Um de nós está mentindo
Quando cinco adolescentes, com praticamente nada em comum, entram em uma detenção e um deles acaba retornando para casa dentro de um caixão, o estranho incidente se transforma em um pesadelo de proporções inimagináveis. Os outros quatro jovens, que presenciaram os instantes finais de vida do colega, logo despontam como os principais suspeitos e enquanto o quebra-cabeça não é montado, novos mistérios passam a vir à tona, afinal cada um deles escondia uma convincente razão para o cometimento do assassinato.
Esse é o ponto fulcral para o estabelecimento do enredo de “Um de Nós Está Mentindo”, um thriller com pegada bem adolescente, assinado pela escritora norte-americana Karen McManus. A obra tem seu valor mesmo não se mostrando em momento algum uma leitura muito introspectiva, cravejada de reflexões acerca da vida. A narrativa reclama mais por outras facetas, como a de uma leitura fácil, altamente contagiante, envolvente por esbanjar capacidade de sequestrar o leitor carente de uma trama cativante.
A história é protagonizada por Nate, Cooper, Bronwyn e Addy, precisamente os quatro alunos do Colégio Bayview, principais suspeitos de articularem a morte de Simon. No entanto, muitos outros estudantes queriam a cabeça do jovem que mantinha um aplicativo de fofocas, responsável pela destruição da reputação de muita gente. Sendo assim, qualquer um desses muitos desafetos pode ter sido responsável por plantar os celulares nas bolsas dos estudantes durante a aula de um professor, bastante famoso por sua tolerância zero com o uso de apetrechos eletrônicos.
A narrativa também possui particularidades. Durante seu transcorrer é intercalado o ponto de vista do quarteto preponderante. O recurso possibilita delinear as figuras dramáticas com mais propriedade, permitindo conhecer mais efetivamente os elementos que permeiam o íntimo de cada um, conferindo singularidades em meio também a um conjunto de agruras. Assim, a princípio, acabam resumidos a meras cascas, clichês previamente formados em torno de famosos estereótipos como “estudioso”, “popular”, “desportista”, além do “transgressor”.
Apesar de dotado de certa previsibilidade, “Um de Nós Está Mentindo” evoca nos leitores mais maduros o período de adolescência, sem abrir mão de retratar um pouco das adversidades tão características dos tempos de escola. Tende desagradar àqueles mais ansiosos por um suspense brilhante, querendo ver irromper o detetive adormecido em cada leitor, embora em momento algum parecesse ser esse o intento da autora. Em suma, não é um livro ruim, mas também não atinge a condição de ótimo. A brevidade da narrativa permite ser das melhores pedidas para um daqueles fins de semana em que se está confinado em casa por conta da chuva ou uma fase marcada pela penúria.