Simplicidade exuberante

Universidade Federal de Goiás (2005)

Faculdade de letras/ Literatura infanto-juvenil.

LEONARDO DANIEL RIBEIRO BORGES

Simplicidade exuberante:

O arquétipo do herói em “Davi ataca outra vez” de Ruth Rocha (esboço)

O herói não pode ser invencível sem o teste, sem a prova, sem o desafio. O herói não pode ser maior que o mar, sem o risco de naufragar. Tudo se move e se faz como problema supremo. Acompanhamos o herói e não vimos sinais de certeza, mas temos a esperança no poder pleno e potente do herói. Nos contos de fada, nos desenhos animados, há algo que realmente merece nossa atenção: a simplicidade exuberante.

O que é simples se mostra ao mundo em singela condição, o que é simples é prático e natural e se mostra à percepção dos homens como a mágica que salta do trivial.

No campo das histórias, a simplicidade ultrapassa os limites de um primeiro entendimento e exubera–se em compreensão. Temos que enxergar em vez de ver, temos que escutar em vez de ouvir, temos que ser em vez de existir. A simplicidade exuberante está em muitas situações, é a condição para muitas reflexões, é a poesia não condensada em exclamações e sim espalhada por sugestões.

Entre tantos fatores focaremos neste artigo, o tamanho do herói em sua dimensão arquetípica, tomando como base a análise do livro “Davi ataca outra vez” de Ruth Rocha O herói é menor que o vilão, o herói não é e nem pode ser maior que o seu adversário. Isso porque se assim o fosse não haveria o combate titânico, do aparentemente invencível, gigante e tortuoso monstro com o herói, humano e aparentemente mortal.

Ninguém é herói sem ter lutado e vencido. E não é vencer uma formiga, mas sim vencer um Dragão, não é vencer um buraco, mas sim o abismo de tantos percalços. He-Mam é forte e musculoso, porém o que esperávamos mesmo era que ele lutasse com um gigante imenso e terrível, um dia ele lutou e venceu o Esqueleto que sob o efeito de mágica tornou-se um gigante, foi a melhor vitória, um dia ele puxou para Éteria uma nave espacial gigantesca, foi a melhor vitória.

Pikachu nega a evolução para Raíchu e continua pequeno e incrível, Peter Pan na Terra do Nunca, vive pleno e eterno numa transição perfeita entre adulto e criança, Pica-Pau, o anti-herói é pequenino. Teseu, Herácles, Perseu, as princesas e os príncipes são sempre menores do que o desafio, e depois são reis do mundo.

Agora, por que isso é assim? Isso é assim porque é bonito, sempre torcemos pelo mais fraco, queremos que o covarde perca, legiões de demônios alimentados pelo ódio, pela inveja, e pela insensatez não resistem a uma olhadela de luz de um anjo do Senhor, os anjos vencem as trevas pelo amor.

Ser pequeno no corpo é ser grande como gente, é estar no limite, na tensão da superação da condição humana, o herói é um semi-deus, está além do bem e do mal. Eros (AMOR) e Anteros (ÓDIO) são sempre crianças e nisso há sabedoria...

Dentro da psique há uma essência pequenina e livre que com a ajuda da Fada Madrinha pode derrotar o gigantesco Guardião do Tesouro Escondido, olhe pra si, descubra-se, “perdoe o que der pra ser perdoado, esqueça o que não tiver perdão”. A simplicidade exuberante é o pulsar do coração.