"Círculo Vicioso" é um poema de Machado de Assis que apresenta uma reflexão sobre a insatisfação e a busca constante por algo que está além do alcance. O poema é uma representação poética de como a inveja e o desejo podem ser um ciclo interminável.

 

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!


“Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

“Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela
“Mas a lua, fitando o sol com azedume:

“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume”!


Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vagalume?”…

 

O poema é composto por três estrofes de quatro versos cada uma, seguindo a forma de um soneto. Essa estrutura clássica realça a sensação de repetição e circularidade no tema.

 

Personifica elementos naturais - o vagalume, a estrela, a lua e o sol - atribuindo-lhes desejos e sentimentos humanos. Essas personificações são usadas para transmitir a ideia de que todos desejam algo que não têm, mesmo aqueles que parecem possuir algo desejável.

 

A obra retrata a inveja e a insatisfação constante. O vagalume deseja ser uma estrela, a estrela deseja ser a lua, a lua deseja ser o sol, e o sol, por sua vez, deseja ser um simples vagalume. Essa sucessão de desejos mostra como a busca por algo mais sempre parece inatingível.

 

O poema é permeado de ironia, já que as entidades desejam algo que parece melhor, mas, na realidade, cada uma delas tem suas próprias limitações e desvantagens. Essa ironia realça a futilidade desses desejos.

 

Embora o poema lide principalmente com desejos individuais, também pode ser interpretado como uma crítica à sociedade que valoriza o status e a posição social. Os desejos das entidades refletem a aspiração por uma posição mais elevada na hierarquia social, mesmo que isso signifique insatisfação constante.

O título "Círculo Vicioso" enfatiza a ideia de que a busca incessante por algo mais pode ser um ciclo interminável e autodestrutivo. Nenhum dos personagens alcança satisfação, sugerindo que a verdadeira felicidade pode residir na aceitação do que se é.

 

"Círculo Vicioso" de Machado de Assis é um poema que explora a natureza humana e suas tendências à inveja e à insatisfação constante.

 

Ao personificar elementos naturais, o poema destaca como esses sentimentos são universais e como a busca incessante por algo mais pode ser fútil e autodestrutiva. É uma obra que convida à reflexão sobre a importância da aceitação e da gratidão pelo que se tem.