O silêncio dos inocentes
Hoje decidi assistir, finalmente, The silence of the lambs, O silêncio dos inocentes (o cordeiro é um evidente símbolo de inocência). Lembrei que o professor Olavo escrevera uma análise sobre o filme, eu sabia disto antes de assistir. Esta análise fora publicada inicialmente sob o formato de apostila no início dos anos 1990 e que, mais tarde, ganhou, juntamente com outros ensaios, um formato definitivo em livro sob o título e subtítulo respectivos de A dialética simbólica, Estudos reunidos. Pois bem, decidi que somente leria a análise depois de assistir ao filme -- um desafio que só quem tem sobrinhos pequenos correndo pela casa e, sem a menor sombra de compaixão, exercendo o constante monopólio da tevê, entende. Hoje, aproveitando a ausência de todos os possíveis elementos distrativos, decidi aproveitar as horas livres da tarde para assistir The silence of the lambs -- e, claro, ler a análise do professor Olavo.
O texto do professor, embora publicado há trinta anos!, preenche uma lacuna na atual crítica cinematográfica brasileira. O próprio autor do texto, nos parágrafos introdutórios da análise, plenamente consciente da atividade de resgate, de restauração de uma "alta" crítica cinematográfica ("alta" na acepção mesma de identificada com uma tradição que representa, na arte do cinema, aspectos da condição humana já representados na arte da literatura), se vê obrigado a explicar o constante desacerto da crítica atual. E o objeto que exemplifica este desacerto é precisamente a crítica publicada no Brasil sobre o filme em questão.
As interpretações feitas da trama no Brasil, carregadas de um preconceito anticristão e de um falido crivo através do qual só passam as paixõezinhas baratas, os sentimentos reprimidos, as explicações do Dr. Freud e de Nietzsche, não ousam -- ou por receio de parecerem "conservadoras" demais, ou por serem burras mesmo -- ascender às definições mais precisas da coisa. É isso. No ensaio interpretativo sobre o filme, o professor Olavo dedica-se a analisá-lo indicando precisamente quais são os símbolos, as imagens que sintetizam os dramas existenciais reais, ali presentes. São símbolos que representam o conflito entre a alma racional e o Demônio; signos que, sob a forma da linguagem cinematográfica, revelam aspectos reais dos conflitos da vida humana.