Análise do curta-metragem “Laços (Ties)" (2009)
CÉLIO JR. Laços (Ties) - Project: Direct. Youtube, 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gl74J-aAnfg&ab_channel=C%C3%A9lioJr.>. Acesso em: 02 ago. 2021.
Análise do curta-metragem “Laços”¹
Antonio Carlos Valentini²
¹ Texto elaborado na disciplina de Análise Do Discurso, Profa. Dra. Márcia Andrea dos Santos.
² Acadêmico do 5º período do curso de Licenciatura Em Letras Português-Inglês da UTFPR/Campus Pato Branco - 2021/1.
O curta-metragem “Laços (Ties)” (2009), dirigido por Flávia Lacerda e interpretado por Célio Porto, Clarice Falcão e Jô Abdu, retrata a história de uma menina que foge do enterro de seu pai e se encontra com um rapaz desconhecido, que a pede para enlaçar a sua gratava.
Após ter uma conversa ambígua sobre laços com o rapaz, a menina vai para casa e depara-se com sua mãe guardando os pertences de seu falecido pai em uma caixa. Ela junta-se à mulher enlutada e pede uma lembrança de seu pai. Prontamente, sua mãe entrega-lhe uma foto do homem no dia em que se conheceram. Surpreendentemente, o rapaz na imagem assemelha-se com aquele conhecido há poucos minutos.
Assim sendo, o presente curta-metragem será analisado a partir de seus signos ideológicos intrínsecos, baseando-se em Bakhtin (Volóchinov) (2006), e das concepções de Análise do Discurso de linha francesa, propostas por Orlandi (2000). Além disso, esta análise atentará a questão da ideologia, tanto na concepção de Chauí (1980) quanto na de Althusser (1970), à luz das definições de “discurso”, “objetos do discurso” e “conceito” concebidas por Foucault (1969).
Para começar, citemos Orlandi (2000):
[...] os sentidos não estão só nas palavras, nos textos, mas na relação com a exterioridade, nas condições em que eles são produzidos e que não dependem só das intenções dos sujeitos (ORLANDI, 2000, p. 30).
Dessa forma, iremos não somente analisar as falas produzidas pelas personagens, mas também os elementos que compõem a cena: o laço, a rosa e a fotografia.
A palavra “laço”, motivo do nome do curta-metragem, “Laços (Ties)” (2009), pode significar, por exemplo, um “nó corredio facilmente desatável”; ou, também, uma “armadilha ou rede para apanhar caça”. O menino utiliza-se dessa primeira definição, vestindo um laço que precisa ser atado — “Eu sou apenas uma pobre criatura que precisa de alguém que dê um laço na sua gravata.” —, buscando fazer uma comparação com o sentido figurado dessa palavra, que é “pacto entre indivíduos ou grupos de indivíduos para determinada finalidade; aliança, vínculo, união”, de modo a sensibilizar a moça e provar para ela que, apesar da morte de seu pai, o laço — de vínculo, amor, união — entre eles continua firme e nunca se desatará.
De acordo com Bakhtin (2006, p. 17),
a palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra as menores variações das relações sociais, mas isso não vale somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a “ideologia do cotidiano”, que se exprime na vida corrente, é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias constituídas.
Além disso, cumprindo-se no processo da relação social, todo signo ideológico e, também, o signo linguístico, são marcados pelo horizonte social de uma época e de um grupo social determinados (BAKHTIN, 2006).
As palavras carregam vários significados que são construídos a partir das ideologias inerentes a tal época e grupos sociais envolvidos. Assim, outra noção sobre a palavra “laço”, que também pode ser associada ao curta-metragem, é que o laço e a cor preta convencionaram-se como símbolos do luto. Nas redes sociais é comum ver-se publicações apresentando um laço e a cor preta para simbolizar a perda de um ente querido. Além da questão dos laços afetivos, citada anteriormente, essa fita em forma de laço, no ocidente, representa a “consciência”, enquanto a cor preta, presente nas vestimentas de dias de velório, simboliza a tristeza.
