MEMÓRIAS DE UM CANHOTO DIREITO
“Sofri muito para aprender a escrever, uma vez que, mesmo sendo canhoto, a professora me obrigou a escrever com a mão direita. Sou canhoto para tudo, menos para escrever e, por esta razão, fui bastante castigado.” — Pastor Ramos
As páginas autobiográficas do primeiro livro do Pastor Ramos, intitulado "Memórias de um Canhoto Direito", que será lançado em breve, é incrementadas por várias crônicas que marcaram a vida desse nordestino paraibano, nascido na Itabaiana do Norte e radicado na cidade do Pilar, berço do grande romancista José Lins do Rego. Seu livro de estreia é um verdadeiro painel da vida de muitos outros nordestinos que, infelizmente, tiveram que deixar seu torrão natal, em cima de um pau de arara, em busca de uma vida melhor nas grandes metrópoles de nosso país.
O primeiro contato que tive com o livro do Pastor Ramos, como é mais conhecido o irmão Severino dos Ramos Silva, pastor presidente da Igreja Evangélica Cristã Congregacional de Pilar-PB, onde me converti em 1993, deixou-me a sensação de que estava lendo não um livro de um escritor principiante, mas uma verdadeira obra literária de um escritor habilidoso com o manuseio da palavra, que sabe narrar de forma objetiva, sem enfeites desnecessários, as memórias de sua vida, que retratam também às aventuras vividas por muitos outros nordestinos, espalhados pelo nosso imenso Brasil.
Asseguro que esse livro é mais gostoso do que as jacas de Chã de Areia, do que as mangas do Figueredo e do que as canas caiana do Sítio Corredor! Porque ele não é apenas um livro de memórias, mas um painel fulgurante, rico em detalhes, da vida do povo nordestino. Os costumes da vida do interior estão nele pintados em cores vivas, adornando de encanto e beleza a prosa paraibana, preenchendo assim uma lacuna deixada com a morte do poeta, historiador e cronista José Augusto de Brito, autor de “Pilar é História” e “Canções do Entardecer” entre outras obras literárias. O fato é que as memórias da infância do Pastor Ramos, retratadas nestas páginas, enriquecem a cultura de nosso país, de especial modo a cultura nordestina que precisa ser registrada, cada vez mais, para conservação da história de nosso povo.
O seu modo conciso, enxuto e objetivo de narrar os fatos fizeram-me lembrar o modo de escrever de um dos maiores escritores brasileiros, o romancista alagoano Graciliano Ramos, que soube, com maestria, descrever o cenário e o drama das famílias de retirantes nordestinos, em seus fabulosos romances, onde se destacam: “Caetés”, “São Bernardo” e, sua obra prima, “Vidas Secas”. Também me fez lembrar o grande poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto com o enredo de seu auto de natal “Morte e Vida Severina”. Onde diz o poeta pernambucano:
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
(João Cabral de Melo Neto)
E o pastor Severino dos Ramos realmente veio enriquecer a terra dos geniais Severinos: Severino Dias de Oliveira (o grande músico Sivuca) Severino de Andrade Silva (o poeta Zé da Luz) e Severino Rangel de Carvalho (o Ratinho da dupla musical Ratinho e Jararaca), somando-se entre outros Severinos que dão orgulho não só à querida Itabaiana do Norte, mas a todo vale paraibano.
Sinto-me honrado em escrever algumas linhas sobre essa obra tão impactante. Quem tiver o privilégio de ler esse livro não vai se arrepender. Suas páginas são recheadas de crônicas bem humoradas, como também de bom testemunho cristão. As suas experiências, como pastor, nos ajudam a refletir sobre a nossa vida e a nossa missão na terra. Enche-nos de esperança e nos alimenta a fé no único Deus vivo e verdadeiro que supre as nossas necessidades.
Parabéns, Pastor Severino Ramos! Seja bem vindo ao rol dos escritores pilarenses, itabaianenses, paraibanos, nordestinos e brasileiros. Mas, principalmente, ao rol dos escritores cristãos, que professam sua fé inabalável no nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Que Deus continue lhe abençoando com muita saúde, paz, inspiração, sabedoria e vida longa!
Um fraternal abraço.
Antonio Costta
(Poeta e escritor pilarense)