FRANKENSTEIN ou o Prometeu Moderno

Frankenstein ou o Prometeu moderno, é um romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico, escrito por Mary Shelley aos dezenove anos de idade.

A primeira vez que li esse livro foi há muitos anos numa versão resumida dessas edições de primeiras leituras, um texto bem raso. Talvez por não ser o texto completo, não consegui captar a essência e intensidade desta história fascinante.

Desta vez, lendo o texto completo numa edição bilingue, simplesmente amei esta obra. Foi como se estivesse lendo pela primeira vez.

Que texto!

Uma narrativa incrivelmente envolvente, com personagens intensos e que nos convida a fazer algumas reflexões acerca do ser humano, da sociedade, da liberdade, do amor, dos males que assombram nosso espírito e nosso destino.

Porém, publicá-la não foi algo fácil. O mercado literário que nunca foi muito aberto às mulheres, em 1818 era ainda mais exclusivo e dominado pelos homens. O trabalho de Mary Shelley foi rejeitado por vários editores e muitos ainda duvidavam de sua autoria, sugerindo que a criação pertencia ao seu marido, afinal Percy Shelley era um poeta bem conhecido. A primeira edição foi publicada anonimamente em três volumes, como de costume a época, e com o prefácio de Percy Shelley. Na segunda edição Mary já figurava como autora da obra e na terceira edição de 1831, talvez a mais popular publicada em volume único, ela escreve uma introdução que narra a sucessão de eventos que a levaram a compor a obra.

A edição que acabo de ler foi a primeira lançada em 1818, considerada por muitos especialistas a que conserva melhor o verdadeiro espírito da obra, pois ainda não sofrera as alterações e nem as revisões que a própria autora fez depois.

Confesso (é notável) que é com muita paixão que escrevo estas linhas. Esta história de certa forma me tocou desde a primeira leitura. Porém, relê-la dezessete anos depois me trouxe várias percepções e reflexões que eu não tinha tido anteriormente.

A começar pela genialidade da autora. Mary Shelley tinha apenas 19 anos quando escreveu esse romance. Através de sua história, ela cria não a penas uma brilhante narrativa, mas também um novo gênero literário: a literatura de ficção científica.

Filha de Mary Wollstonecraft , escritora inglesa do século XVIII, filósofa, defensora dos direitos das mulheres e de William Goldwy, jornalista inglês, filósofo, político, novelista, considerado um dos criadores do Anarquismo. Mary cresceu numa família de questionadores e isso estará presente em sua obra, pois seu livro apresenta alto teor filosófico e faz com que seja não apenas uma história de terror que perturba, mas também que comove e faz pensar.

Seu estilo é marcado por uma escrita elegante e sofisticada, mas sem ser presunçosa. Poética sem ser pedante e que prende o leitor a cada página com a envolvente cumplicidade das cartas. Através da narrativa epistolar, a autora utiliza-se do recurso estilístico do ponto de vista. Ora a voz narrativa é do criador, ora da criatura, ora do capitão que reconta a história que acabara de ouvir para sua irmã distante. Esse contar e recontar faz com que a narrativa ganhe alto teor de argumentação, deixando o leitor muitas vezes em dúvida em relação a que partido tomar, se do criador ou da criatura. Ou de ambos.

As personagens são intensas e de personalidades bem marcantes, como a meiga e bondosa prima Elizabeth, o amoroso e compreensivo pai Alphonse Frankenstein, o ingênuo e deslumbrado amigo Clerval, o orgulhoso e obstinado Victor Frankenstein e a enigmática e cativante Criatura, são alguns exemplos.

Considerado um grande romance do gótico inglês, movimento que se inicia na arquitetura da idade média e depois se expressa também na literatura, o texto de Mary Shelley apresenta as principais características deste estilo como certas visões do terrível na natureza, as tempestades fortes, raivosas, assustadoras, ambientes que sugerem terror, medo; comportamentos e situações estranhas e criaturas de origem sobrenatural. Porém, traz também marcas do romantismo, como valorização desta natureza imponente e grandiosa, da emoção, do instinto. A dicotomia entre o sagrado e o profano: que por um lado, apresenta um sentimento religioso muito forte e por outro a atração e fascínio pelo demoníaco, pelas ciências ocultas, sentimentos obscuros que podem levar o homem ao crime e a atitudes pavorosas. Um texto magistral, uma obra que merece ser lida.

