Osmar Pereira Oliva apresenta a obra Vereda da Geografia Literária
Vereda da Geografia Literária, de Landulfo Santana Prado Filho
Escrever é uma arte; o escritor é, antes de tudo, um grande leitor. Uma obra de arte não se faz como em um passe de mágica, bem se vê. É preciso pesquisa, esforço, tempo de reflexão e absorção de todo o banquete cultural que está posto à nossa disposição. Um livro jamais será apenas uma história contada por um só narrador. Antes, será um coro de muitas vozes que nos precederam desde que o homem passou a se expressar como intérprete de memórias.
Na escrita literária, as liberdades são bem mais amplas e possíveis, o que não implica desordenação e genialidade, no sentido de que o artista evoque para si a paternidade original da criação. Nem mesmo um grande romancista premiado e reconhecido poderia ser tratado como inédito artífice. Um livro resulta, pois, de um coro de muitas vozes, as quais aparecem em camadas profundas da narrativa, seja ela histórica seja ela ficcional.
Um escritor escreve sobre suas experiências de vida, compreendendo suas origens, seus relacionamentos afetivos com as pessoas, com a sociedade e com o espaço. Sua vida é uma rede interligada à vida, à natureza, às histórias e aos espaços – físicos e imaginários. Uma das definições de “vereda” nos dicionários de Língua Portuguesa” é de caminho secundário por meio do qual se chega mais rápido a outros caminhos.
O livro do escritor Landulfo Santana Prado Filho é uma dessas veredas que brotam ainda no sertão norte-mineiro. Primeiro, porque é uma narrativa estreita e curta, utilizando-se de uma linguagem de fácil compreensão, apropriada para iniciantes leitores; segundo, porque aponta os caminhos e os pensamentos mais largos e mais espaçosos e mais fecundos e mais altos de um Hermes de Paula, de um Simeão Ribeiro Pires, de um Urbino Viana, de um Dário Teixeira Cotrim, de um Laurindo Mékie Pereira, para citar apenas alguns conhecidos narradores da nossa história sertaneja. Há, portanto, águas mais profundas para as quais os leitores devem se conduzir a fim de aproveitar as sugestões que o livro presente anuncia.
Vereda da Geografia Literária ecoa essas vozes todas da nossa historiografia, e vale como um livro de iniciação à leitura, conclamando o pueril leitor a investigar os dados históricos e os brevíssimos apontamentos geofísicos. Em tempos de extrema falta de interesse pela leitura, vale ainda pelo formato econômico, já que os blogs e os verbetes em Wikipédia dominam a cultura do letramento fácil e imediato. A vereda é um caminho estreito que conduz a caminhos mais largos. Na vereda há sempre um fio de água que desaguará em um rio mais profundo e de densas águas. Em um país carente de leitores e de leituras, cada livro cumpre a sua missão redentora de manter vivo um narrador e de não apagar de vez a arte de contar. Salve a palavra!
Osmar Pereira Oliva
Professor Universitário de Literatura Portuguesa
Confrade do Instituto Histórico de Montes Claros (IHGMC).