NATAL NA BARCA
"NATAL NA BARCA", DE LYGIA FAGUNDES TELLES
“Natal na Barca”, conto de Lygia Fagundes Telles, é a minha história de Natal preferida.
Nós brasileiros, estamos habituados a ler contos natalinos de outros países em que as paisagens são de neve, os personagens são estranhos a nossa cultura como papai Noel, duendes, elfos, e outros símbolos.
Lygia nos apresenta um cenário nosso, de verão, para narrar uma história que se passa numa barca, (mas poderia ser em uma lotação – van ou ônibus), na noite de Natal.
A barca navegando no rio, em metáfora, simboliza a travessia, a viagem que fazemos no mundo, durante nossas vidas, na companhia de pessoas estranhas.
A narradora, que pela descrição pode ser a própria Lygia, passa boa parte do tempo em silêncio, introspectiva, presa em seus pensamentos.
Ela não quer falar com ninguém, não quer socializar, não quer envolver-se nos "tais laços humanos".
Senta-se ao seu lado, uma mulher jovem, miúda, professora, pobre, que carrega uma criança doente nos braços e precisa chegar até o outro lado do rio para levá-la ao médico.
É o sentimento negativo e depressivo da narradora de que as coisas não estão boas para o lado dessa mulher, que a leva a dizer “a água está fria”, referindo-se ao rio; e a mulher a responder “amanhã estará quente”.
Frio e quente, desespero e esperança, desamparo e amor, fé e descrença, serão o direcionamento da conversação entre as duas mulheres.
A narradora está presa na desesperança, enquanto a jovem, apesar de todas as evidências contrárias, falará da esperança.
No diálogo entre as duas, apesar das revelações de desgraças e tristezas, que a jovem mãe viveu e ainda vive, e por certo ainda viverá, não a impede de afirmar "Deus nunca me abandonou", e a proclamar a frase que demonstra possuir a a fé que remove montanhas: “Eu creio !”.
A fé na vida dessa mãe desamparada, pobre e frágil, desconcertará a narradora requintada, que deposita suas certezas e confiança na vida nos papéis contidos na pasta elegante que carrega nos braços.
Enquanto a jovem deposita as suas esperanças na vida da frágil criança adoecida que carrega no colo.
O conto é melancólico, e a jovem mãe, com suas palavras, levará a narradora até a beira do abismo, do rio gelado que os cerca, para contemplar como estamos solitários na imensidão do universo e nas incertezas da vida.
Mas o final, essa mesma pobre mulher, levará a narradora e a todos nos à redenção; ao triunfo da vida sobre a morte.
Pois ela, ao levantar o chalé que recobre o seio e o bebê, descortinará a maravilha de Deus na criação dos homens.
O leitor será levado a pensar: o que acabou de assistir foi um milagre? Ou apenas o resultado de uma avaliação errada feita por um coração entristecido?
A jovem mãe, (que na descrição do conto assemelha-se muito a Maria, mãe de Jesus), ao final desejará, a nós todos: "Então, bom Natal!- disse ela,enfiado a sacola no braço."
E a estes votos recebemos com alegria.
O conto, que espero ter despertado o desejo de leitura nos leitores, carrega todos os ingredientes cristãos ministrados simbolicamente pelo nascimento do menino Deus;
Vale muito á pena a leitura.
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”Natal na Barca” – é um conto de Lygia Fagundes Telles, inserido na obra “Antes do Baile Verde”, de 1958.
Lygia Fagundes Telles, ou Lygia Fagundes da Silva Telles (nascida Lygia de Azevedo Fagundes; São Paulo, 19 de abril de 1923), as vésperas de completar 100 anos, é a maior escritora brasileira viva. Suas obras retratam temas clássicos e universais como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia. Homenageada nacional/internacionalmente, tornou-se, em 2016, aos 92 anos, a primeira mulher brasileira a ter sido indicada ao prêmio Nobel de Literatura. Ainda não ganhou... mas quem perde é o Premio Nobel de literatura.
Para ler o conto basta digitar "conto natal na barca" no google. Vivemos tempos de facilidades.
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Obrigado pela leitura.
24 de dezembro / 2016 + 5