O RESPIRAR DO METAPOEMA
“Sobreviverá minha Poesia, esquálido fio de linha suturando a ferida. Talvez o sopro do Imponderável. Joaquim Moncks, in ALÉM DO CORPO, no livro inédito O CAOS MORDE A PALAVRA, 2017/19. https://www.recantodasletras.com.br/metapoemas/6752433
“Excelente metáfora para a poesia: linha que sutura. Acho o resto desnecessário, a força da primeira definição é suficiente.” Elias Borges de Campos, interlocução pelo Facebook, em 14/09/2019.
Grato, querido poetamigo Elias Borges de Campos, com quem tenho trocado tantos anos de conversa e outros tantos de fios de linha de sutura. A cada vez que deixa suas interlocuções, há uma saudade minha dentro dele, sobre a qual o Elias, silenciosamente, deposita carinho, bondade, afeição, a resgata a alegria e a paz sobre meus mais íntimos neurônios, mesmo sabendo que o bom poema sempre lida com perplexidades, e acresce sobre o espiritual mais e mais questionamentos e reflexões. Elias Borges é um poeta que cultiva a terra fértil de somos constituídos e cuida da palavra como faz com as sementeiras, bem antes de as plantar. Aqui, meu poeta, eu poderia dispensar o restante dos versos que constituem o presente poema como sugeres, mas correria o risco de excluir os receptores eventuais, que chegam sem a devida intimidade com a Poética, muitas vezes porque navegam solitários de trocas, vivências e preparos para a trajetória das ideias e da palavra como signo de transformação do mundo fático, coisificação que acumulaste no andar no mundo. Prefiro deixar a proposta poética como está: a ferida convivendo dentro do seu invólucro pejado de felicidade composta de surtos, temores e esperanças, pois quem respira um metapoema como o que ora está posto, o faz mergulhado no caos, mordendo e urdindo a sua própria palavra de entendimento. O poemeto "esquálido", um fiapo de intelecção por sua sintetização verbal, pode não suportar o fio de linha, a ferida continuará a sangrar dentro dele, e o filete de sangue vivo não alimentará a possível transmutação que os códigos verbais possam conter como bálsamo. No mais, em Poesia nunca haverá uma "definição" sobre si própria, e, sim, mais uma vez, o filamento de prata nascido do aparente Nada, que nos faz bem próximos do divinal. Entranhemos o Absoluto em nós com sua força alada de mistérios. Possivelmente sejamos arautos somente no mais intimista e confessional desejo de dividir o pão da palavra. Amemo-nos em palavras e atos. Eis a riqueza sugerida.
– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 03; 2015/19.
https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/6752716