Uma floresta de Amoras

GRÃOS DE MOSTARDA DE GIOVANNY DE SOUZA LIMA

APRESENTAÇÃO DA OBRA

por Osman Matos*

UMA FLORESTA DE AMORAS

Grãos de Mostarda (Amazon, 2017), não é a primeira publicação do poeta Giovanny de Souza Lima. Antes publicou em inúmeras antologias tanto em verso quanto em prosa. Ele vinha produzindo há alguns anos seus poemas, reunindo-os agora nesse volume.

Acho que o poeta foi muito feliz ao batizar toda sua produção poética com o título “Grãos de Mostarda”, que é a menor de todas as sementes sobre a terra. De fato, um grão de mostarda tem apenas um diâmetro de 0,95 – 1,1 mm. Esse grão de semente extremamente pequeno, que quase não pode ser visto a olho nu, no espaço de um ano se transformará num grande arbusto, numa pequena árvore com galhos de cerca de 2,5 a 3 metros. O poeta, ao fazer seus versos no dia a dia e não publicá-los por muito tempo, fez uma poupança literária que foi armazenada grão a grão, guardados nas gavetas do então anonimato, mas que agora, esses poemas ganham a força que remove montanhas: sabedoria, discernimento e reflexão amontoam-se, em seus versos, nas grandes montanhas de angústias, preocupações e problemas, que são muito comuns às pessoas, às famílias, aos cidadãos de um modo geral em qualquer parte do mundo. A gente se identifica e se vê nos pensamentos, nas indagações, nas dúvidas e nas certezas do poeta. Mas o poeta, como diz, Fernando Pessoa em “Psicografia” - “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente” - Embora pareça, nem sempre a expressão dos sentimentos em seus versos, seja a expressão do sentimento do poeta, mas do “Sentimento do mundo”, como na obra de Carlos Drummond de Andrade em que o poeta nos revela, principalmente, sua preocupação com as transformações de um mundo ameaçado pelo Nazismo e pela Segunda Guerra Mundial, e fragilizado também pela ditadura de Vargas. Em Grãos de Mostarda, há uma preocupação do autor com as transformações do mundo contemporâneo. “... a indústria da seca atormentando pedreiras humanamente sertanejas” - (“Cactos” - Pág, 19). Ou no valor da utilidade – que podem gerar “Mãos sinalizadoras de abraços repletos de ternura” ou “Mãos que produziram a Bomba Atômica” – em (Grãos de Mostarda de um dia triste – Pág, 22,23). E essa preocupação com o mundo é latente em “Mofo Geral” (Pag, 25), em que “O mofo dos ideias e ideias na contemporaneidade”, seja “menos execrável” que “o mofo esparramado nas paredes da sala de visitas de minha casa”

Também esse sentimento do mundo aparece nas “cercas das ideologias, dos partidos políticos, nos latifúndios, das gaiolas, dos silêncios, na xenofobia, nas cercas de medo e solidão” (AS CERCAS - (PÁG, 27). E também “no mundo que somos e não podemos ser o mundo que pensamos” (O MUNDO, PÁG 73).

Grãos de Mostarda também é um livro de homenagens, O poeta faz referências aos lugares onde nasceu e viveu e às pessoas do seio familiar. É um livro de “APRENDIZAGEM” (PÁG 41), “INDAGAÇÕES” (PÁG,42), ESCASSEZ (PÁG 45), CURA (Pág 86/87), PERPLEXIDADE (PÁG 91,92), INCERTEZAS (PÁG, 95)

Grãos de Mostarda é um livro plural, de temas diversos, que à primeira vista, parece não ter muita coisa a oferecer, como diz o próprio poeta: “Mesmo que meu poema contenha pouco ou nenhum encanto, não se exaspere! Os pássaros não deixarão de cantar” (GRÃO DE MOSTARDA, PÁG 89) mas através de uma leitura mais aprofundada oferece tudo o que tem, e por meio disso experimenta grandes resultados, com um grão de mostarda que se transforma numa bela árvore que irá dar continuidade à vida, produzindo milhares de grãozinhos de mostarda que semearão fé e esperança na vida. "Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível" (Mt 17.20). – ou citado pela religião budista: quando Buda conta a história de uma mãe enlutada e a semente de mostarda. Também no Alcorão, há referência à semente de mostarda: “Até o equivalente a uma semente de mostarda será contabilizado, pois Deus é o mais eficiente dos contadores.”

Até em textos judaicos comparavam o universo conhecido ao tamanho de uma semente de mostarda para demonstrar a insignificância do mundo e para ensinar a humildade.

Ou seja, a diversidade humana, religiosa e o sentimento do mundo estão presentes nos versos de Grãos de Mostarda de Giovanny Lima, mas o poeta pensa que quer “apenas plantar sementes como precário artesão das palavras, ” (GRÃO DE MOSTARDA, PÁG 89), mas na verdade o ele está disseminando uma floresta.

*Osman Matos é baiano de Ilhéus, domiciliad em João Pessoa-PB. graduado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, especialista em Língua Portuguesa. Professor, poeta, contista, romancista, compositor, publicitário, autor dos livros: “Bolhas de Sabão”, Protexto, Curitiba, 2011, de “Rio do Braço – Romance Histórico” (Mídia, João Pessoa, 2015), “A Viagem de Cristal”, EUA, Amazon 2017, “Poesia em Gestação”, EUA, Amazon 2017; “Pó, emas e outros poemas”, EUA, Amazon 2017; “Nanosmania” EUA, Amazon 2017; “Ribombos do Silêncio”, EUA, Amazon 2017 e “Poesia em Plena Pandemia”, EUA, Amazon 2017