DESAFIOS ESTÉTICOS: ENTENDIMENTO, RITMO, PALAVRA

“CATARSE

Libertação de situação opressiva.

Pode desembocar no estado de Poesia.

O caos morde a emoção, se faz poema.

Joaquim Moncks – RS”

– Gilberto Nogueira de Oliveira, republicação no Facebook, 16h43min, 29Ago2019.

"CATARSE

Liberação de situação opressiva.

Pode eclodir em estado de Poesia.

O caos morde a emoção, fazendo-se poema.”

– reedição do poeta-autor, 18h13min, mesma data acima.

Especial e atencioso poetamigo! Peço que observes que alterei o texto inicialmente postado neste Face, ou seja, a versão que aparece em segundo lugar. Meu caro, peço atentares, na postagem do texto "CATARSE", acima:

1. Substituí a palavra "Libertação" por "Liberação", na abertura do texto, por me parecer mais veraz com o que tinha a dizer, também forte na intenção de melhorar a ritmicidade da peça. Parecem-me vocábulos que, para os efeitos de entendimento, no caso, possuem similaridade. A consoante dura "T" é pouco recomendável, seja em poesia ou prosa, visto que prejudica a ritmação – a sonoridade agradável ao ouvido, mesmo que se trate de uma aliteração, vale dizer, a repetição de textos consonantais. Tal consoante sempre fica prevalente em termos de ritmo, batendo como um interminável carrilhão de sinos roucos e prejudica o conjunto rítmico.

2. O verbo "desembocar" foi substituído por "eclodir", ambos no infinitivo. Com esta substituição, o texto ganhou em andamento, devido à supressão do vocábulo tetrassilábico "desembocar". Todos os polissilábicos arrastam a cadência rítmica, e, via de regra enfeiam a peça textual, especialmente se tratarmos de exemplar que se pretenda pertencente ao gênero Poesia. A eles eu chamo de "tartarugas gigantes a esmo", ainda mais se forem verbos da primeira conjugação (terminado em "ar") ou adjetivos, portanto, vocábulos átonos, sem maior incidência rítmica na frase, pela falta de peso cursivo quanto à tonicidade. No entanto, em todos os casos, a "tartaruga gigante" qualificativa obnubila, tira a força do substantivo, que é o vocábulo contextualmente mais importante do verso. A proposta verbal ganhou em ritmo com a utilização do verbo trissilábico "eclodir", da 3ª conjugação, a meu ver, ganhando o texto quanto à sonoridade.

3. O verbo "fazer", no gerúndio, deu melhor sentido ao que eu queria dizer e fechou a propositura com mais clareza: "fazendo-se poema", em comparação com a expressão apassivada "se faz poema". Faço este extenso comentário analítico em homenagem ao teu costumeiro trabalho de republicares em destaque, numa iniciativa que sempre me desafia e estimula a tentativa de chegar mais próximo da perfeição rítmica e, se possível, estética.

Bem, mas a última palavra é sempre a do poeta-leitor, aquele que se apossa do texto para comê-lo com prazer e gozo.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/19.

https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/6732945