Segundo Volóchinov (2006, p. 31), o signo ideológico é “um fragmento material” da realidade, isto é, possui “[...] uma encarnação material, seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer”. De forma semelhante, Bakhtin (2006) propõe o signo como semiótico e como produto ideológico de uma realidade. Para ser semiótico, todo signo precisa de um corpo físico/material e de uma significação. Desse modo, toda representação ideológica deriva de uma situação social organizada por indivíduos.
O laço, portanto, o qual tem a forma de “fita” (corpo físico/material), além de denotar “vestimenta”, conota “vínculo” ou, ainda, “consciência”. Nesse sentido, “ao lado dos fenômenos naturais, do material tecnológico e dos artigos de consumo, existe um universo particular, o universo de signos” (BAKHTIN, 2006, p. 30). Os signos também são objetos naturais, específicos, e todo produto natural, tecnológico ou de consumo pode tornar-se signo e adquirir um sentido que ultrapasse suas próprias particularidades (BAKHTIN, 2006). Além do mais, “a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc.” (BAKHTIN, 2006, p. 40), como, a exemplo do curta-metragem, em uma situação de velório e em uma fase de luto.
Da mesma forma, a palavra “laço”, ao denotar vários significados, forma um termo polissêmico. Para Orlandi (2000, p. 38) “a polissemia é justamente a simultaneidade de movimentos distintos de sentido no mesmo objeto simbólico”. Sendo assim, o objeto simbólico “laço” possui movimentos diferentes de sentido ao longo do vídeo. Quando o personagem diz que “é bobagem chorar por laços que parecem desfeitos, mas que continuam firmes”, a interpretação pode dar-se tanto por meio do laço feito na gravata que ele está usando, quanto do laço de união existente entre a garota e o seu falecido pai.
Nessa perspectiva, a polissemia presente no vídeo tem um discurso lúdico, pois a sua existência dá ao telespectador a oportunidade de divagar entre os múltiplos significados de “laço”. Orlandi (2000, p. 86) considera o discurso lúdico como “aquele em que a polissemia está aberta, o referente está presente como tal, sendo que os interlocutores se expõem aos efeitos dessa presença (...)”.
Entretanto, apesar desses vários conceitos da palavra, a possibilidade de interpretar-se “laço” como um elo existente entre pai e filha só dá-se por meio do contexto representado no curta-metragem, isto é, das enunciações. De acordo com Orlandi (2000, p. 30) “(...) as circunstâncias da enunciação: é o contexto imediato”. Ou seja, no processo de enunciação, o sujeito marca-se no que diz. “O enunciado é o lugar da interpretação, manifestação do inconsciente e da ideologia na produção dos sentidos e na constituição dos sujeitos” (ORLANDI, 2000, p. 59). Sendo assim, se o pai da garota não tivesse falecido, se ela não tivesse fugido do funeral de seu pai, os enunciados — os quais são sempre suscetíveis de serem/tomarem-se outro — gerados no diálogo poderiam ter sido interpretados pelos telespectadores de forma que a palavra “laço”, bastante mencionada, representasse apenas um nó em uma gravata.
Outro elemento — corpo físico/material — que se notabiliza no vídeo é a rosa, a qual se configura como um símbolo de demonstração de carinho, amor e saudades por uma pessoa que partiu. Outrossim, ela pode emblemar paixão, sangue e carne. Além disso, o cristianismo adota a rosa como o símbolo de Maria. Nesse contexto, “o signo ideológico vive graças à sua realização no psiquismo e, reciprocamente, a realização psíquica vive do suporte ideológico” (BAKHTIN, 2006, p. 17). Porém, os objetos, enquanto tais, não são, de maneira alguma, signos. A rosa (flor), assim como o laço (fita), podem ser associados a signos ideológicos, mas essa associação não apaga a linha de demarcação existente entre eles. O laço e a rosa possuem suas formas particulares que não são apenas justificáveis pelas suas funções de objetos/bens/produtos de consumo; essas formas possuem também valores, mesmo que primitivos, de signos ideológicos (BAKHTIN, 2006) — existem diversos tamanhos de laços bem como diversas cores de rosas.