RESUMO DA HISTÓRIA

Não irei expor aqui todos os detalhes do texto, meu resumo contém apenas as partes mais significativas para a análise, porém será inevitável revelar partes do enredo.

Tudo começa quando o jovem viajante Robert Walton durante uma expedição com destino ao Polo Norte, em determinado ponto de sua viagem após ser impedido de avançar por um bloqueio de gelo, encontra um homem em frangalhos num trenó quase à beira da morte. Este homem é resgatado e fica aos cuidados de Walton que havia acabado de escrever uma carta a sua irmã lamentando a solidão e a falta de ter um amigo íntimo.

O homem resgatado chama-se Victor Frankenstein e depois de algum tempo começa a contar a Walton sua história no intuito de lhe passar alguns conselhos. O relato começa com Victor contando sobre sua infância e sua educação, que fora livre e culturalmente rica. Desde a infância já se mostrava curioso e interessado em compreender os fenômenos naturais. Filho de família abastada teve a oportunidade de estudar em boa escola e ir à universidade.

Em seus primeiros passos nos estudos se aproximou de autores alquimistas, mas na universidade tornou-se estudioso das ciências naturais especialmente de química. Foi nesta época, vivendo afastado da família e mergulhado em estudos que Victor à medida que se destacava na universidade tornou-se obcecado pela investigação sobre a criação da vida. Dedica-se por quase dois anos a essa pesquisa e descobre, de modo não revelado na história, como reavivar tecidos mortos e então se empenha em um projeto quase suicida de criar um ser humano. Trabalho que lhe suga toda saúde física e mental, mas que conclui com êxito. Victor finalmente dá vida à Criatura. Porém, esta não é dotada de harmonia e beleza como ele havia imaginado e nem é uma pessoa ainda. Surge horrenda como um cadáver ambulante e só. Victor se apavora com sua criação, a rejeita e a abandona. A rejeição e o abandono, serão os primeiros sentimentos conhecido pela criatura e isso será marcante e determinante em seu destino.

A criatura some, depois de um tempo Victor decide voltar para casa de seu pai e descobre que seu irmão caçula havia sido assassinado. A pessoa culpada pelo crime é Justine, uma inocente criada e Victor logo descobre que o verdadeiro assassino é o monstro que ele criou. Mergulhado em sentimento de culpa e tristeza, Victor inicia um duelo com a criatura e com sua própria consciência. Não pode contar a todos o que realmente sabe, pois seria tido como louco e ao mesmo tempo não tem forças para enfrentar o monstro que criara. Desde a morte da mãe de Victor e as mortes de seu irmão e de Justine, a família se vê em um ciclo de desgraças e tristezas. Diante disso seu pai propõe que a família se retire para o campo por uns dias e então a família viaja. Num belo dia em que todos estavam descansando na hospedaria, Victor decide ir sozinho até o cume Montanvert e quando chega no alto vê que uma criatura gigante e horrenda o persegue, e que o encontro com seu monstro seria inevitável.

Para a surpresa de Victor e do leitor a criatura fala e diz que quer apenas conversar e pede para que Victor o escute sua história. E aqui inicia-se as páginas mais emocionantes da narrativa. Até então a autora deixa o leitor conhecer a criatura pelo olhar egoísta e obstinado de Victor e neste momento a Criatura tem a oportunidade de se apresentar e narrar o seu lado da história, numa sequência argumentativa objetiva, lúcida e envolvente. Ao se apropriar da vantajosa capacidade de linguagem que tem os humanos, a Criatura adquire autonomia de pensar e agir. E relata os eventos que se sucederam depois que deixou o laboratório de Victor e de como conseguiu sobreviver depois de ser rejeitado e abandonado pelo seu criador, de como aprendeu a observar a natureza e a si mesmo. Em sua busca em compreender o sentido da vida, chegou às questões inevitáveis: Que eu sou? De onde venho? Para onde vou?

Em sua trajetória em busca por respostas, conhece uma família de camponeses e lhes observa a certa distância. O cotidiano desta família inspira na Criatura desejo afeto, amor e compreensão. Porém, ao receber apenas preconceito, ódio e maus tratos das pessoas que cruzaram seu caminho, a Criatura desenvolve sentimentos de ira, revolta, inveja e ódio, nutrindo profundo sentimento de vingança contra Victor Frankenstein que o colocou no mundo e o abandonou sem lhe garantir o direito ao afeto e ao amor. E essa revolta o levou a cometer os mais perversos atos, inclusive o assassinato do irmão caçula de Victor.

