ANÁLISE E RESENHA DO LIVRO "PENSAR FORA DA CAIXA", de Beni Dya Mbaxi
*SOBRE O LIVRO
Beni Dya Mbaxi, pseudónimo de Bernardo Sebastião Afonso, jovem escritor Angolano, autor de 5 livros - dentre eles destacando o romance "A ÚLTIMA MASOXI" -, CEO do movimento Literário Angolano JEZ” Jovens Escritores do Zoológico” e Colunista no Blogue cultural Brasileiro "INFORMATIVO DIVERSO", com dicas de Leituras. O livro foi publicado no ano 2020, tendo a sua 2ª Edição em Maio de 2021.
Em “PENSAR FORA DA CAIXA”, o nosso escritor Beni retrata-nos sobre o racismo, a sua visão contra o preconceito que, os negros de diversas partes do mundo têm sido vítimas. O livro surgiu após a trágica morte de George Floyd, o nosso irmão negro que foi assassinado em pleno dia de África, a comemoração do 25 de Maio de 2020, a data tornou-se um marco, por outro lado, as diversas vitimas do racismo de todo mundo, as grandes influências para o surgimento do livro, sem esquecer as experiências já vividas por ele mesmo quando adolescente. Os textos constados no livro, são textos de profundas meditação, uma visão profunda do autor. O racismo era uma tema que o escritor não tirava tanto partido, mas após as lágrimas que nunca cessam, os sofrer dos pretos, a falta de amor para com a nossa raça por parte do povo que acha-se superior, o que não era para ser, o forte impacto invadiu a consciência, alguma coisa precisava ser feito, nem que for gritar por meio das escrita.
* O MEU OLHAR
Em Angola, ainda é muito invulgar falar do racismo, quase que o tema não é muito abordado por razões desconhecidas, talvez acha-se um tabu. Graças às visões mais profundas de alguns músicos como Yanick Afroman, rapper angolano, o tema foi abordado publicamente na música "Realista", lançada em 2010, o que foi um motivo de diversas análises para os ouvintes, sem dúvidas uma alerta para o despertar, embora a população não olhe com outras visões daquilo que é o racismo. "Eu não sou racista, sou realista. Mwangolé precisa de uma lição de moral para se libertar da escravidão mental", canta o rapper. E, para já, devo parabenizar o escritor Beni pela grande coragem demonstrada, o que pouco fazem. O racismo é definida como forma de preconceito ou discriminação motivada pela cor da pele ou origem étnica, está enquandrada dentro dos conjuntos preconceitos - julgamento sem conhecimento da causa - e discriminação - ato de diferenciar, tratar alguém de modo diferente de outros por diversos motivos.
Ser preto ou negro, que mal tem isso? Eis a grande impoderação.
Parece um estrondo, uma explosão que ecoa em cada canto do mundo, quando aprecio através dos escritos o primeiro grito de desespero e tristeza do autor, que surge a partir do prefácio(1): "Este livro, foi escrito com lágrimas nos olhos, por eu não saber o que fazer para salvar todos os meus irmãos e irmãs, que sofrem racismo pelo mundo. Nunca imaginei que às cores das nossas peles, falariam mais alto, e que a melanina não seria apenas uma coisa normal dentro de nós, hoje, ela é aquela inocente que todos o julgam, também não contei que os abraços e beijos teriam escolhas de pele."
Entrando naquilo que o verdadeiro pensar fora da caixa, reflexões mais profundas daquilo que o racismo causa na humanidade. Por aquilo que vejo, ouço e penso, surgem aquele sentimento de dor, já parei pensando, a incógnita cala-se em minha mente: Por que é que o mundo é assim? Será que não somos todos seres humanos?
Ser dessa ou aquela raça, nada torna-nos inferior ou superior, mas infelizmente nem todos entendem, ou simplesmente desprezam, fazem o que bem entender e como quiserem, o mal que torna o mundo no avesso. Estamos acabando connosco sem darmos conta, tudo começa com a opressão ao próximo, a privacidade à liberdade, analisando aqui o trecho extraído do ensaio 2 - QUEM ACABA CONNOSCO?(2): "Mas nos últimos dias, penso deixar de defender a minha apologia de que quem acaba connosco é a vida, descobri que a vida só pode ser destruída por outro que tem vida. Entretanto, agora, penso que quem acaba connosco é o outro (homem). (...) Com este texto, quero dizer que não procura culpa em uma árvore, carro, casa e outras coisas no mundo, porque deles tens o domínio, mas deves se preocupar com o outro que muitas vezes procura o teu domínio, esse chamo o (homem) esse, sim acaba connosco..."
Racismo, racismo, o grande preconceito que parece uma músíca que emana o solo de muitas mentes. Milhões de negros sofrem por esse mau, parece que os brancos querem que o mundo seja apenas deles, que ninguém incomode-nos, que deixem-lhes em paz, sem colocar-se na frente nem por trás, quase que descrever, pretos fora do mundo.
