Esteriótipos femininos entediantes e previsíveis
Esteriótipos femininos, entediantes e previsíveis na série Peaky Blinders
Recentemente eu maratonei uma das minhas séries favoritas Peaky Blinders e dessa vez eu tive uma visão diferente sobre certas personagens da trama e escolhas narrativas. A série se passa nos anos 20 e 30, em um contexto de efervescência política e social no interior da Inglaterra. Há episódios e situações que se passam na França e Estados Unidos. A posição da mulher nesse contexto histórico é de submissão no âmbito pessoal e exclusão no âmbito político e social. Por outro lado, também há luta e revolta, estamos diante da eclosão dos movimentos feministas e de trabalhadores. E na minha opinião faltou personagens femininas realmente interessantes na série. Não que sejam ruins, eu gosto de todas, mas a construção narrativa que começa bem termina jogando-as no mesmo limbo da subserviência.
É uma das minhas séries favoritas. Sou supesita em criticá-la, sempre gostei de tramas que envolvem disputas de poder, de gangues e toda questão gangster. Mas como tudo que é bom pode melhorar e sempre tento avaliar o que gosto de forma menos apaixonada possível, falarei da maior falha de Peaky Blinders.
Apesar dos personagens brilhantes no núcleo masculino, destaque para o protagonista Thomas Shelby, o núcleo feminino é o ponto fraco da série.
Existem um número bom de personagens femininas e diria que todas têm muito potencial, mas não é isso que acontece. Todas as personagens são podadas e subjugadas por sua devoção aos personagens masculinos. As poucas vezes que tentam se destacar são abatidas ou por sua função como mãe e esposa ou simplesmente por sua fragilidade no universo dos negócios.
É compressível que a série abarca um período, extremamente, machista no qual a mulher realmente se escondia nas sombras dos provedores da casa, mas se tratando de uma obra ficcional creio que poderiam ter usado da liberdade criativa para construir personagens que mostrassem o outro lado da questão feminina daquele período.
Eu tive esperança quando apareceu Jesse Eden, sindicalista feminista, porta voz dos trabalhadores, mas logo a participação dela se limitou a se tornar mais uma amante manipulável de Tommy Shelby. Aliás, as únicas que não se renderam ao charme persuasivo do mafioso foram as suas parentes. Ok, Tommy é super poderoso e manipulador, mas se inserissem no mínimo uma personagem feminina forte que batesse de frente com ele sem se render às investidas sexuais daria à série um clima mais desafiador e autêntico.
Entendo que Polly, como uma das personagens mais fortes do núcleo feminino representou bem o papel da mulher independente e forte, mas isso se quebrou no decorrer das temporadas. Principalmente depois da chegada do seu filho perdido. A maternidade tornou-a vulnerável e a sua idolatria e total devoção ao filho lançou-a a um papel secundário e monótono. Não que mães não sejam mulheres fortes e devam proteger seus filhos, mas nesse caso, o uso da maternidade só reforçou o esteriótipo feminino de subserviência e dedicação supremas. Ou seja, reforçando uma imagem desgastada em torno das mães na ficção.
O que crítico na série é a falta de mulheres realmente revolucionáris que o clima histórico estava oferecendo. Alguma personagem que ameaçasse minimamente o poderio masculino nas relações de poder não por sua influência sexual ou emocional, mas simplesmente por ser tão fria e calculista quanto eles.
Como escritora vi em Peaky Blinders uma oportunidade única de explorar o universo gângster a partir da ótica feminina, e a cada nova personagem que era introduzida via essa promessa quase ser cumprida, mas sempre morria antes mesmo de de tornar algo possível.
Todas as mulheres da trama servem como muletas de seus esposos, irmãos ou filhos. E na maior parte do tempo só cumprem o papel de amantes do protagonista. Enfim, é apenas uma crítica sobre uma das minhas séries favoritas. Claro que o problema dos esteriótipos femininos previsíveis e entediantes não estão presentes apenas em Peaky Blinders, mas na maior parte das produções ficcionais.