Misery

Histórias protagonizadas por personagens escritores são sempre atrativas, sobretudo para os postulantes a engenheiro do mundo das letras. E apesar de “Misery”, um dos clássicos de Stephen King, não decepcionar nada no aspecto construção metalinguística, estruturada através do protagonista Paul Sheldon, um autor de sucesso, tendo de lidar com Annie Wilkes, sua fã número um, conforme ela mesma se intitula, esse recurso narrativo vem gradativamente sendo sucumbido pelo horror psicológico arrebatador, suscitando no leitor não apenas inquietude como também sensação de confinamento, afinal boa parte da trama se passa em um frio cômodo escuro.

O caminho de Paul Sheldon com sua fã inveterada se cruza após o autor concluir seu novo livro, uma trama sem qualquer relação com o best seller “Misery” e seguir viagem durante uma nevasca, sendo vítima de um grave acidente. Por “sorte”, o bom autor foi resgatado por uma enfermeira aposentada, estando repleto de lesões e fraturas excruciantes. Mal sabia Paul que seus problemas estavam apenas começando e que muitos outros elementos ladeavam aquela “boa” samaritana.

Com o desfecho da trama, “Misery” até não poderá figurar como a história favorita, do Fiel Leitor, lançada por Stephen King, mas muito provavelmente deverá estampar seu Top sete e sem ocupar a última opção. O romance ainda eclode como uma bela pedida para os mais vorazes leitores, podendo facilmente ser devorado durante um final de semana, tendo toda a avidez testada diante de uma trama verdadeiramente angustiante por explorar com maestria a complexa e conturbada relação entre Annie e o grande ídolo de sua vida.

No entanto, diante da experiência proporcionada pelo texto, toda essa perspectiva antes elencada adquire contornos muito mais subversivos, uma experiência transcendente, abrindo margem para a crueldade, desespero e instantânea tensão. “Misery” até parece um organismo vivo, provocador, e, apesar da eficiente abordagem no processo de criação das histórias, o brilho resplandecente recai sobre Annie, em sua incessante luta para manter a sanidade mental e sobrepor o passado homicida. Embora, no fim, acabe sempre refém de sua personalidade mais maquiavélica.

A história termina e a tarefa árdua passa a ser o desapego. Afinal, ao que parece a Louca Obsessão não emergi apenas de Annie Wilkes.

Rafinha Heleno
Enviado por Rafinha Heleno em 18/05/2022
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