eu lírico se recolhe na solidão, a saudade é representada como um "círio triste", ou seja, uma vela acesa que ilumina a alma descontente. A saudade serve como uma luz na escuridão da vida do eu lírico, lembrando-o de tempos passados, de amores perdidos e de momentos que não podem ser recuperados.

O poema sugere que o eu lírico se acostumou à mágoa, ao tormento, à dor e ao sofrimento, e que eles são uma parte intrínseca de sua existência. A saudade, por sua vez, é apresentada como uma lembrança que sangra o peito, mas, ao mesmo tempo, a alimenta de alguma forma. Isso ilustra a complexidade das emoções humanas, onde a tristeza e a saudade podem ser dolorosas, mas também fornecer um tipo de nutrição emocional, conectando o eu lírico às suas próprias experiências e à sua humanidade.

 

"Saudade" é um poema que explora a relação entre a dor, a descrença e a saudade na vida do eu lírico. Augusto dos Anjos utiliza uma linguagem poética profunda para expressar a complexidade das emoções humanas e como esses sentimentos podem servir como âncoras em um mundo marcado pela incerteza e desilusão.