Revival

Com menos de um decênio do seu lançamento, ocorrido em 2014, Revival é uma das obras recentes de Stephen king com aquela pegada mais clássica, despontando como uma narrativa que explora fanatismo e arcaísmo religioso, vício em drogas, fé aliada a esperança e efusivo sentimento de perda... Tudo isso transcorre sob o ponto de vista do protagonista Jamie, tendo como ponto de partida uma sombra a recair sobre um garoto, enquanto se dedica a brincar com seus soldadinhos de plástico no quintal.  

Revival não contém certos apelos como uma criatura sobrenatural travestida de palhaço, um hotel assombrado, um carro assassino ou mesmo um horripilante cemitério de animais que esconde outra necrópole capaz de trazer os mortos de volta à vida com um instinto mais maquiavélico... Apesar disso, a trama bem poderia compor a pilha das histórias mais aterradoras do mestre do terror e nas últimas páginas, apesar do sentimento de ter estado diante de um experimento inteligente, o leitor sucumbe ao desejo que irrompe de defenestrar logo a história da cabeça e expurgá-la, não é uma tarefa das mais fáceis.  

Mas, como foi dito, se a expectativa for por passagens repletas de sustos e aparições medonhas, como em alguns livros clássicos, o resultado indubitavelmente permeará o campo da frustração. Uma das cenas mais marcantes de Revival, e assustadora se vislumbrar suas nuances, é quando o reverendo Jacobs, um dos personagens centrais, tomado pela dor excruciante, não hesita em renegar sua fé, diante dos atentos olhos dos rebanhos que formam sua congregação, durante um sermão intenso e imprevisível.  

Uma história sobre fé, remissão e que traz a religião como tema central, sempre irá suscitar amplo debate e dividir opiniões, algumas até fervilhantes. Ainda mais quando imprime em suas linhas um tom demasiadamente pessimista e dotado de tiradas sarcásticas. Uma vez não se atendo em demasia a esses preceitos religiosos, Revival também é capaz de descortinar, sem abdicar de deixar o leitor muitas vezes incrédulo durante a experiência pelas mais de 370 páginas.