África nunca foi uma selva, os pretos também são humanos como todos, possuímos uma vida, essa precisamos viver e desfrutá-la com prazer, dançar e cantar a liberdade sem opressão, tudo isso é vital, é um direito como seres humanos, não somos animais, pois, até mesmos os animais têm os seus direitos, seus devidos cuidados por lei. Trata-se de ofensa, sustentados pela longa diferenciação social ocorrida entre as raças que vem desde tempos, os negros são considerados o lado mais fraco. Parece uma curiosidade tentar descobrir o que realmente é ensinado sobre a África em outras partes do mundo, vale descrever aqui um excerto do ensaio 4 - QUEM MATOU GEORGE FLOYD?(3):
"Alguém uma vez comentou comigo, que o mal dos brancos é pensarem que África é uma selva(...)
- Beni, muitos acham África uma selva? — Sim, muitos, digo isso, porque alguns anos atrás, venho falando com alguns amigos nas redes sociais que me fazem perguntas do tipo: - Como falas Português e como é o telefone aí? E outros são mais ousados em perguntarem - Como estás a falar comigo, aí também existe telefone? Prontos! Acho que vocês perceberam do porquê."
Desde os tempos remotos, os brancos fizeram dos negros escravos, considerados por mercadorias, mas isso ficou lá no passado. A geração foi mudada, embora descendentes de escravos, nós não somos escravos, somos livres, livres. O negro também quer ser bem formado em grandes instituições, ter um lugar de destaque, livre para expor-se, livre para caminhar, mas acontece que o mundo nega esses direitos, quer voltá-lo na vida dos antepassados, torná-lo escravo e comercializá-lo. Quanto mais um ser humano, não vale desfrutar da vida? Será que deve ser existinguido dessa lei? Mais uma incógnita, qual é a resposta? Devemos pensar. Na segunda-feira enquanto fazia uma pesquisa sobre o tema no contexto da Sociologia, fiquei meio triste com o que li: Arthur de Gobineau (1816-1882) expõe, em seu Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, uma teoria de supremacia branca que afirmava a superioridade das raças brancas, estando em primeiro lugar as nórdicas, e decresce, hierarquicamente, até chegar ao que ele considerou o nível mais inferior: os povos negros oriundos da África.
Parece complicado tudo isso. Ninguém escolhe ser isso ou aquilo, é a vida fazendo a escolha, por que não aceitá-lo? Não somos culpados por ter uma melanina mais forte, por ser negros, foi a escolha da vida, nós orgulhamos-nos com isso, é a nossa grande herança, carregamos-os no sangue e no espírito. Será que isso torna-se um incómodo?
Os exaltadores do racismo parecem que nem importarem-se com os efeitos colaterais daquilo que fazem. Muitos nem olham nas consequências que isso pode gerar para a vida, especialmente a saúde mental, o que leva muitas vítimas às diversas complicações da saúde mental, já que desvalorizam a sua vida, aconchega-se naquilo que acha mais eficaz para a vida, estão incluídas o uso de drogas e outros. Pessoas que sofrem discriminação racial são propensas a desenvolver dificuldades emocionais e comportamentais, estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. São situações que comprometem diretamente a saúde mental e o bem estar das vítimas, pesquisas americanas relatam que os eventos estressores relacionados à raça podem ser considerados fatores de risco mais intensos para o sofrimento psicológico do que outros eventos estressantes. O génio Isaac Newton, descreveu "Toda acção tem uma reacção", considerada sua primeira lei, parece que muitos não avaliam essa teoria na verdadeira essência da vida. O negro é o assado e cozido, é o feiticeiro, é o próprio azar e mais, nossos irmãos nas americas choram e sofrem, o mundo não liga isso, sente que tudo merecemos, tudo devemos suportar sem reclamar. Privado do seu direito como cidadão. Não está certo, nem parece estar, o mundo pertence à todos, somos todos nós integrando o universo, para o bem-estar dele, é necessário valorizar cada cor que forma o espaço, cada raça, cada etnia, cada língua, enfim, cada ser humano, sem importar quem seja. Vários homens como Martin Luther King, Malcom X e outros, foram assassinados por defenderem seus direitos como negros e, prontos, a história continua, durante anos, milhões de negros são assassinados por razões parecidas. Até parece engraçado, é incrível ver como os causadores desses mal são unidos, unidos pela mesma causa, parecem mais um reino do que uma simples organização, e fico naquela de pensar - Nossa! Não seria ótimo usar a mesma força, a mesma união para melhorar o mundo ao invés de destrui-lo?
