O poema "Esperança" de Augusto dos Anjos é uma obra que ressoa com a dualidade da condição humana, explorando temas como esperança, crença, descrença e ilusão. Através de sua linguagem poética, o autor tece uma análise profunda da natureza efêmera e contraditória da vida.

O poema inicia com a afirmação de que a esperança não murcha, não se cansa, e não sucumbe à descrença. Ela é representada como algo resiliente, algo que persiste apesar das adversidades. Essa ideia de esperança como algo que "não sucumbe a Crença" sugere que a esperança transcende as fronteiras da fé religiosa ou convicções pessoais, sendo um sentimento intrínseco à condição humana.

 

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença do fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro -- avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!

 

No entanto, o poema também questiona se a esperança é, de fato, uma sentença que nos mantém presos a este mundo ilusório. A ilusão é um tema recorrente na obra de Augusto dos Anjos, e ele sugere que a esperança pode ser um dos laços que nos mantêm aprisionados neste mundo de sofrimento e desilusão.

A segunda estrofe do poema adverte que muitas pessoas infelizes não consideram a importância da esperança em suas vidas. Elas podem se deixar levar pela descrença e, assim, sucumbir à sensação de que o mundo é uma ilusão completa. A esperança, no entanto, é representada como uma luz que guia os jovens, incentivando-os a acreditar em um futuro melhor.

 

A conclusão do poema é marcada pela voz do autor, que também espera o fim de seu tormento na voz da Morte, uma metáfora que sugere que a morte pode ser vista como um alívio do sofrimento terreno. A palavra "descansa" encerra o poema com uma sensação de resignação diante da condição humana.

 

"Esperança" é um poema que explora a ambiguidade e a complexidade da esperança, destacando seu poder de persistência, mas também questionando se ela nos mantém presos em uma ilusão. Através de sua poesia, Augusto dos Anjos nos convida a refletir sobre o significado da esperança em nossas vidas e sobre a inevitabilidade da morte como um possível descanso do sofrimento.