Resenha do Livro O que é marxismo

Felipe C.S

06/04/2021

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NETTO, José Paulo. O que é marxismo. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

CREDENCIAIS DO AUTOR

José Paulo Netto é formado em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, doutorou-se em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, também, é Doutor em honoris causa pela Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um reconhecido intelectual marxista.

O livro inicia relatando que nos cinquenta primeiros anos do século XIX - especificamente por causa da ideologização da Revolução francesa e das rebeliões operárias de 1848 - vem à tona conceitos que são chamados de razão moderna com todas as suas diferenças. A Revolução Industrial trouxe uma transformação drástica na administração do sistema de poder, ascendendo o mundo burguês com sua potência e materializando uma nova maneira de viver. Elas surgem ligadas ao que o autor denomina “questão-chave”, que se coloca no coração do povo - mesmo burguês - a revolução do proletariado. Durante esse período foi concebido um grupo cultural progressista, com um pensamento que valorizava a racionalidade, procurando um objetivo dinâmico da sociedade e da História. Nesse bloco cultural, a expectativa mais alta da burguesia está realçada na economia política inglesa e filosofia clássica alemã, o afastamento histórico de 1848 ratificou a sorte do bloco cultural progressista; a partir disso, os idealistas burgueses começaram a se utilizar de propostas românticas restauradoras para responder ao operariado e combater insurreições. Destacam-se três pontos: primeiro, a experiência marxista se privilegiou pela experiência cultural antecessora; segundo, Marx procurou mesclar o legado cultural com a interferência política proletária; por último, este movimento era mais amplo que sua expressão teórica marxiana (e marxista). E ainda existe o pressuposto histórico-social, que possibilitou o desenvolvimento do pensamento de Marx.

Outrossim, as interpretações da obra marxista são muito variáveis, ora conflitantes, ora complementares. O autor expressa que uma hipótese válida é que a obra marxiana é uma teoria da sociedade burguesa e que, as medidas tomadas por Marx se diferem pelo grau de efetividade e são condicionados pela sua experiência como teórico pelas lutas de classe proletária da Europa. A herança marxiana não tem regularidade e suas análises não se mostram igualmente válidas atualmente - o autor assevera que esta relação é, ao mesmo tempo, de continuação e quebra com os paradigmas existentes. O escritor, em certo momento, destaca dois pontos importantes: o primeiro é, o presente explica o pretérito, ou seja, o complexo ajuda a explicar o simples; segundo, o que distingue a tese marxiana é que ela toma a sociedade burguesa como um todo, ou seja, como um sistema que se contradiz dinamicamente, que se implica e explica estruturalmente. É colocado, de maneira presente, que para Marx o levante exige a ascensão do proletariado e que o extermínio do Estado burguês abre passagem a um nova ordem social, e que a transição socialista significaria uma democracia das massas. Essa nova ordem - socialismo - tem como base a "livre associação de livres produtores”.

Nos últimos anos da vida de Marx é que suas obras começam a ganhar destaque nas classes operárias, possuindo fronteiras mais amplas que suas tendências revolucionárias. Até o eclodir da primeira guerra mundial, o partido social-democrata alemão foi o responsável pelo movimento revolucionário operário. Com isso, a autoridade à Engels investida, contribuiu para estimular o nascimento do marxismo, postumamente a Marx. Na virada do século o marxismo deixou de ser homogêneo, surgindo opiniões diferentes que acabou ocasionando importantes divisões e, houve assim, algumas transformações pensadas por três importantes teóricos: R. Hilferding, Rosa Luxemburgo e Lênin - este último desenvolveu duas questões centrais do marxismo: o Estado e o partido político do proletariado. Com a decadência da Segunda Internacional houve uma divisão que até hoje se mantém separada, e são elas: a inspirada em Marx, que é conhecida como social-democracia e muitas vezes, encontram-se incorporadas no jogo político burguês; e a outra são os revolucionários que passaram a se denominar comunistas. Com o reformismo, há uma permanência acadêmica de Marx como sociólogo, economista, etc; intitulado pelo autor como uma “mumificação”.

Concordo que na obra é muito bem apresentado pelo autor os pontos de sucesso e de fracasso do marxismo. A priori, a teoria de Marx obteve grande êxito no campo cultural, trazendo e formando grandes intelectuais adeptos às teses marxianas como Rosa Luxemburgo, Lenin, Friedrich Engels etc. E igualmente, mostrou o lado fracassado quando não conseguiu manter um pensamento hegemônico em relação a suas ideias, fazendo assim, com que se desfragmentasse e perdesse muito de sua força. Da mesma forma, a obra mostra o quanto é volátil a tese marxiana e como se modificou; contudo, não se mostram, com a mesma validade, hodiernamente. Portanto, concluo dizendo que a tese marxista causa divisões, para uns utópica, para outros defasada - pois tem sua raiz no modo de vida primitiva-comunal - mesmo para a época que foi criada. Também se aproveita do sucesso de uma teoria, relativamente, bem sucedida para se apresentar como a antítese, mas acaba formando uma síntese demasiadamente diferente do pensamento de Karl Marx.

Felipe Valentim
Enviado por Felipe Valentim em 06/04/2021
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