Na medida em que o curta-metragem “Laços (Ties)” (2019) vai se desenrolando, percebe-se a presença de outro tipo de intertextualidade, a paráfrase. Consoante Orlandi (2000, p. 36),
os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado.
Dessa maneira, um exemplo dessas diferentes formas de expressar a mesma ideia podem ser vistas na fala do personagem masculino ao referir que a “falta de preparo” da sua companheira de cena para lidar com seus próprios sentimentos é uma “perda de tempo”, pois inevitavelmente ela teria que lidar com isso em algum momento de sua vida: “O nome disso poderia ser algo como ‘falta de preparo para lidar com uma situação específica’. Mas eu prefiro chamar de ‘perda de tempo’. Afinal, se você vai ter que lidar com uma situação específica, melhor encarar logo o fato.”
Vale destacar, nesta análise, que é pela presença da fotografia no final do curta-metragem que o mecanismo de antecipação é inserido. Orlandi (2000, p. 39) alude que “esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte”. Sendo assim, no momento em que sua mãe entrega-lhe uma fotografia de seu pai na época em que se conheceram, a menina imediatamente reconhece o rapaz como sendo o mesmo com quem ela havia se encontrado minutos antes. Desse modo, a intenção proposta pelos criadores do curta-metragem foi concluída com êxito, já que convence os espectadores de que o menino era o espírito/sinal do pai da menina.
Outro ponto de importante destaque é o aparecimento da memória discursiva, ou seja, de “uma estratificação de formulações já feitas mas esquecidas e que vão construindo uma história de sentidos” (ORLANDI, 2000, p. 54). Essa memória discursiva altera-se à medida em que o público recebe as informações passadas pelo curta. Logo, o laço não corresponde a apenas um laço de gravata, mas a uma ligação parental; a rosa não representa só uma flor, mas simboliza o amor entre pai e filha; e o menino desconhecido não retrata um simples menino, mas sim seu amado pai.
À vista disso, no curta-metragem “Laços”, é explicitada a metáfora justamente dessa palavra, trazendo vários significados da mesma a partir do desenvolvimento das ações. De acordo com Chauí (1980), um dos traços fundamentais da ideologia consiste em tomar as ideias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais ideias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as ideias elaboradas. “Esse ocultamento da realidade social chama-se ideologia” (CHAUÍ, 1980, p. 8).
Nesse sentido, observa-se, por parte da garota, uma tentativa de fugir da realidade, de ir o mais longe possível, de desnorteamento: “eu não tô indo. Eu tô vindo”. A trilha sonora de fundo, com a música "Austrália", escrita e cantada por Clarice Falcão, a própria atriz que interpreta a menina, também remete a essa fuga: “I could run to Australia, I could fly to Japan (...)” (Eu poderia correr para a Austrália, poderia voar para o Japão (...)). Isso é ocasionado pela perda de seu pai, ou seja, por uma quebra da linearidade da realidade que faz com que a pessoa tente retomar/retornar à “normalidade”. Contudo, esse é um caminho sem volta e o indivíduo precisa adaptar-se à situação.
Segundo Chauí (1980, p. 30),
A ideologia não é um processo subjetivo consciente, mas um fenômeno objetivo e subjetivo involuntário produzido pelas condições objetivas da existência social dos indivíduos.
Nesse sentido, Chauí (1980) revela, indiretamente, que a ideologia é um “fato social” justamente porque é produzida pelas relações sociais, possuindo razões muito determinadas para surgir: razões históricas que fazem o ser humano agir de determinada forma (subjetiva) involuntariamente. No caso, a reação perante a perda de um membro familiar, fato sempre presente (atemporal) nos diversos contextos sociais, é um motivo de desestabilização e, com o tempo, superação. Mas, pode ser encarado de outra(s) forma(s) a depender do contexto dos indivíduos.
