Análise do poema “Valediction: Forbidding Mourning” (Despedida: Proibindo o Pranto), de John Donne, realizada na disciplina de Literaturas De Língua Inglesa: Poesia

Valediction: Forbidding Mourning

As virtuous men pass mildly away,

And whisper to their souls to go,

Whilst some of their sad friends do say

The breath goes now, and some say, No:

So let us melt, and make no noise,

No tear-floods, nor sigh-tempests move;

'Twere profanation of our joys

To tell the laity our love.

Moving of th' earth brings harms and fears,

Men reckon what it did, and meant;

But trepidation of the spheres,

Though greater far, is innocent.

Dull sublunary lovers' love

(Whose soul is sense) cannot admit

Absence, because it doth remove

Those things which elemented it.

But we by a love so much refined,

That our selves know not what it is,

Inter-assured of the mind,

Care less, eyes, lips, and hands to miss.

Our two souls therefore, which are one,

Though I must go, endure not yet

A breach, but an expansion,

Like gold to airy thinness beat.

If they be two, they are two so

As stiff twin compasses are two;

Thy soul, the fixed foot, makes no show

To move, but doth, if the other do.

And though it in the center sit,

Yet when the other far doth roam,

It leans and hearkens after it,

And grows erect, as that comes home.

Such wilt thou be to me, who must,

Like th' other foot, obliquely run;

Thy firmness makes my circle just,

And makes me end where I begun.

(John Donne)

O poeta jacobino John Donne (1572-1631), influenciado por autores anteriores como William Shakespeare e Sir Walter Raleigh, faz parte do período da literatura renascentista inglesa, mais precisamente da era jacobina. Escreve poemas metafísicos, com estilo metafórico, os quais valorizam a sagacidade e o jogo de palavras, empregando conceitos inventivos para criar uma boa argumentação e promover a persuasão. O poema em análise, “Valediction: Forbidding Mourning”, é escrito em 1611, quando a Inglaterra passa pelas mudanças da Reforma e do Iluminismo, assim como avanços científicos ocorrem. Na prosa, a razão e a lógica são enfatizadas; na poesia, a habilidade retórica é uma virtude.

Atentando-se à estrutura aparente do poema, nota-se a presença de nove estrofes (quadras) com quatro versos cada (36 versos). O segundo e o quarto verso de cada estrofe possuem um leve recuo à direita. No poema, prevalece o metro trímetro iâmbico, tendo três unidades iâmbicas por verso. Suas rimas são alternadas ou entrecruzadas: ABAB. Além disso, a maioria das rimas são ricas, contendo apenas quatro rimas pobres: noise/joys, fears/spheres (substantivos), is/miss, run/begun (verbos).

Neste poema há, além de metáforas, figuras de linguagem tais como símile, onde o eu lírico exprime que o ouro é batido tão firme que adquire a textura do ar, ou seja, ao comparar dois termos de sentidos diferentes para sublinhar o vínculo e a leveza das almas. Há, também, o paradoxo entre “movimentos da terra” e “movimentos do céu”, bem como entre o amor físico e o amor espiritual. Ademais, há aliteração, como, por exemplo, na primeira estrofe na qual o som constante de “s” leva o leitor a “sussurrar” como os moribundos.

Com relação à estrutura profunda do poema, depreende-se como conteúdo o assunto “poder da conexão espiritual para amenizar a dor da separação” e o tema do amor e da saudade, que é “amenizada” pela forte conexão de suas almas. Essa questão da separação e da distância faz parte da vida do autor, com sua cônjuge Anne More. Isso influencia e inspira a criação do poema. Observa-se no poema, também, a presença da analogia feita entre os amantes e os “pés” de uma bússola. Como será evidenciado posteriormente, o eu-lírico compara ele e sua amante com partes de uma bússola, afirmando que ambos continuam em sintonia mesmo longe um do outro. Outrossim, o poema critica a demasiada importância dada ao plano físico, enaltecendo a espiritualidade.

Isto posto, o percurso de sentido do poema dá-se da seguinte forma: na primeira estrofe, o eu-lírico transmite uma ideia, uma imagem de “bons homens morrendo em silêncio, pedindo para que suas almas deixem seus corpos”, o que causa dúvida em seus amigos que não sabem se esses homens já pararam de respirar ou não, para tomar como modelo e, na segunda estrofe, o eu-lírico, ao se despedir de sua amada, afirmar que devem se “separar” assim, silenciosamente, sem choros, suspiros e lamentações.

Na terceira estrofe, o eu-lírico continua suas exemplificações suscitando que desastres naturais, como terremotos, assustam os seres humanos, os quais se perguntam o porquê desses acontecimentos, mas que os movimentos do céu, os quais são mais significativos, passam despercebidos pelas pessoas comuns. Na quarta estrofe, o eu-lírico alude que essas pessoas comuns não conseguem lidar com a separação porque sentem um amor que depende da conexão sensual, necessitando de um vínculo físico.

Na quinta estrofe, o eu-lírico afirma que ele e sua amante têm um vínculo mais raro e especial, estando ligados mentalmente, metafisicamente. Desse modo, na sexta estrofe, o eu-lírico aduz que, embora ele tenha que partir, suas duas almas não serão despedaçadas; pelo contrário, se expandirão, “como ouro batendo a finura do ar”, com a distância não sendo um problema.

Na sétima estrofe, o eu-lírico faz mais uma comparação, transmitindo que se suas almas são realmente individuais, elas estão ligadas da mesma forma que as pernas de uma bússola. A alma do amante sendo como o pé de uma bússola que, embora não pareça se mover, responde ao movimento do outro pé. Na oitava estrofe, o eu-lírico reitera que quando o outro pé da bússola se afasta, o pé estacionário muda seu ângulo para se inclinar naquela direção como se desejasse ficar mais perto de seu parceiro; quando o pé em movimento retorna, o pé estacionário fica reto novamente. Tudo isso demonstra uma forte conexão entre os dois amantes.

Por fim, na nona estrofe, o eu-lírico afirma que sua amante será como seu pé estacionário enquanto ele deve percorrer um caminho tortuoso e indireto: enquanto deve partir. A posição fixa dela fornece-lhe estabilidade para criar um círculo perfeito, que termina onde começou, trazendo sua amante para si outra vez. Portanto, o eu-lírico revela que sua amante que está em casa esperando é o centro e ele é o ponto mais distante, que está navegando, longe dela – mas, quanto maior a distância, maior é a união.

Para mais, Lima (1984) afirma que

no poema «metafísico» a organização da matéria verbal, o discurso, corresponde pictoricamente a uma teia, e uma teia é uma espécie de rede com um centro, uma rede onde é difícil fugir (LIMA, 1984, p. 254).

Assim, há um conceito central no poema que é a imagem de uma bússola, a qual o eu-lírico utiliza para falar sobre o movimento das almas unidas. Há uma teia persuasiva que o eu-lírico se vale para defender a ideia de que o amor, mesmo separado pela distância, permanece duradouro e circular como o movimento de bússola, transformando seu fim em um começo.

REFERÊNCIA:

LIMA, José Luís Araújo. A poesia dos Metafísicos: modos da expressão e o efeito de "awareness": I - wit. Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literaturas. Porto. Vol. 1, p. 247-259, 1984. Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/8900/2/artigo3951.pdf>. Acesso em: 11 de out. de 2021.