UQ HOLDER! volume 2: a favela e a especulação imobiliária
UQ HOLDER! volume 2: a favela e a especulação imobiliária
Miguel Carqueija
Apesar da simpatia que os personagens principais inspiram, o mangá se perde no exagero e no aspecto de alguns membros da tal entidade UQ Holder, que quando abandonam a forma humana tornam-se monstros até com chifres, parecendo espíritos malignos.
Embora Ken Akamatsu seja um mangaká de talento, ele errou a mão na teratologia e colocou detalhes indigestos.
O fato é que, tendo reencontrado Yukihine, ao chegarem na comunidade da UQ Holder, Touta e Kuroumaru descobrem que a inclusão no grupo que Yukihine lidera não é tão fácil, pois exigem deles uma prova absurda: serem jogados num subterrâneo onde existem monstros devoradores. Lá encontram Jinbe Shishido, outro sujeito imortal que foi jogado lá há dois anos.
Conseguirem sair de lá em pouco tempo é uma contingência da história.
Resenha do volume 2 do mangá UQ Holder, de Ken Akamatsu. Editora JBC, São Paulo-SP, 2016. Editora Kodansha, Tokyo, Japão, 2013. Tradução: Edward Kondo. Volume com as fases (capítulos) 7 a 17 da história.
“Vocês por acaso conhecem a lenda urbana contada na Nova Tóquio? Que, sob a capital construída às pressas, existe um labirinto subterrâneo inescapável?”
(Gengorou Makabe)
“Francamente, olha só no que você me meteu. Eu estava calado do começo ao fim...”
(Kuroumaru Tokisaka)
“Não tenho culpa se só me ensinaram a lutar contra pessoas! É a primeira vez que vejo um monstrengo daqueles!”
(Touta Konoe)
“No século 21, a humanidade distribuiu a miséria igualmente por todo o mundo... Não tinha julgamento de valor nisso, era o curso natural da História. É a sombra que existe por trás de toda a riqueza das cidades.”
(Karin)
“Nós sempre estaremos do lado dos esquecidos, dos oprimidos e dos abandonados. Dos que são subjugados pela sociedade humana.”
(Karin)
A dupla vira trio quando certa Karin se junta a eles, apesar do desentendimento inicial — coisa comum em mangás. Adequadamente ela é uma jovem graciosa, não um monstro disfarçado. Mas antes que Touta e Kuroumaru — e Jinbe de quebra — saiam do subterrâneo imenso, surge a prova da espada que, fixa num lugar, precisa que alguém a retire. E Touta consegue finalmente porque descobre que a espada tem um botão para realizar este procedimento. Ou seja, uma “escalibur” mais sofisticada.
Depois o cenário muda para um abrigo de crianças administrado por freiras, dentro de uma imensa favela, e que está ameaçado por tipos sinistros, também dotados de poderes, ligados à especulação imobiliária.
Tem muita coisa grotesca com esse detalhe de imortais que, mutilados, se auto-regeneram, e a violência latente em muitos personagens. O próprio Touta perde um braço mas acaba por recuperá-lo. Touta é engraçado por causa de sua impulsividade, agindo sem pensar, enquanto Kuroumaru é centrado e reflexivo.
A presença das freiras assistentes sociais e da igreja católica com a cruz perfeitamente visível, sendo ajudadas pela UQ Holder — elas se recusam a vender sua propriedade para não abandonar as crianças pobres a quem servem alimentação — contrasta com a presença na UQ Holder de monstros que, quando não estão em forma humana, são grotescos e com chifres, parecendo demônios; aliás essa palavra chega a ser usada, embora no Japão seja muito utilizada (em diversos mangás e animês) num sentido diferente do ocidental, significando seres não-humanos e geralmente poderosos, mas corporais, que muitas vezes são malignos porém nem sempre.
E isso é bastante indigesto, na forma crua como aparece neste mangá. Embora o discurso de Karin seja humanitário. Em suma, um mangá onde os defeitos disputam feio com as qualidades.
Rio de Janeiro, 19 e 20 de janeiro de 2023.