Ao final da conversa a Criatura faz um comovente pedido ao seu criador, ele diz que apenas deseja uma companhia e pede para que Victor faça uma outra criatura fêmea para ser sua companheira, alguém como ele nas mesmas proporções e deformidades, alguém que possa vê-lo como semelhante e não o rejeite.

Mesmo depois de ouvir o emocionante relato, Victor não consegue perdoá-lo e sente repulsa por ele. E para se livrar da situação desastrosa que criara (ou até mesmo aliviar parte de seu sentimento de culpa). Apesar de reconhecer sua culpa em toda essa tragédia, sendo ele o criador do monstro e de certa forma culpado pelos desastres que se sucederam desde a conclusão de seu projeto, ele não consegue lidar com as consequências de seus atos. Mergulha num abismo profundo de depressão e amargura. Toda genialidade de seu ser é consumida aos poucos pelo duelo psicológico travado com a criatura, pois ele lhe deu a sobrevivência, mas não lhe garantiu a vida. E a criatura reivindica seu direito de viver e gozar daquilo que pode ser mais sublime no ser humano, o amor. E esse duelo entre criador e criatura, causará a morte de mais pessoas inocentes, trazendo mais tragédias para a sua família e levará Victor Frankenstein a ruína total. Obcecado e desafiado pela sua criatura, irá persegui-lo até o fim de seus dias, literalmente.

LEITURAS E REFLEXÕES

1) Os limites da ciência

Alguns elementos do contexto histórico presentes nos eventos que entrelaçam a trama, dão ao romance uma contemporaneidade que foi impactante na época e ao mesmo tempo se mostra atual até os nossos dias. Como por exemplo, os sentimentos controversos causados pelo avanço das pesquisas cientificas, sobretudo a medicina. Se por um lado ficamos maravilhados com descobertas que trazem curas para nossas doenças, por outro ficamos amedrontados com avanços que estão além da nossa compreensão ou que exigem uma reflexão ética e moral, como no caso das pesquisas sobre clonagem, por exemplo.

Até que ponto o ser humano pode e deve interferir na “criação” da vida? Esta reflexão está presente na obra de Mary Shelley começando com o próprio subtítulo “O Prometeu moderno”, referindo-se ao mito de Prometeus que na mitologia grega roubou o fogo dos deuses e deu aos homens, sendo violentamente castigado depois. Victor que a princípio é apenas um jovem estudante extremamente curioso, se torna um cientista obstinado esofre as consequencias de sua obstinação.

Desde a criação de vacinas, sucesso de transfusões de sangue, aos últimos avanços em pesquisas cientificas envolvendo o DNA humano e a criação de bebês com características escolhidas pelos pais, o debate sobre bioética e os limites da ciência são inesgotáveis. E já lá no séc. XIX Mary Shelley propunha essa reflexão de forma brilhante.

"Ninguém, a não ser aqueles que já experimentaram, pode experimentar a tentação da ciência." (Victor Frankenstein)

2) Homem versus Natureza

Esse embate está presente o tempo todo no texto, a natureza é apresentada de forma assustadora e bela, ao mesmo tempo temível e sublime, porém sempre como superior. As paisagens são descritas com minuciosos detalhes e sempre estão relacionadas com momentos de elevação da consciência dos personagens ou conforto psicológico para os mais diversos anseios da alma, ou seja, a natureza se coloca como inesgotável fonte da verdadeira cura. Se sobrepondo aos “pequenos” passos alcançados pelas recentes descobertas científicas época.

“... como eu já tinha me acostumado à chuva, á umidade e ao frio, decidi ir sozinho até o cume do Montanvert. Lembrava-me do efeito que a vista do imponente glaciar, sempre em movimento, produzira em minha mente quando vi pela primeira vez. Eu fora tomado por um êxtase sublime, que dava asas à alma e permitia que ela levantasse voo desse mundo sombrio em direção à luz e à alegria. A visão do terrível e do majestoso na natureza, de fato, sempre tivera o efeito de elevar minha mente e fazer-me esquecer das preocupações passageiras da vida.” (Victor Frankenstein, ao decidir escalar o cume do Montanvert)

3) Liberdade

A liberdade é posta em xeque. Afinal, somos livres? Ou a liberdade é uma ilusão que a natureza humana persegue?

