O Rochedo de Tanios, de AMIN MAALOUF
“O Rochedo de Tanios” é um romance de Amin Maalouf, publicado em 1993, em França, mas só traduzido para português no passado ano de 2021. Como em geral acontece na obra de Amin Maalouf, “O Rochedo de Tanios” é uma obra de inspiração histórica.
O protagonista é o jovem Tanios. No entanto, os textos de apresentação da obra dizem-nos que a figura principal é a bela Lamia e o interesse que a sua beleza despertou no senhor da região onde viviam. De facto, esta descrição é apenas de carácter comercial, apenas um apelo ao interesse de um possível comprador.
A acção do romance tem a ver com a situação do Líbano na passagem do século XIX para o século XX, pouco antes da I Guerra mundial, quando o Egipto dominava a região que era simultaneamente disputada pela Inglaterra...
Um dos interesses maiores desta obra diz respeito aos aspectos da vida quotidiana nessa época ainda tão próxima dos nossos dias. Na época retratada no romance, os costumes ainda mantinham aspectos medievais, ainda o senhor possuía as mulheres que lhe agradassem, ainda era reverenciado como um pequeno rei todo-poderoso pela população da aldeia e de toda a província, quase como num antigo feudo. Mas há ainda a salientar a crueldade da "justiça" desse tempo, com punições corporais de consequências irreparáveis. E ainda a tradição comummente referida como "vendetta".
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Amin Maalouf é um escritor nascido no Líbano (1949), mas que se fixou em França a partir de 1975.
A sua obra reparte-se pelo romance de carácter histórico, e pela própria História. Assim, Amin Maalouf estreou-se como escritor com uma obra de grande fôlego, em 1983: “As Cruzadas Vistas Pelos Árabes”. O Autor faz a história das Cruzadas, mas à luz das crónicas árabes, contrapondo-as aos registos considerados - ou divulgados - no mundo de cultura europeia. É uma obra fundamental para conhecimento deste fenómeno da expansão europeia, a partir do século XI.
Uma obra sua que muito apreciei, foi “Samarcanda”. Amin Maalouf dá-nos a sua perspectiva sobre a biografia do grande poeta persa, Omar Khayyam.
Recentemente, em 2019, Amin Maalouf publicou "Le Naufrage des civilisations", onde reflecte sobre os problemas do nosso tempo, e deixa um apelo à responsabilidade colectiva quanto ao futuro da Humanidade...
Uma obra sua menos conhecida, é o libreto para a ópera “L’ amour de loin” (O amor de longe). Esta ópera celebra o amor do trovador Jauffré Rudel por uma princesa longínqua, a quem se refere como “o amor de longe”. Esta ópera - cujo libreto é de Maalouf e a música é do compositor finlandês Kaija Saariaho - inspira-se no “amor cortês”, a filosofia do amor que dominou os poetas trovadores do Sul de França, no século XII, e que se divulgou pela Europa.
Obra de Amin Maalouf, segundo a Wikipedia:
Romances:
• Leão, o Africano (1986)
• Samarcanda (1988)
• Os jardins de luz (1991)
• O século primeiro depois de Beatriz (1992)
• O rochedo de Tanios (1993)
• Escalas do Levante (1996)
• O périplo de Baldassare (2000)
• Origens (2004)
• O amor de longe
Ensaios:
• As identidades assassinas (1998)
• As Cruzadas vistas pelos Árabes (1983)
• Um Mundo Sem Regras (2009)
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Quanto à vida quotidiana nos últimos tempos do Império Otomano, recordo uma obra que li na minha adolescência - “As desencantadas”, do escritor francês Pierre Loti (1850-1923).
“Les Désenchantées” é uma obra de 1906, ainda própria da fase do Orientalismo, uma moda europeia de apreço pelos mundos exóticos de outras culturas. Por outras palavras, uma moda derivada do Colonialismo europeu. Mas isso seria tema para outra crónica!
Myriam
Abril de 2022