A SUCESSORA X REBECCA e a questão do plágio.
Sobre a polêmica que envolve o romance Rebecca e A sucessora, deixo aqui algumas observações a respeito para refletirmos juntos. Longe de ser um parecer ou um julgamento, trata-se apenas da opinião de quem leu intensamente os livros.
A primeira impressão que tive foi de que apesar de terem elementos muito parecidos, são histórias diferentes. O desenvolvimento de cada uma delas é totalmente diferente e o desfecho também. Ambas são ótimas histórias, que trazem questões interessantes sobre determinada época do Brasil e da Inglaterra, mas que são épocas diferentes também, assim como as questões levantadas por cada narrativa. Quanto mais eu tentava ver semelhanças, mais diferenças encontrava.
Para ter outras referências, li também Encarnação de José de Alencar que foi escrito em 1893, ou seja, bem antes dos dois romances citados. O que achei mais incrível é que para mim pareceu haver mais semelhanças entre Encarnação e Rebecca, do que entre Rebecca e A sucessora. O final então é surpreendente, as duas histórias (Encarnação e Rebecca) terminam com um incêndio da casa, cena icônica e muito simbólica.
Assim como muitos leitores fiquei intrigada com a semelhança desses romances e fui investigar mais a fundo a questão e para minha surpresa descobri que "o fantasma da segunda esposa" é um tema recorrente em romances do séc. XIX e começo do séc. XX, e acontece muitas semelhanças entres outros livros mais antigos além desses, e curioso é que geralmente são histórias escritas mais por mulheres do que por homens. Esse é um bom tema a ser explorado e investigado, mas para isso é necessário dispor de tempo para ler tantas obras e estudá-las com cuidado, para não correr o risco de fazer julgamentos precipitados, supérfluos e rasos. Infelizmente não disponho desse tempo agora, mas deixarei essa pista para ser seguida em outro momento mais adiante.
E sobre a suposta questão do plágio, sinceramente acabei me esquecendo dela. Porque ao mergulhar na leitura desses três livros de temática tão interessante, várias questões sobre relacionamentos, o papel da mulher na sociedade delimitado pelo patriarcado, a instituição casamento, a hipervalorização da maternidade, independência feminina, vilania, feminicídio, etc. , acabaram sendo muito mais interessantes de pensar e debater do que descobrir quem copiou o que de quem. Para mim isso se tornou irrelevante no final das contas.
Acredito que a literatura é acima de tudo um diálogo. Uma troca de inspirações, ideias e inovações. Acho que não cabe a mim, mera leitora sentenciar quem está certo ou errado nessa questão do suposto plágio. A própria Carolina Nabuco, mesmo tendo todas as condições de encarar um processo jurídico e reivindicar alguma coisa a respeito, desistiu de fazê-lo. Talvez essa questão nem fosse tão importante para ela, como tem sido para muita gente que descobre o fato. Ou talvez, depois de muitos anos tenha se arrependido de não ter levado o processo adiante e por isso resolveu denunciar o ocorrido em sua autobiografia. Provavelmente nunca saberemos. Então, penso que levantar julgamentos, determinar sentenças, ser advogado ou juiz de uma escritora ou de outra, acaba nos tirando a atenção daquilo que realmente importa enquanto leitores, o prazer de ler as obras.
Caso você tenha chegado a esse texto e não leu ainda as resenhas que fiz de cada um dos livros acima, saiba que elas estão disponíveis aqui no Recanto das Letras, pesquise em meus textos publicados.
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