CADEIRAS PROIBIDAS...IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO...
Ao ler "Cadeiras Proibidas" do escritor Ignácio de Loyola Brandão , confesso que me surpreendi com seus contos surrealistas; tive até uma certa dificuldade para compreender a mensagem dos seus contos, pois embarcamos em um mundo muito irreal e fantasioso, não traz de forma explícita o que o autor quer nos transmitir.
Tais contos foram escritos na época da ditadura militar, então o autor tinha que "driblar" a censura, motivo pelo qual os contos são escritos metaforicamente, com ironia, sarcasmo, irreverência, porém com bom humor; os seus personagens causam estranheza, bem como estranhos são os nomes dos seus contos.
Dessa forma, ler Ignácio de Loyola é obrigatoriamente se inserir no contexto histórico da época, onde predominava a censura, as relações de poder dominantes e não havia a liberdade de expressão.
Através das artes, das músicas e das escritas, os artistas e escritores tentavam dar voz a esse momento de cerceamento dos seus direitos, tentando passar as suas mensagens através das metáforas.
Penso que Ignácio de Loyola conseguiu através dos seus contos mostrar os sentimentos de perplexidade, de medo, de insegurança que povoavam o imaginário das pessoas, dissolvendo
tudo isso em fantasias .
Cadeiras Proibidas traz 38 contos divididos em contos do Cotidiano, Corpo, Clima, Mundo, Indagação, Descoberta, Ação e Vida.
Vamos perceber que aqui as pessoas nunca foram "normais".
Nos contos do Cotidiano se destaca "Os homens que descobriam cadeiras proibidas" e "A jovem que não quis atravessar a rua".
Um homem se transforma em barbante , mostrando a fragilidade da vida; mulheres para viver contam janelas; as pessoas contam mentiras até a mentira se tornar verdade; um homem para evitar o sofrimento quer apagar as suas memórias ; o homem e as pedras que gritavam; o homem que atravessava portas de vidro; a jovem que tentava entender a utilidade; o homem do furo na mão; o homem que dissolvia xícaras, etc...
O livro é um convite, um mergulho para nos surpreendermos com a loucura e a irracionalidade.
Acredito que este período da nossa história nunca será esquecido principalmente para aqueles que conviveram diretamente com o regime vigente da época.
Entender aquele contexto social e político é importante para entender as relações de poder existentes hoje; porém, nada justifica as mortes, as torturas, as prisões, perseguições, os desaparecimentos das pessoas.
Como entender tantas atrocidades cometidas contra tantas pessoas, e estendendo o tema, como entender tanto ódio, ganância, as guerras que hoje assolam o mundo, onde milhares de pessoas são exterminadas , como aceitar o poder bélico ?
A história está escrita e ela sempre vai deixar marcas e repercussões e influencia os meandros da relação tão complexas entre o Estado, a sociedade e o indivíduo.
Como está na contra capa :
"Nos anos 70 a situação era complicada. Havia a ditadura que mantinha a censura, proibia livros, filmes, peças teatrais, discos, o que viesse e discordasse dela. Desconfiava-se de tudo e de todos. Um clima de suspeição e medo pairava no ar. Um pouco como hoje diante de violência, assaltos, sequestros, tiroteios entre traficantes ou polícia e traficantes.
Quem escrevia vivia em suspense: serei publicado? Publicado, serei proibido?".
"As novas gerações se acostumaram a viver dentro de um Brasil , onde o que é, não é. E o que parece ser, é.
O mundo que está dentro das casas e das portas fechadas aqui se revela em toda a sua fantasia. Um big brother poético, revelador... Nossas vidas.
E pensem se não somos todos personagens".
Do livro: Cadeiras Proibidas.
(Ignácio de Loyola Brandão).
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Queridos amigos Recantistas, esse artigo foi escrito sem viés ou cunho político.
As escritas tem como objetivo alargar as reflexões de cada um de nós, jamais pode ter como objetivo a polarização.
Ganhamos quando somamos os saberes , quando respeitamos o ponto de vista do outro, em uma atitude de empatia e respeito pela sua forma de pensar.
Achei muito inteligente a maneira como Ignácio de Loyola Brandão escreveu os seus contos, metaforizando, devido a censura naquele período.
Esse livro é mesmo surreal e instigante , inclusive é muito indicado para atividades em sala de aula nas escolas.