Um grilo em casa
melodia verde
cricrila a vida e eu canto
pequena esperança na parede
Estou sempre à procura de poetrix que me façam pensar e querer falar sobre eles. Que me encantem também e fustiguem minha cabeça inquieta e barulhenta. Hoje me vejo diante deste poetrix da poeta Lílian Maial. Eu o li e reli, algumas vezes, tentando escarafunchar suas linhas e entrelinhas. Ora de frente para trás, ora de trás para a frente. Um vaivém de deleite, nem sempre silencioso.
Minhas leituras são fatiadas.
Primeiro leio o título. Tento decifrar o que ele quer me dizer no todo. Reflito sobre as possibilidades que vão surgindo em minhas alucinações. Esqueço, a princípio, a leitura literal do texto. Para mim é o que menos importa, de início.
Vislumbrei duas premissas interessantes. Esta é uma característica marcante no poetrix: permitir várias interpretações.
Primeira: Um grilo em casa. Ele pode ser um problema, uma preocupação ou transtorno. Isto é um fato corriqueiro em nossas vidas do dia a dia. Fiquei com ela manquitolando em minha austeridade por alguns instantes preciosos.
Segunda: Um grilo em casa. Um inseto, um pequeno animal que traz significados mais comumente ligados à boa sorte em qualquer área de nossas vidas. Representa o salto, carrega uma mensagem de mudança, revelando a necessidade de se mover, caminhar, pular em outras direções.
Pois bem, parto então para o primeiro verso que diz: "melodia verde".
Ele está diretamente ligado ao segundo e terceiro versos. Essa conexão já nos passa a informação de que, o bicho, não é um qualquer, mas sim, um grilo verde barulhento.
Já no segundo verso, é importante observar o que a autora diz: "e eu canto".
Sinto como se ela estivesse dizendo que "louva_a_deus" com o seu canto, em uníssono com o cricrilar do Esperança.
Não se contenta apenas com o "canto" dele. Vai além do esperado.
O terceiro verso, para mim, é o mais significativo.
A expressão "pequena esperança" é bacana. Se o leitor não estiver atento, não vai entender nada de nada, vai remar, remar e morrer na trincheira da poesia.
Ela está falando de um animal bem pequeno. Na verdade, quando entra em casa, de livre e espontânea vontade, mesmo que seja diminuto, ele pode simbolizar para nós, prosperidade para a vida.
É intrigante observar que a autora é uma profissional da saúde, que vive e trabalha em uma metrópole. Uma cidadã urbana por excelência. Porém, o que ela nos descreve pode ser mais associado às pessoas que vivem em comunidades rurais ou pequenos povoados.
Chego a inferir que, como o grilo que pula, ela está dando um salto triplo do urbano para o bucólico.
Quem sabe até, em busca de uma vida mais tranquila e pacata.
Assim sendo, ouso dizer que este é um poetrix extremamente simbólico.
PS: Este poetrix me fez lembrar do "putzgrila". Tão usado na minha juventude. Expressão que surgiu com o jornal O Pasquim. Um dos símbolos da contracultura da época.
E viva a poesia!!!