Não obstante, é saber que até entre nós os negros há racismo, um mulato chamar alguém diferente da sua cor de preto, alguém com uma pele castanha desvalorizar o albino, para alguns é muito normal, sem saber que é um mal, é bem assim que cultiva-se e exalta-se o racismo. Vale retratar aqui a experiência racista - incluída no ensaio 1 - SER NEGRO OU PRETO(4) - na qual o autor foi vítima na época em que treinava futebol, que por coincidência vinha de outro negro, certa vez após um treino maravilhoso, o treinador que segundo ele, parecia ser do norte do país, explicava-lhes o que poderíam fazer no próximo treino, antes de dispensá-lo, decidiu procurar quem deveria tirar os cones do campo, foi assim, que olhou para ele e disparou "Xeee, você, o mulato vai recolher todos os cones do campo, teus avós portugueses nos maltrataram muito.", o homem disse entre gargalhadas, foi um episódio que o fez refletir muitas coisas, creio que também esteja na base. O mesmo acontece com a desvalorização das nossas culturas e preferir as estrangeiras, o negro querendo ser um branco, desconsiderar a cor da nossa pele e os próximos, preferindo outros, tudo parece complicado. Sobre isso, ora vejamos um dos trechos do ensaio 3 - ESTAMOS A NOS MATAR(5): "- Nos matar Beni? - Sim, estamos a nos matar. Pode parecer um exagero dizer isso, mas é a verdade. (..) Por isso, o europeu se encanta com a África e o africano o mesmo com outros lugares. Não é só branco que é racista também existe negro racista, isso me faz perceber que queremos nos matar,mas sem necessidade porque para acabar com isso é apenas ignorar o exterior e olhar para o interior, os nossos sangues têm apenas uma cor."
É um assunto bastante ambrangente, o autor aponta diversos assuntos, todos são pesos na consciência, já não se sabe o que se quer com o mundo. Outro assunto a retratar é sobre aquilo que as nossas mães zunguerias passam - ensaio 6 - NOSSAS MÃES(6) -, creio que mereçam uma grande consideração por nossa parte sem desvalorizá-las, afinal de contas, desse negócio vem o sustento, acho ótimo que até os fiscais analisassem melhor, antes de cometer suas barbaridades. Não obstante, retratar do cabelo - ensaio 5 - MEU CABELO(7) -, é complicado como somos tratados por criar cabelo, para alguns parece errado um homem ter cabelo longo, somos complicados em diversos locais, o mesmo acontece comigo por ter o cabelo comprido, o engraçado ainda é saber que um branco com cabelo comprido aqui tem a liberdade total. Sou da ideia da consciência individual, desde que não viole os valores morais. E o que falar dos cristãos? O autor também deixa um conselho - ensaio 7 - NOVO JESUS(8) -, não podemos acreditar em tudo aquilo que dizem-nos, vale buscar sempre o discernimento espiritual para compreender, não bate certo aceitar tudo, por mais que vem do pastor, padre ou quem, pois, existem falsos mestres.
Dizemos querer mudar, mas o preconceito racial está falando tão alto, clamamos por mudança, mas odiamos o próximo, é assim que queremos mudar o mundo? Como? Como mudar o mundo desse modo, se usamos a vida como bombas nucleares para derrubar outras vidas? Como mudar o mundo, se as nossas mãos estão sendo usadas como armas para o mal? Hoje, nós, Negros, é que não conseguimos respirar e alguns brancos com empatia, estamos cansados de tanto ver nossos irmãos mortos na europa e nas Américas. (9)
Preto ou branco, somos todos irmãos, filhos do mesmo pai, como uma família, precisamos cultivar a união em todos os aspectos, não precisamos ser iguais, pois a diferença faz o mundo, mas precisamos ser idênticos na consciência de ser humanos, valorizar a vida e o próximo. Tudo isso precisamos reflectir mais a fundo, o nosso escritor faz uma grande apelo à mudança de mentalidade ao mundo todo, não importa ser preto ou branco, deixar de fora o preconceito, deixar de fora o racismo, todos abraçarmo-nos como um, libertar-se da escravidão mental, libertar-se da cegueira da consciência que assola. Como Martin Luther King, expressou publicamente o desejo da convivência harmónica e amistosa entre negros e brancos em “I have a dream”(10), isto é, “Eu tenho um sonho”, como pode ser visto no trecho abaixo: "Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: Consideramos essas verdades como autoevidentes que todos os homens são criados iguais"; assim gostaria de terminar a pequena tese com o refrão do poema "A UNIDADE NA DIVERSIDADE", escrito por mim em 2019, e retrata da união que tanto desejo para o mundo:
Meu irmão,
Dá-me a tua mão
Me mostra o teu sorriso
Aperte a minha mão…
Meu amigo,
Não importa quem tu és
Quero que sejamos apenas um…
Façamos a unidade na diversidade.
Notas:
(1) – Prefácio, ver página 10.
(2) – QUEM ACABA CONNOSCO?, ver página 14.
(3) – QUEM MATOU GEORGE FLOYD?, ver página 20.
(4) – SER NEGRO OU PRETO, ver página 11.
(5) – ESTAMOS A NOS MATAR, ver página 18.
(6) – NOSSAS MÃES, ver página 26.
(7) – MEU CABELO, ver página 24.
(8) – NOVO JESUS, ver página 28.
(9) – QUEM MATOU GEORGE FLOYD?, ver página 20.
(10) – Discurso de Martin Luther King, pronunciado em 28 de agosto de 1963 na capital americana, Washington, na marcha para manifestação em prol de direitos iguais para brancos e negros.