Já Althusser (1970, p. 77) trata a ideologia como “uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as suas condições de existência”. Assim, ele expõe que a ideologia é uma representação de uma relação imaginária necessária, porque é necessário que aquilo que é concreto seja simbolizado de alguma forma. Por exemplo, a representação do luto como fuga a “lugares inalcançáveis”, na qual entram, de certa forma, sentimentos de falha, de ausência, frutos do inconsciente que refletem no cotidiano. Isso faz com que a relação de sujeito com as suas condições reais de existência seja uma relação imaginária e que precisa ser representada pela ideologia. O fato de guardar-se uma foto, um “souvenir”, de lembrar-se de um cheio, dentre outras coisas, também servem de alento à memória e ao coração.
Dando continuidade à análise, passamos à perspectiva de Foucault (1969). Conforme este, os discursos,
tais como podemos ouvi-los, tais como podemos lê-los sob a forma de texto, não são, como se poderia esperar, um puro e simples entrecruzamento de coisas e de palavras: trama obscura das coisas, cadeia manifesta, visível e colorida das palavras; gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma língua, o intrincamento entre um léxico e uma experiência; gostaria de mostrar, por meio de exemplos precisos, que, analisando os próprios discursos, vemos se desfazerem os "laços" aparentemente tão fortes entre as palavras e as coisas, e destacar-se um conjunto de regras, próprias da prática discursiva (FOUCAULT, 1969, p. 54-55, grifo meu).
Nesse viés, Foucault (1969) transmite que os discursos são feitos de signos, mas que esses signos são utilizados para muito mais do que simplesmente designar coisas. Existem vários tipos de discursos e inúmeras formas de serem abordados por meio da língua, do ato da fala.
O discurso do luto, da perda, da morte, é percebido de forma diferente entre os povos, com visões, rituais e cores distintas. Os aparelhos ideológicos (ALTHUSSER, 1970) – a comunidade, a igreja (religião), a escola, etc. – influenciam na transmissão das concepções desse discurso para a população. A cor “preta” no ocidente e a cor “branca” no oriente simbolizam o luto pelo mundo. No curta, ressaltam-se, de cor preta, as vestimentas e as maquiagens das personagens. Existem culturas que vêem a morte com alegria por tratar-se de uma “passagem”, diferentemente do que ocorre no curta-metragem em questão, que apresenta uma visão ocidental de morte; uma perspectiva que está enraizada na sociedade ocidental há séculos e que se torna natural (involuntário), como pode-se perceber nas expressões da personagem principal, na sua voz abatida.
Ademais, Foucault (1969) explica que a organização do “conceito” compreende as formas de sucessão e, entre elas, as diversas disposições das séries enunciativas; os diversos tipos de correlação dos enunciados; os diversos esquemas retóricos segundo os quais se podem combinar grupos de enunciados.
Nesse contexto,
As escolhas teóricas excluem ou implicam, nos enunciados que as efetuam, a formação de certos conceitos, certas formas de coexistência entre os enunciados (...). Não foi a escolha teórica que regulou a formação do conceito; mas ela o produziu por intermédio das regras específicas de formação dos conceitos e pelo jogo das relações que mantém com esse nível (FOUCAULT, 1969, p. 82).
Assim, dentro do discurso do luto para a cultura em questão, delineado no curta, a morte é, sim, um conceito que remete à tristeza – como dizem: “um vazio que nunca é preenchido” –, à algo difícil de ser suportado. Todavia, como é exposto no vídeo objeto de análise, ela pode ser trabalhada e tranquilizada por intermédio de memórias, de “laços”. O “laço” sinalizado em citação direta anterior de Foucault (1969) não tem nada a ver com os laços descritos no vídeo, mas foi sublinhado para sinalizar que existem diversos modos de uso da palavra “laço”, que podem transmitir diversos conceitos.
