“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.” (Clarice Lispector)
Na selva da nossa literatura contemporânea, onde alguns jovens autores parecem mais vocacionados à ânsia de se verem como celebridades para comungarem com elas, encontramos Carola Saavedra, uma escritora que traz em si o facho da aura mítica de Clarice Lispector e se encaixa como valiosa joia no fino estojo da palavra. Talvez, por saudade, exista essa tendência de associarmos boas escritoras que exploram um estilo reflexivo ao sopro da brisa de Clarice.
“Talvez um inevitável desencontro. Essa incoerência. Leia o texto como se fosse parte de um romance. Talvez seja isso, e quando o amor acaba resta apenas a ficção”.
Chilena, radicada no Brasil, Saavedra ensaia a metalinguagem numa narrativa que deságua no romance. É um rio fluindo ao encontro do oceano, um abraço metafísico.
“O livro é sobre uma mulher chamada Nina.”
É ao redor de Nina que a autora cerze os retalhos que criam os cenários e costuram uma história. Nina é o Big Bang que dá origem ao seu próprio universo, lugar em que testemunhamos o amor como exercício de frustração, a expectativa de um encontro improvável, um desencontro possível. E na colcha que nos envolve durante a leitura, convivemos com o tempo que nos oprime e imprime os rastros das histórias que contam outras histórias. Neste inventário de coisas ausentes há, principalmente, a presença da vida dissecada e remendada, como são todas as vidas.
“Nina não se sustenta em si mesma, precisa de ossos, uma estrutura que lhe dê concretude. Sem essa estrutura ela é apenas o espaço vazio, essa constante incerteza.”
Entre febris sentenças poéticas nasce a personagem. Acontece assim, talvez, por estarmos todos condenados a ser poesia espremida pela inevitável necessidade do concreto. A poesia é a gestante de todos os personagens, mas é a realidade inabitável que os envelhece e mata.
“Nina é a neta do reverendo. Filha de um pai ateu.”
No palco frágil de uma dicotomia ancestral, Nina se equilibra. Em sua companhia, está a humanidade tentando coadunar a herança que a sustenta, paixão e razão. Só há maniqueísmo no território estéril do pensamento.
“... nunca dei um soco em alguém, destruir, desfigurar um rosto, a mão coberta de sangue, como se a violência física pudesse dar vazão a outra coisa, uma violência muito mais arraigada. ”
Os personagens de Saavedra carregam aquele contraditório instinto que deseja romper a civilidade para alcançar a nossa barbárie imprevisível.
“Um homem só controla seus pensamentos se for capaz de controlar o próprio corpo...”
A literatura é sempre mais poderosa quando consegue formar a interseção entre o que somos e o mundo em que existimos. Quando quem escreve compreende que a palavra é ponte, está consumada a conexão. É costurando retalhos tão humanos, sem desprezar nem os fios soltos, que Carola Saavedra torna o seu livro uma peça viva, dotada da alma e do calor que diferenciam a obra de arte do fugaz entretenimento.
Na selva da nossa literatura contemporânea, onde alguns jovens autores parecem mais vocacionados à ânsia de se verem como celebridades para comungarem com elas, encontramos Carola Saavedra, uma escritora que traz em si o facho da aura mítica de Clarice Lispector e se encaixa como valiosa joia no fino estojo da palavra. Talvez, por saudade, exista essa tendência de associarmos boas escritoras que exploram um estilo reflexivo ao sopro da brisa de Clarice.
“Talvez um inevitável desencontro. Essa incoerência. Leia o texto como se fosse parte de um romance. Talvez seja isso, e quando o amor acaba resta apenas a ficção”.
Chilena, radicada no Brasil, Saavedra ensaia a metalinguagem numa narrativa que deságua no romance. É um rio fluindo ao encontro do oceano, um abraço metafísico.
“O livro é sobre uma mulher chamada Nina.”
É ao redor de Nina que a autora cerze os retalhos que criam os cenários e costuram uma história. Nina é o Big Bang que dá origem ao seu próprio universo, lugar em que testemunhamos o amor como exercício de frustração, a expectativa de um encontro improvável, um desencontro possível. E na colcha que nos envolve durante a leitura, convivemos com o tempo que nos oprime e imprime os rastros das histórias que contam outras histórias. Neste inventário de coisas ausentes há, principalmente, a presença da vida dissecada e remendada, como são todas as vidas.
“Nina não se sustenta em si mesma, precisa de ossos, uma estrutura que lhe dê concretude. Sem essa estrutura ela é apenas o espaço vazio, essa constante incerteza.”
Entre febris sentenças poéticas nasce a personagem. Acontece assim, talvez, por estarmos todos condenados a ser poesia espremida pela inevitável necessidade do concreto. A poesia é a gestante de todos os personagens, mas é a realidade inabitável que os envelhece e mata.
“Nina é a neta do reverendo. Filha de um pai ateu.”
No palco frágil de uma dicotomia ancestral, Nina se equilibra. Em sua companhia, está a humanidade tentando coadunar a herança que a sustenta, paixão e razão. Só há maniqueísmo no território estéril do pensamento.
“... nunca dei um soco em alguém, destruir, desfigurar um rosto, a mão coberta de sangue, como se a violência física pudesse dar vazão a outra coisa, uma violência muito mais arraigada. ”
Os personagens de Saavedra carregam aquele contraditório instinto que deseja romper a civilidade para alcançar a nossa barbárie imprevisível.
“Um homem só controla seus pensamentos se for capaz de controlar o próprio corpo...”
A literatura é sempre mais poderosa quando consegue formar a interseção entre o que somos e o mundo em que existimos. Quando quem escreve compreende que a palavra é ponte, está consumada a conexão. É costurando retalhos tão humanos, sem desprezar nem os fios soltos, que Carola Saavedra torna o seu livro uma peça viva, dotada da alma e do calor que diferenciam a obra de arte do fugaz entretenimento.