A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

 

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

 

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro!


E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

 

Análise 

 

Neste poema, Florbela Espanca utiliza a metáfora de "A Minha Dor" como um convento ideal para expressar intensamente seu sofrimento e angústia emocional. Através dessa metáfora, a poetisa cria uma atmosfera sombria e melancólica que permeia todo o poema.

 

No primeiro verso, Espanca descreve sua dor como um "convento ideal", sugerindo que sua dor é um espaço isolado e inacessível, como um lugar sagrado e ao mesmo tempo recluso. Ela descreve esse convento como cheio de claustros, sombras e arcarias, evocando uma imagem de escuridão e reclusão.

 

A imagem da pedra em convulsões sombrias com linhas esculturais refinadas sugere a intensidade e a complexidade de sua dor. A poetisa expressa que sua dor é algo de grande valor estético, embora seja profundamente perturbadora.

 

Os sinos que dobram com agonias e têm sons de funeral ao bater horas reforçam a ideia de que sua dor é como um luto constante. A dor está presente o tempo todo, como uma contagem incessante de momentos dolorosos.

 

Na segunda estrofe, a poetisa descreve lírios roxos, macerados de martírios, como algo tão belo que nunca foi visto por ninguém. Essa imagem de beleza paradoxal ressalta a complexidade de suas emoções e da própria dor. Os lírios roxos representam a beleza que pode emergir da adversidade.

 

A última estrofe intensifica a sensação de isolamento e solidão. Florbela Espanca descreve suas noites e dias no convento de sua dor como um ciclo de rezar, gritar e chorar, mas ela sente que ninguém a ouve ou vê. Essa solidão profunda e o silêncio que a rodeia enfatizam a natura natureza solitária e insuportável de sua dor.

 

 "A Minha Dor" de Florbela Espanca é um poema profundamente emocional que usa a metáfora de um convento para expressar a intensidade do sofrimento interior da poetisa. A obra evoca uma sensação de reclusão, solidão e luto perpétuo, enquanto também destaca a beleza que pode ser encontrada na dor e na expressão artística.