O curta-metragem evidencia e metaforiza, por meio de um “laço de gravata”, um “laço afetivo”: “Eu prefiro os laços firmes. Aqueles mais difíceis de se fazer e de se desfazer, mas que quando feitos e depois desfeitos podem se orgulhar de si próprios e falar com convicção: eu fui um grande laço”. O trecho acima, enunciado pelo garoto, revela essa duplicidade de sentido da palavra “laço”.
A menina, interpretada por Alice Falcão, corre desolada pelas ruas de sua cidade quando deixa cair uma flor e, ao erguê-la, surpreende-se com a aparição desse menino à sua frente, o qual pede para que ela amarre o laço de sua camisa. Após feito isso, depois de muitas falas, a garota sente-se melhor. Ao chegar em casa, depois de presenteada com uma foto de seu pai por sua mãe, ela descobre que o menino é parecido fisicamente com seu falecido pai; compreende que seu laço afetivo com seu pai nunca será desentrelaçado, apesar das circunstâncias. Assim, após "amarrar", além do "laço de camisa", o "laço afetivo", também sente-se melhor.
Para Foucault (1969, p. 50),
As condições para que apareça um objeto de discurso, as condições históricas para que dele se possa "dizer alguma coisa" são numerosas e importantes. Não se pode falar de qualquer coisa em qualquer época; não é fácil dizer alguma coisa nova; não basta abrir os olhos, prestar atenção, ou tomar consciência, para que novos objetos logo se iluminem e, na superfície do solo, lancem sua primeira claridade. O objeto não espera nos limbos a ordem que vai liberá-lo e permitir-lhe que se encarne em uma visível e loquaz objetividade; ele não preexiste a si mesmo, retido por algum obstáculo aos primeiros contornos da luz, mas existe sob as condições positivas de um feixe complexo de relações.
Dessarte, Foucault (1969, p. 37) alude que “objetos se perfilam e continuamente se transformam”. Dentro do discurso do luto, da perda, da morte, existem vários objetos inseridos (objetos do discurso), com conceitos que se diferem entre culturas e que podem mudar com o passar do tempo. As cores escolhidas, o silêncio, – ou, em alguns países, a celebração –, a tentativa de fuga são objetos que englobam esse discurso. As rosas, por exemplo, são objetos que podem remeter a sentimentos, lembranças, tanto boas quanto ruins. Em certos países, elas podem simbolizar “separação”. No curta-metragem em questão, elas são parte do cenário do objeto “velório”. São levadas pela moça e perdem-se pelo caminho. Assim, os objetos são mutáveis. Seus conceitos, também. Já os discursos, permanecem constantes. Eles continuam intocáveis com seus objetos e conceitos volúveis (FOUCAULT, 1969).
Em cada parte do vídeo, nos momentos pertinentes, é passado um trecho da música “Australia”, que apresenta uma evolução, da “tristeza” para a “superação”. Esses sentimentos são etapas de transição, objetos, necessários nesse discurso. O trecho final da música, que diz: “Someday somebody said to me, I think it was a man, ‘As long as you're okay with it’, And that I think I am” (Algum dia alguém me disse, acho que foi um homem, “desde que você esteja bem com isso”, e eu acho que estou), retrata o conceito, a mensagem, que o garoto queria expressar para a garota, o qual ela descobre quando vê a foto: que os laços e o amor continuam firmes e que seu pai ficará bem contanto que ela fique bem também.
Referências
ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Lisboa: Editorial Presença / Martins Fontes, 1970.
BAKHTIN, M. (V. N. VOLOCHINOV), 1986. MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Ed. Hucitec, 2006.
CÉLIO JR. Laços (Ties) - Project: Direct. Youtube, 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gl74J-aAnfg&ab_channel=C%C3%A9lioJr.>. Acesso em: 02 ago. 2021.
CHAUÍ, M. O que é ideologia. Revisão de José E. Andrade (2004), 1980.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária (2008), 1969.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios & procedimentos. Campinas: Pontes, 2000.