Zimbra - Missão Apollo (análise)

Essa semana ouvi pela primeira vez uma banda que me fez apaixonar de primeira. Trata-se da banda Zimbra. A principio parecia mais uma banda de rock nacional com uma pegada mais leve e mais comercial que a maioria, mas quando comecei a prestar atenção nas letras e melodias vi que era mais que isso, e que – em termos gerais – é uma banda que sai da caixinha que baliza os estereótipos das bandas de rock nacional. Então decidi escrever uma análise da letra da primeira música que ouvi deles.

Ouvi a música poucas vezes e ainda tenho dúvidas sobre vários pontos portanto, sugiro que leia a letra da música antes do meu texto e tire suas próprias conclusões para então comparar com as minhas afinal, com uma pouca pesquisa nos comentários da publicação oficial da música no YouTube você pode ver que a maioria das pessoas tem interpretações diferentes dela. Ah, e também deixo claro que não sou religioso. Muito pelo contrário. Tentei me colocar no lugar do eulírico pra chegar as hipóteses abaixo.

No básico, em quase toda a música há duas hipóteses de para quem o eu lírico fala, e isso muda o significado que a letra pode ter. Escrevi as duas hipóteses paralelamente para que você veja qual delas faz mais sentido

A música chama-se Missão Apollo, banda Zimbra.

Antes de tudo temos que levar em consideração o nome da música. As Missões Apollo foram realizadas pena NASA entre os anos 1961 e 1975 com o objetivo de levar o homem à Lua. Em outras palavras: pra fora desse planeta. Essa informação vai fazer mais sentido depois.

“Eu sempre quis

Saber como era estar

Um pouco longe de você

Cresci assim, não mudei”

Esse é o primeiro trecho da música e ele já traz uma grande dúvida de interpretação minha. Quando ele fala de “você” pode está falando de duas pessoas diferentes: A primeira é alguém querido com o qual o eu lírico conviveu durante a infância. Como os pais, por exemplo. A segunda opção seria o próprio Deus.

Quando ele diz que sempre quis saber como era estar longe da pessoa, está falando de estar longe da proteção de alguém. Seja a proteção divida ou dos próprios pais. Ele (eu lírico) queria ver algo além das perspectivas que já tinha. Ver as coisas de um ângulo diferente e isso fica mais claro no segundo trecho da música.

“Eu quis te ver de lá de cima

Eu quis saber como era

A vista de um lugar melhor

Eu entendi porque que o cara

Pra quem vocês rezam tanto

Volta e meia se esconde por aí

Não aguentei ouvir”

Quando estamos imersos em problemas tendemos a ter uma visão de túnel e não perceber as soluções. Visto de cima tudo desimpressiona, fica mais fácil e lento. Um lugar melhor, acima dos problemas. O que também poderia revelar que o eu lírico queria estar perto de Deus, livrar-se de seus problemas para que junto com ele (Deus) pudesse ver a vida por um melhor ângulo – de cima. Acredito que esse trecho fale de morte. Mais especificamente, suicídio.

E quando ele fala que entendeu o porque que o cara para quem rezam se esconde talvez queira dizer isso mesmo – literalmente.

A verdade é que quando temos problemas é muito difícil ver o problema do outro. Ver as coisas de outro ângulo (de cima ou do ponto de vista de Deus) pode parecer legal no primeiro momento pela possibilidade de vermos soluções para os nossos próprios problemas. Mas a verdade é que uma entidade divina ideal enxergaria o problema de todos e não só o seu. E, colocando-se em seu lugar, poderíamos ver que os nossos problemas não são os únicos e nem os piores, e que eles tem solução. Às vezes, ele (Deus) “some” porque sabe que nossos problemas tem solução e que podemos resolve-los. Na verdade ele não sumiu, apenas sabe que não precisa interferir nesse assunto.

Seguindo a outra hipótese, ele pode apenas revelar a intenção suicida – como já dito anteriormente e revelado que por mais que os pais rezassem ele não sentia a presença divina.

“Eu quis voar pra muito longe

Mas você me segurou

E eu não pude mais ir

Fiquei pra ver”

Ele demonstra a clara intenção suicida quando diz que queria voar pra muito longe. Mas alguém o segurou (Deus? Os pais?). Quando diz que ficou pra ver, mostra sua desistência do ato.

“Vai ver que vocês

Rezam tanto sem saber”

Mais uma vez voltamos a bifurcação de hipóteses. Na primeira, ele pode expressar sua experiência de tentar ver as coisas na visão de Deus como uma intimidade singular. Vai ver que as pessoas rezam tanto para resolver seus problemas sem saber que elas mesmas são os atores principais e responsáveis pela própria felicidade.

Na segunda, vai ver que os pais rezam tanto sem saber que o tempo todo a intenção dele era se matar.

“Eu quis voar

E a gravidade não me autorizou

Eu descobri que

Não é fácil controlar

Algo que você planejou

E mesmo que o tempo fosse me ajudar

Descarto a possibilidade de esquecer

Que um dia vou te alcançar”

Mais uma vez ele fala de voar, mas dessa vez ele diz que a gravidade não o autorizou. Como a gravidade é uma descomunal força natural, acho que esse trecho reforça a primeira hipótese. De que canção é realmente um diálogo com Deus.

Quando ele diz que não é fácil controlar algo que você planejou, pode ter significado nas duas hipóteses. Na primeira: Não dá pra controlar os planos de Deus. Se Ele planejou que o eu lírico vivesse, ele não ia se matar. Na segunda, ele pode dizer que planejou se matar mas não foi fácil. Pode não ter sido fácil controlar o desejo da morte ou mesmo o desejo da vida.

O tempo “ajuda” qualquer um com problemas. Ele nos ajuda a esquecer. Mas o autor recusa-se a possibilidade de esquecer que um dia vai alcançar a Deus, que vai morrer. Mas dessa vez a morte tem tom pacífico e de reencontro. Não mais de desespero. É vista como algo natural e inevitável, não uma escolha.

O que você achou da minha interpretação? Com qual hipótese você concorda mais? Quais suas observações? Comenta aí!