O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta.
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer
E são precisos sonhos pra partir.
Eu bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
Doutro amor impossível que há de vir!
ANÁLISE
No poema "Amor que morre" de Florbela Espanca, a poetisa explora a complexidade das emoções ligadas ao término de um relacionamento amoroso. Através de sua poesia, ela descreve a surpresa e a melancolia que muitas vezes acompanham o fim de um amor.
A primeira estrofe sugere uma sensação de incredulidade diante do fim do relacionamento. A poetisa se pergunta quem teria previsto ou imaginado que o amor chegaria a esse ponto. Ela se sente desorientada, como se estivesse cega pela paixão, incapaz de perceber o tempo que passava.
Na segunda estrofe, Florbela Espanca reconhece que, de fato, estava ciente de que o amor estava morrendo. No entanto, ela vislumbra a possibilidade de um novo começo, representado pelo "outro clarão" que desponta ao longe. Isso pode ser interpretado como a esperança de encontrar um novo amor ou a busca por uma nova perspectiva de vida.
A terceira estrofe traz a ideia de que os enganos do amor são passageiros e muitas vezes nos levam em direção a novos horizontes. A luz da "miragem fugidia" sugere a transitoriedade das paixões e a constante busca por algo mais.
A conclusão do poema é marcada pela aceitação da poetisa de que o amor é uma parte essencial da vida, tanto para viver quanto para morrer. Ela reconhece a importância dos sonhos e da esperança de um novo amor que está por vir, mostrando que o ciclo do amor é eterno e renovador.
O poema de Florbela Espanca aborda a dualidade do amor, destacando a tristeza e a desilusão do término de um relacionamento, mas também a esperança e a possibilidade de um novo começo. Sua poesia é um reflexo das emoções humanas complexas e universais ligadas ao amor e ao seu ciclo interminável.