Escuridão Total Sem Estrelas
Como bom leitor fiel, não podia titubear diante do insidioso convite, por parte do mestre do terror, de encarar mais uma coletânea de contos. A única exigência, para incursionar pelas páginas de “Escuridão Total Sem Estrelas”, era que me embrenhasse na obscuridade ingente, proporcionada pela mente errante de Stephen King através de quatro contos enevoados e inebriantes, tanto que mesmo após finalizar a leitura por dias pude mirar sombras espraiadas por todos os cantos e assim...
As quatro histórias a integrar a obra evocam nas entrelinhas elementos como avidez, desejo por vingança, mentira, até invídia e repugnância. Começando pelo ótimo “1922”, o conto mais extenso da coletânea com aproximadamente 150 páginas. A narrativa traz o fazendeiro Wilfred James e seu infeliz casamento com a esposa que passou a deter em torno de 100 acres de terras e a contragosto do marido pretende vendê-las para morar na cidade, levando o único filho do casal. Em contrapartida, Wilfred não está disposto a entregar os pontos e poderá recorrer a medidas extremas para realizar seus anseios. A trama, em suma, mostra como os homens, diante do preço de suas escolhas, tornam-se reféns e isso os perseguirá para sempre.
Em “Gigante do Volante” o leitor é apresentado a Tessa, uma conhecida autora de livros de suspense que é violentada sexualmente enquanto retornava para casa após ministrar uma palestra. A história dá vazão a uma realidade aterrorizante: o mal pode estar à nossa espreita, agindo sem que possamos supor, como parte de uma trama sórdida. Além disso, mostra como as pessoas são capazes de se “transformar” após serem submetidas a eventos traumáticos.
A terceira e mais breve história é “Extensão justa”. Inusitada, é o termo que melhor se adequa a trama, protagonizada por Dave, que está com seus dias contados por conta de uma doença incurável. Durante um passeio, acaba interagindo com um desconhecido que lhe “vende” uma “extensão” para a vida. Nem é preciso dizer que há um preço para tamanha dádiva e o conjunto de acontecimentos é deveras surpreendente.
“Um bom casamento” fecha a coletânea. Darcy sempre acreditou manter um bom casamento, já perdurando por mais de 20 anos. Inesperadamente, descobre que o companheiro esconde uma realidade assombrosa e que durante tanto tempo esteve dormindo com o inimigo. Sendo impossível conhecer inteiramente o íntimo das pessoas, nunca é tarde para descobrir que, literalmente, está dividindo a vida com um monstro.
Como sugere o título, “Escuridão Total Sem Estrelas” é uma obra sombrosa e para se debruçar sobre ela é preciso experienciar a escuridão. Eclode como uma bela pedida para uma noite, não daquelas com o céu cravejado pelo fulgor das estrelas, combinando mais com uma atmosfera tempestuosa, adornada pela sonância do vento ensandecido.