“Ai! Por que os homens ostentam uma sensibilidade superior à dos animais? Isso só os torna mais necessitados. Se nossos impulsos se resumissem à fome, sede e desejo, seríamos quase livres; mas somos agora movidos por cada vento que sopre e por uma palavra casual ou uma imagem que aquela palavra possa transmitir.”

Tanto nesta como em outras passagens da narrativa, é sugerido que o conhecimento é ao mesmo tempo glória e ruína dos homens. Somos livres para pensar, porém os pensamentos podem nos trazer sentimentos que nem sempre controlamos, alegria ou tristeza não depende somente da vontade humana. As influências externas condicionam nosso estado de espírito.

4) A origem do mal e a exclusão social

A maldade nasce com o ser humano ou é condicionada pelo meio social? A história coloca uma reflexão sobre a natureza da maldade no ser humano. Seria o mal parte da natureza humana, ou uma característica adquirida mediante a privação de amor e aceitação?

O que a trajetória da Criatura nos sugere é que o mal não está na gênese do coração humano, ele é desenvolvido à medida que somos expostos a sentimentos malignos, de desprezo, ódio e rancor. A Criatura usa esse argumento em sua defesa, ao expor que desde o início deseja ser aceita e amada pelos humanos. Mas a superficialidade da sociedade vigente, julga pela aparência e condena tudo o que é estranho ou fora do padrão imposto.

O único ser que consegue ver a Criatura além de sua aparência e enxergar o amor e desejo de afeto que carrega em seu coração é justamente um cego. O velho da cabana se solidariza com sua dor, ao ouvir a criatura compartilhar seu imenso desejo de ser aceito, de receber afeto de poder dar todo amor que é capaz. Mas ao ser brutalmente rejeitada em várias situações, a Criatura desperta em seu coração ódio, ira e inveja por não ter direito ao amor que os outros têm. A partir dessa confusão de sentimentos negativos e intensos nasce o desejo de vingança que levará a cometer barbaridades em sua trajetória e a perseguir Victor Frankenstein, tornando-se uma criatura excluída, marginalizada e desprezada pelo seu criador e por todos com que tem contato.

Seria então a infelicidade que torna as criaturas más?

De todas as questões colocadas, essa foi uma das mais tensas do livro e confesso que não tenho uma opinião conclusiva a respeito. Todavia, a argumentação da Criatura é por demais coerente, o que me despertou uma forte empatia pela sua dor.

“Devo ser considerado o único criminoso, quando toda a humanidade pecou contra mim? Porque você não odeia Felix, que escorraçou de sua sua porta com desprezo alguém que era seu amigo? Por que você não odeia o camponês que tentou matar o salvador de seu filho? Não, esses são seres virtuosos e imaculados! Eu, o miserável e o abandonado, eu, o aborto que deve ser desprezado, expulso e maltratado. Mesmo agora me ferve o sangue, ao lembrar-me dessas injustiças.” (a Criatura)

E aqui podemos, fazer um paralelo com nossa sociedade contemporânea e talvez compreender melhor a história de Mary Shelley. Hoje acompanhamos a luta de mulheres, negros, homossexuais, indígenas, transgêneros para poderem simplesmente existir. O número de feminicídios aumenta a cada dia, vemos as manchetes dos jornais que denunciam o genocídio contra as populações negras e indígenas, a transfobia é uma realidade latente. Como essas pessoas podem se desenvolver plenas e felizes, livres de ódio e rancores numa sociedade que as exclui, marginaliza, persegue e mata? Talvez esses questionamento nos leve a compreender por que a felicidade plena não está ao alcance de todos. Difícil ser feliz sendo excluído por ser diferente e nutrido apenas de preconceito, ódio e rancor. A intolerância é uma motivação perigosa e muitas vezes letal. A sociedade pode até não ser a única forjadora do mal no ser humano, mas podemos ver que com uma visão medíocre do outro e falta de empatia com a dor alheia, contribui bastante para isso.

5) A solidão, um castigo.

