Pichação

No grafite, grito riscado

Murais de palavras habitam

Arte germina no asfalto

(Valéria Pisauro)

Abri, aleatoriamente, a Antologia Poetrix 8 - Infinito. Encontrei, no sobressalto, o poetrix Pichação.

Confesso que o título despertou, em mim, a curiosidade poética. Achei interessante e instigante, uma vez que, essa modalidade é considerada crime no nosso país.

A pichação iniciou no final dos anos 1960 em Paris, período da contracultura e das revoluções estudantis.

O grafite surgiu em meados dos anos 1970 na cidade de Nova York, quando jovens começaram a registrar marcas e desenhos nos muros da cidade.

A pichação é diferente do grafite.

Um esclarecimento: enquanto a pichação é feita sem permissão e com intuitos geralmente subversivos, o grafite é feito com autorização e em ambientes artísticos e/ou abertos..., tendo um conceito por trás.

É importante observar, de início, que o poema já nos mostra que se trata de um tema controverso.

O grafite geralmente se veste de mensagens sociais, mas, ainda assim, finca o dedo nas feridas das comunidades. Aflora os problemas intensos, promove uma visão mais apurada da sociedade e dos indivíduos que compartilham os mesmos valores éticos e culturais.

Já a pichação ganha contornos diferentes e bem mais controversos.

A expressão "grito riscado" no primeiro verso, passa a ideia de que o grafite é um desenho feito por extenso: algo comprido, que tende a ser longo. É um desabafo, cunhado a partir do asfalto, como iremos encontrar depois, já no terceiro verso. Sendo possível, inclusive, compreender a ideia de asfalto... Tendo duplo sentido: o palpável e o figurado.

"Murais de palavras habitam". Um verso aliciante, parece que foi escrito de trás para a frente. Tem-se a impressão de que foi feito às avessas. O usual séria, palavras habitam murais.

Me fez lembrar a "competência" do ex-governador de São Paulo, que usou avental, máscara e óculos de proteção, para posar de mocinho da mente cinza e apagar, pessoalmente, os desenhos e palavras, que tomavam conta da avenida 23 de Maio.

"Arte germina no asfalto". Um verso onde a poesia transborda, vai além das palavras que o representam.

Finalmente, um poetrix que me fez repetir... E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 28/09/2023
Reeditado em 05/11/2023
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