HORIZONTES, livro de poemas de Ubirajara Anchieta - texto para a orelha da obra

(texto para uma das orelhas do livro)

A orelha, num livro, é um espaço muito tímido, limitado, para um poeta prolixo, quando enfrenta o prosaico. Porém, vou tentar atender ao gentil pedido do Ubirajara Anchieta, poetamigo de longa data. Delmino, um vate gaúcho, dos bons, escreveu um poemeto que tomei para mim, que cai como uma luva para “tatuar” a orelha do livro “HORIZONTES”, do Bira:

“Os poetas não têm biografia, / tem metáforas. Não têm paredes, / têm horizontes./.../ Não há ninguém mais frágil/ que um poeta./ É um indisciplinador de almas,/ por isto escolhe a margem/ para viver./ Escrever poesia é para ele/ uma forma de adiar a morte,/ deter as feridas e as sombras.”.

GRITTI, Delmino. Conc(s)ertos em dó maior para as perdas do espanto. Caxias do Sul: Longraf, 2008, 256 pág..

A arte poética do Delmino veste a capa do livro do Bira bem como é da natureza das luvas e dos protetores das orelhinhas das crianças: faz carícias e aquece contra o frio. Esta é minha intenção: velar para que os “horizontes” do mundo dos fatos recebam bem este outro “indisciplinador de almas”, que lança suas setas:

“O melhor está na linha d’água/ num perene vaivém/ de ausências e carinhos/ úmidos, aquecidos de sol/ sob a bênção do azul/ infinito do amor/ E a gota sedenta/ afogada no sal// Entre gotas e grãos, poema, pág.....

“... /a chama que incendeia minh’alma/ e inflama o papel/ vem da terra./ Precisa do ar/ e usa meu corpo,/ combustível de sangue./... Vertentes Interiores, poema, pág.....

“Esse céu que se fez vida/ acolhe uma estrela só/ é um cometa vaidoso/ que vive brincando de estrelas// Céu, poema, pág.....

“... Vai ver que num dia desses/montará um cavalo alado/ voará sobre a muralha e pousará naquela praça/ trazendo a paz celestial//... A liberdade, donzela cobiçada,/ mora junto ao livre-arbítrio/ no campo aberto da mente/ nas estrelas da vontade/ nos passos largos do homem.// Paz Celestial, poema, pág.....

“A cruz que nasceu comigo/ vai morrer dentro de mim./ou será que eu morrerei/ e a cruz não terá fim?// Cruz Humana, poema, pág...

Como vemos, os poetas “adiam a morte e são capazes de deter as feridas e as sombras”, como diz o primeiro instigador à indisciplina...

E tu, desconhecido poeta-leitor, que tal adentrares a esses HORIZONTES de que nos fala o Bira Anchieta?

Bem-vindo ao fervoroso gueto dos indisciplinadores!

Passo de Torres, SC, 09 de junho de 2019.

Joaquim Moncks, poeta e escritor,

membro titular da Academia Rio-Grandense de Letras, em Porto Alegre/RS, e Senador da Cultura, representando o Estado do RS no Congresso da Sociedade de Cultura Latina do Brasil – SCLB, sediado em Mogi das Cruzes/SP.

– Do livro inédito O PAVIO DA PALAVRA, 2015/19.

https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/6670726