Ao ler o relato tão comovente da Criatura sobre sua necessidade de companhia, ao pedir que Victor lhe faça uma fêmea, não seria exagero dizer que podemos até nos reconhecer em sua angústia. Pois, nós humanos passamos por um processo semelhante durante nossa criação e desenvolvimento. Nascemos sem pedir para nascer, trazidos a um mundo estranho, expostos a sensações nunca sentidas e temos de interpretá-las a princípio sozinhos. Depois aprendemos a linguagem, adquirimos um idioma, começamos nossa aventura ao descobrir e desvendar a vida, o mundo e desde o princípio buscamos por afeto e companhia. A aversão à rejeição e a busca por amor e completude calcam os alicerces da nossa existência. Com exceção daqueles que apresentam alguma patologia, ninguém gosta de ser rejeitado, julgado pela aparência ou excluído. De modo geral todos nós desejamos ser aceitos em nosso círculo social e amados pelos nossos pares. Talvez tenha sido intencional, talvez não, mas o com comovente relato da criatura, Mary Shelley nos convida a fazer uma profunda reflexão acerca da essência humana, como e por que nos tornamos o que somos, e porque buscamos sempre viver em sociedade e não ao contrário.

A desgraçada vida da Criatura, ilustra o que pode acontecer com qualquer pessoa marginalizada e condenada ao isolamento social por puro preconceito, medo ou falta de compaixão.

A solidão torna-se para a Criatura o pior dos castigos, afinal ao se transformar num verdadeiro demônio, não encontra companhia nem na maldade. Pois não encontra ninguém que consegue chegar ao nível tão profundo de crueldade em que chegou, nem mesmo seu criador que perdera todo seu senso de humanidade, pode alcança-lo.

6) O eterno duelo entre criador e criatura.

A tentativa de chegar ao conhecimento que ninguém chegou, leva Victor às consequências mais extremas. Ele se tona melancólico, obcecado e depressivo.

Durante toda a história vemos Victor fugir da sua criação. Desde o início ele aborta sua experiência e mesmo sofrendo crises de consciência e autojulgamento ético e moral, ele não tem coragem de assumir as consequências de seus atos e foge. Mas ao mesmo tempo sabe que o confronto com sua criatura será inevitável e toda sua tormenta só terminará com a morte de um dos dois.

Ao tentar imitar Deus, dando origem a uma vida bastarda, Victor sofre toda má sorte de amarguras, perdas e tristezas que o levam ao definhamento de toda sua vitalidade como ser humano e paga com sua vida por seu pecado. A partir da morte, Victor deu luz a uma infeliz existência e como consequência de sua audácia, pagou com a própria vida.

No distinto duelo entre criador e criatura, assistimos o despencar do fluxo vital nos dois. Ambos se elevam, ambos declinam. Não há vencedor, apenas ramificação de dor, tristeza e melancolia.

OUTRAS ABSTRAÇÕES

Leitura para reler e reler

Um clássico não se esgota em uma só leitura, por isso é um clássico. Por ser um texto que permite diferentes reflexões e cada vez mais complexas. Seja pela análise da estética literária, pela interpretação psicológica das personagens, pelo contexto histórico ou pelos debates que apresentam e que atravessam o tempo, sendo possíveis de serem desenvolvidos e ampliados em qualquer época.

Uma história perturbadora, onde sentimentos como tristeza, dor, tédio, melancolia, ódio, inveja, vingança, são apresentados de maneira reflexiva e nada superficial. Gosto desse terror clássico, que apresenta não apenas o sombrio, o medo, o sobrenatural para assustar o leitor, mas que através de uma narrativa bem elaborada e personagens bem construídos, nos revela um possibilidade de leitura sobre nós mesmos e nosso sentimentos mais ocultos e sinistros.

Simplesmente amei ter lido este livro e o farei novamente em outra oportunidade. Fiquei intrigada com a obstinação pelo conhecimento que o dr. Victor Frankenstein desenvolve e gostaria de entender mais esse ponto, sob o ponto de vista da psicanálise.

Por que algumas pessoas são extremamente curiosas desde a infância e outras não? Por que algumas querem ir além dos limites colocados e outras se contentam com o que está posto? Por que algumas conseguem oferecer afeto e ter empatia com a dor alheia e outras não?

O professor Marcos Bagno, pessoa que admiro muito, disse certa vez “A ciência não é a busca por respostas e sim por perguntas melhores”. Por que será que alguns teimam a vida inteira atrás dessas perguntas e outros aceitam qualquer resposta?

E para finalizar, confesso que terminei o livro com uma imensa vontade de ler tudo de novo. Mas farei isso em outro momento, pois preciso de outras leituras, para poder compreender melhor esta história incrível e tentar encontrar algumas respostas possíveis ou questionamentos melhores.

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Karina Guedes
Enviado por Karina Guedes em 13/10/2019
Reeditado em 09/11/2023
Código do texto: T6768816
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