A maldição

“Todo mundo paga, mesmo por coisas que não fez”.  

Tão prazenteiro, quanto imergir na insólita obra de Stephen King, é o processo realizado durante a iminência de finalização de um livro visando eleger o próximo o qual me debruçarei durante as tardes e noites. Após matutar se iria encarar um livro mais clássico (Cujo, Trocas Macabras, A Incendiária, Misery), retornar a saga Torre Negra ou quem sabe defrontar com mais um livro de contos (Quatro Estações, Ao Cair da Noite, Escuridão Total sem Estrelas, Bazar dos Sonhos Ruins, Pesadelos e Paisagens Noturnas I e II), por ora acabei preterindo momentaneamente as opções. Estava mesmo sedento por encarar um trabalho assinado pelo mestre sob o pseudônimo de Richard Bachman e o escolhido para a incursão foi A maldição, comumente chamado de A Maldição do Cigano.  

Na trama, o advogado Bill Halleck gozava de prestígio, ostentando uma vida de bonança. Seus problemas começam quando acaba tirando a vida de uma velha cigana, durante fatídico acidente de trânsito. Influente, não demora a ser inocentado, mas o bom causídico deveria saber que existem outras maneiras de pagar por um erro. Em pouco tempo, o rechonchudo Halleck começa a secar, aparentemente, a cada dia a profusão de quilos é vertiginosamente drenada do seu corpo. A chave para o mistério, talvez o trunfo para impedir que se torne um amontoado de ossos, seja um fortuito episódio, ocorrido durante a saída do tribunal, quando um velho carcomido murmurou em seu ouvido as seguintes palavras: mais magro!  

Ao vestir-se do pseudônimo, o mestre do terror sobrepõe algumas de suas características, apostando em um experimento mais rugoso, explorando mais os limites das figuras dramáticas e definitivamente não se pode esperar por um desfecho feliz, nem nas mínimas possibilidades. Tendo lido aproximadamente 30% do livro, ainda não vi mostras tão fulgurantes de crueza, mas posso adiantar estar diante de uma narrativa circundante e cada linha desperta mais ânsia por permanecer vinculado à trama. Com um punhado de ventura, a leitura proporcionará parcamente absorver uma dose da maldição, suficiente para deixar de lado alguns quilinhos deveras indesejáveis.

Rafinha Heleno
Enviado por Rafinha Heleno em 14/11/2022
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